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Alessandro Baldoni

Vice-presidente da Morgan Stanley Dean Witter

Op-AA-23

A internacionalização melhora a atratividade da indústria

O setor sucroalcooleiro no Brasil vive hoje um momento de forte interesse por parte de empresas e investidores estrangeiros. Essa perspectiva positiva guarda algumas semelhanças e muitas diferenças com a última onda de atratividade, no período entre 2006 e 2007. Naquela época, a motivação principal era o etanol, que havia conquistado atenção global e desencadeou uma série de premissas otimistas sustentadas pela euforia.

As previsões eram de que, em pouco tempo, ele seria uma commodity global, adotada em boa parte do mundo. Com isso, foram anunciados por volta de 90 projetos de novas usinas, quase todas com capacidade para produzir somente etanol e voltadas para a exportação. A maior parte dos projetos estava concentrada na região Centro-Oeste, em especial no estado de Goiás, e contava com forte participação de empresas estrangeiras, seja como controladoras ou como investidoras minoritárias em projetos conduzidos por grupos tradicionais brasileiros.

O problema é que aquela região era e permanece carente de infraestrutura para escoamento do produto. Isso seria resolvido com os alcooldutos que seriam construídos, ligando Goiás aos portos do Sudeste. Os investidores e empreendedores tinham a intenção de vender etanol no Centro-Oeste até que a infraestrutura de exportação estivesse pronta, alguns anos mais tarde.

O que aconteceu foi que a região acabou se tornando fortemente superavitária, e os alcooldutos nunca ficaram prontos. Com isso, muitos projetos foram postergados ou até cancelados, e as perspectivas são de que ainda demore um pouco até que esse movimento de expansão retorne todo o capital investido.

O momento atual é motivado pela forte alta do açúcar em 2009 e início de 2010, com a commodity atingindo o pico em três décadas. Ainda se acredita que o etanol vá se tornar uma commodity global, mas isso não vai ocorrer no curto prazo. Pelo contrário, ainda deve levar alguns anos para acontecer.

Diferentemente daquela época, o atual contexto não está estimulando a construção agressiva de novos projetos. O movimento dos estrangeiros se dá na aquisição de usinas ou grupos existentes. Os negócios anunciados até agora, em geral, têm como protagonistas empresas que enfrentavam algum tipo de desconforto financeiro, o que melhora a liquidez do setor como um todo.

O processo de internacionalização é extremamente positivo para a indústria sucroalcooleira. As empresas de fora aportam não somente os recursos iniciais da aquisição em si, mas também novos recursos para expansão e investimento em tecnologias e processos. Além disso, podem trazer para o Brasil novas linhas de financiamento de instituições estrangeiras.

Os benefícios não se limitam ao capital. A presença de players que têm operações em várias partes do mundo também pode ajudar a acelerar a abertura de outros países ao etanol brasileiro, ajudando a acelerar o processo de internacionalização desse produto. Novos competidores com porte global também ajudam a desenvolver novas tecnologias que poderiam ajudar o setor a ser ainda mais eficiente, como o etanol de segunda geração.

Eles também poderiam acelerar os investimentos em cogeração e até em logística, que ainda é um dos principais desafios do setor. É importante ressaltar que o processo de internacionalização não ocorre somente por aquisições diretas, mas também por meio do mercado de capitais. Hoje, temos apenas três empresas de capital aberto, e a maior parte do float delas é formada por investidores estrangeiros.

A tendência é que a participação dos estrangeiros aumente, ajudando a consolidar o setor, e que essa consolidação leve novas empresas a abrirem o capital na bolsa. Investidores de ações de todas as partes do mundo têm elevado interesse em investir nesse setor, mas hoje se deparam com poucas opções. De modo que novas ofertas seriam certamente bem-vindas e, provavelmente, não enfrentariam dificuldades de colocação.

O setor de açúcar e álcool deve passar por um movimento que já ocorreu em outros setores da economia brasileira, em que a consolidação, ajudada fortemente por players internacionais, deve forçar todos os participantes a serem mais produtivos e competitivos. Disso resultará uma indústria mais organizada e atrativa, que gerará um retorno sobre o capital investido mais alto que o atual.