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Rodolfo Nardez Sirol

Diretor de Sustentabilidade da CPFL Energia

AsAA17

Baixo carbono
Em um momento em que governos e empresas se preparam para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 23), entre os dias 6 e 17 de novembro na Alemanha, cabe recuperar a importância do setor sucroalcooleiro para assegurar a sustentabilidade da matriz energética nacional.

Matéria-prima para o combustível limpo que move milhares de veículos no Brasil, a cana-de-açúcar tem potencial para ampliar a oferta de bioeletricidade no País, de tornar mais “verde” a indústria química – nacional e global – e ainda ampliar a oferta de gás – neste caso, biogás – para mover indústrias, veículos e residências.

O RenovaBio, gestado pelo Governo Federal em parceria com os usineiros, é uma iniciativa que vem ao encontro dos anseios do setor para estimular a cadeia do biocombustível, posicionando o País como um dos protagonistas da transição para a economia de baixo carbono. Segundo as metas estabelecidas no Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a reduzir em 37% as emissões até 2025, ano-base 2005, com uma possível redução de 43% das emissões até 2030.

Esse comprometimento cria um cenário benéfico para o setor, seja porque o etanol será essencial para atender à demanda automotiva, seja porque há potencial para avanços em geração de energia elétrica. Enquanto no mundo a indústria de carvão é a principal emissora de poluentes, a cadeia do petróleo é uma das principais responsáveis pelas emissões globais no setor de energia no Brasil, por conta, principalmente, do uso intensivo das rodovias, que respondem por cerca de 60% do transporte de produtos.

Para cumprir as metas da COP 21, o governo quer elevar a oferta anual do biocombustível – capaz de emitir 90% menos gases de efeito estufa em relação ao principal concorrente fóssil – de 28 bilhões de litros para cerca de 50 bilhões de litros em 2030. Indiretamente, o crescimento da oferta de etanol pode beneficiar o setor elétrico brasileiro, com o aumento da disponibilidade de bagaço de cana.

Em geração de energia elétrica, o governo brasileiro buscará elevar, até 2030, de 10% para 23% a participação no uso de fontes renováveis alternativas na matriz elétrica, ampliando o protagonismo da eólica, solar e biomassa. A energia oriunda do bagaço de cana tem poupado 11% do nível dos reservatórios do Sul e Sudeste neste ano, o que reduz o uso das termelétricas movidas a combustíveis fósseis, e gera energia para mais de seis milhões de residências, segundo estimativas da Unica – União da Indústria da Cana de Açúcar.

O potencial não explorado ainda é grande: mais de 10 GW médios, quase três vezes o aproveitamento da hidrelétrica Belo Monte. Há ainda outras vantagens para a expansão pela fonte: a maioria das usinas de açúcar e álcool está localizada no Centro-Sul, principal centro de consumo do País, reduzindo os custos com a transmissão da energia. As perspectivas positivas para a biomassa no setor elétrico revelam a necessidade de um olhar mais atento dos usineiros às novas oportunidades e aos novos cenários da indústria de energia em nível global. 
 
Um exemplo é o aproveitamento do processamento da cana-de-açúcar para a produção de biogás, dado o cenário de restrição na oferta de gás natural para uso não termelétrico. Outra frente promissora é o uso do etanol na indústria petroquímica, que começa a avançar em projetos baseados em álcool para substituir os derivados do petróleo.
 
Além de diversificar as fontes de receitas e possibilitar uma geração de caixa mais estável, esses novos negócios abririam novas frentes estratégicas para o setor sucroalcooleiro em um cenário de expansão da eletrificação da matriz de transportes global, com o avanço dos carros elétricos. Um estudo da CPFL Energia aponta que, em 2030, 5,3% da frota de veículos leves brasileira será elétrica.

Para que esse círculo seja de fato virtuoso, será preciso mudar o cenário atual do setor. Entre 2010 e 2015, mais de 60 usinas de açúcar e álcool fecharam as portas e, em alguns momentos, o País teve de importar etanol de milho dos EUA para abastecer sua frota interna. Com uma dívida estimada por bancos superior a R$ 80 bilhões na safra iniciada em março deste ano, o setor ainda sente os efeitos da falta de planejamento de oferta e demanda de longo prazo e da antiga política de preços do governo federal sobre o preço dos derivados de petróleo. Embora o RenovaBio
 
tenha como desafio retomar o investimento na expansão da oferta de etanol, o setor sucroalcooleiro deve manter-se atento às novas oportunidades para preservar a sua sustentabilidade empresarial. Se bem-sucedido nesse novo contexto, o setor criará caminho para o Brasil reforçar a sua liderança no agronegócio mundial, ampliando a participação na agricultura de baixo carbono.

Isso é uma tendência crescente em um momento em que mais de 500 empresas de diversos setores no mundo já consideram o preço interno do carbono nas suas tomadas de decisões e outras 700 planejam fazer o mesmo até 2018, segundo o CDP – antigo Carbon Disclosure Project.