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Prot von Kunow

Embaixador da Alemanha no Brasil

Op-AA-11

Commodity, sim. Mas, sustentável.

Hoje, já é possível prever que, num futuro próximo, existirão postos de distribuição de biocombustível acessíveis aos consumidores, espalhados nos centros urbanos, dos diversos países do mundo. Neste dia, temas como a redução da emissão de CO2 e efeito estufa não constarão mais da pauta principal de conferências internacionais.

Biodegradável e renovável, o bioetanol consolida-se como alternativa viável para substituir o combustível fóssil, escasso e poluente. As tecnologias de produção aprimoram-se, as pesquisas intensificam-se, os mercados abrem-se e a chamada “energia verde” é cada vez mais uma realidade. Tendo em vista os compromissos assumidos pela Alemanha com o meio ambiente e sua proteção, é com entusiasmo que vemos a consolidação de fontes de energia menos poluentes e renováveis, como substitutivo do combustível fóssil, comprovadamente nocivo ao planeta. No entanto, é preciso assegurar que a produção do biocombustível seja feita de forma sustentável, respeitando os padrões ecológicos e sociais.

A população alemã é bastante consciente da importância de se cuidar do meio ambiente hoje, a fim de garantir a sobrevivência das gerações futuras. Uma política ambiental fundamentada no desenvolvimento sustentável, na preservação da natureza e na adoção de medidas que minimizem as alterações climáticas no mundo, constitui, há décadas, uma preocupação nacional.

A Alemanha tem participado ativamente nas negociações de acordos internacionais na área ambiental e já cumpriu totalmente o compromisso assumido no âmbito do Protocolo de Kyoto, em relação às emissões de gases poluentes. O país é pioneiro no uso da energia solar e campeão mundial de energia eólica e de biodiesel.

O governo alemão pretende substituir o uso de combustível fóssil por biocombustível em 8% até 2015, enquanto que a meta da União Européia é realizar a substituição de 5,75% do consumo até 2010. A Alemanha já vem desenvolvendo, de forma considerável, a produção de biocombustível, com uma capacidade de produção de mais de 3 milhões de toneladas.

Quanto à pesquisa, a Alemanha concentra-se na chamada “segunda geração” de biocombustíveis, o chamado “BtL” (Biomass to liquid), pelo menos 90% menos poluente que o combustível fóssil. No entanto, nos próximos anos, os biocombustíveis de primeira geração, como biodiesel e bioetanol, continuarão sendo os mais utilizados.

O inverno europeu deste ano chamou a atenção do mundo inteiro para o aquecimento global. Muitos campeonatos de esqui tiveram que ser cancelados, numa prova visível de mudança climática e um alerta para que haja ainda mais conscientização sobre a questão ambiental. A bioenergia surge como alternativa de combustível não poluente e economicamente viável, e o Brasil possui grandes oportunidades nesse mercado. Recentemente, a União Européia acenou ao Brasil com a possibilidade de assinar um acordo, a fim de que o etanol entrasse na Europa, com condições tarifárias favoráveis.

Atualmente, o Brasil é o líder na produção de bioenergia, mais especificamente o bioetanol, uma vez que vem provando possuir competência técnica para permitir e estimular a utilização do bioetanol, em substituição dos combustíveis fósseis. São internacionalmente reconhecidos os avanços conseguidos pelo Brasil, em matéria de adaptação de motores ao uso do bioetanol. Além disso, especialmente no estado de São Paulo, surgiu um cultivo de cana-de-açúcar, respeitando-se os padrões sociais.

Muito embora o etanol possa ser produzido a partir de diversos tipos de biomassa, resultantes de outras fontes igualmente disponíveis no país, o Brasil detém ampla experiência no cultivo da cana-de-açúcar, que se revelou uma das matérias-primas mais rentáveis na produção de etanol. A cana-de-açúcar apresenta vantagens notáveis e tem sido utilizada até mesmo na recuperação de áreas comprometidas pela erosão.

É possível prever que haverá um aumento notável do consumo de biocombustível no mundo. O Brasil é, de longe, o país melhor aparelhado para sair na frente da conquista dos mercados que deverão se abrir. Atualmente, a produção é preponderantemente restrita ao mercado interno. Apenas de 10 a 15% do bioetanol produzido é destinado à exportação. A tendência é que esses números aumentem, em função da demanda internacional, abrindo novas oportunidades de crescimento para a economia brasileira.

O etanol tende a se tornar um item importante da pauta de exportação do país. A tendência é que o bioetanol se torne uma importante commodity na balança comercial brasileira. Ao mesmo tempo, abrem-se oportunidades consideráveis para a exportação de tecnologias, ligadas ao ciclo de produção e ao consumo de bioetanol.

Produzido de forma sustentável, respeitando critérios ecológicos e sociais, o bioetanol poderá constituir um fator de grande importância para a economia mundial futura. As reservas conhecidas de petróleo, além de estarem diminuindo rapidamente, estão localizadas, muito freqüentemente, em áreas de instabilidade política. Nesse contexto, o bioetanol desponta como uma commodity capaz de suprir carências fundamentais na economia mundial, evitando a instalação de ciclos de crise energética.  

Restam, porém, algumas questões fundamentais a serem superadas. Um desafio é viabilizar o transporte da produção. No Brasil, torna-se necessário um grande investimento em infra-estrutura, a fim de otimizar os transportes terrestres e portuários, facilitando a chegada da produção nos grandes centros consumidores.

A distância que separa a zona de produção e os postos de abastecimento de outros continentes é grande. Contudo, nenhum caminho é demasiado longo, quando o objetivo final traz sensíveis recompensas, não só para a ecologia, mas também para a economia. Alemanha e Brasil têm comprovado que vale a pena acreditar na bioenergia.