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Mauricio Tiomno Tolmasquim

Presidente da Empresa de Pesquisa Energética

Op-AA-12

A energia renovável (em especial a cana) no balanço energético brasileiro

As fontes renováveis continuam com papel destacado na matriz energética brasileira. Segundo os dados preliminares do Balanço Energético Nacional – BEN, do ano de 2007, divulgados há poucas semanas, pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, a oferta interna de energia (OIE) total no Brasil, em 2006, atingiu 229,7 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo).

Deste total, 101,9 milhões de tep, ou 44,4%, correspondem à oferta interna de energia renovável. Essa proporção é das mais altas do mundo, contrastando significativamente com a média mundial (13,2%) e, mais ainda, com a média dos países que compõem a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos – OCDE (6,1%), formada, em sua grande maioria, por países desenvolvidos.

No Brasil, a década de 70 foi marcada por grande substituição da lenha por derivados de petróleo, o que reduziu significativamente a sua participação na matriz energética. Apesar disso, a participação da energia renovável na oferta interna de energia manteve-se elevada ao longo dos anos, passando de 50,9% em 1973, para 44,4%, em 2006. A redução da participação da lenha, de 38,8% para 12,4%, foi compensada por um forte incremento da participação hidráulica, que subiu de 6,1% para 14,6%, e dos produtos da cana-de-açúcar, passando de 5,7% para 14,4%.

Com essa expressiva participação da energia hidráulica e da biomassa, a estrutura da oferta de energia do Brasil proporciona indicadores de emissões de CO2 bem inferiores à média dos países desenvolvidos. No país, o nível de emissão é de 1,58 ton de CO2 por tep, enquanto nos países da OCDE, a emissão atinge 2,37 ton de CO2 por tep. No mundo, o indicador chega a 2,34 toneladas de CO2 por tep, 50% maior que o brasileiro.

Em relação a 2005, a oferta interna de energia renovável no Brasil, em 2006, cresceu, em termos absolutos, em todos os tipos de energéticos que a compõem, sendo que a participação dos chamados “produtos da cana-de-açúcar” praticamente se igualou à da energia elétrica de fonte hidráulica, com crescimento de 9,7%. O percentual reflete os efeitos sobre a produção de etanol, que cresceu 10,8%, e sobre a produção de cana-de-açúcar, que cresceu 12%.

O crescimento na produção de açúcar foi ainda mais elevado no período: 17,8%. A participação dos derivados da cana na oferta interna de energia renovável no Brasil passou de 31%, em 2005, para 32,4%, em 2006, prati-camente se igualando com a hidráulica e repre-sentando 14,4 % da oferta interna de energia total. Devido ao forte crescimento das exportações de etanol em 2006, que alcançaram 3,36 bilhões de litros (um crescimento de 50%, frente ao período anterior), os produtos da cana-de-açúcar não alcançaram a primeira posição na oferta interna de energia, mas em termos de produção de energia primária, superaram a hidráulica, representando uma participação de 17,4%.

No que diz respeito ao cenário futuro, a participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira deve se manter no patamar atual, sobretudo graças ao aumento contínuo da participação dos produtos da cana-de-açúcar na matriz energética brasileira – e, em particular, do etanol. Cabe dizer aqui que o Brasil está em situação privilegiada, no que tange ao “combustível verde”, pois o etanol atingiu custos competitivos com a gasolina, nesses 30 anos do Programa Nacional do Álcool, como resultado dos avanços tecnológicos incorporados pelo setor sucroalcooleiro nas áreas agrícola e industrial.

Outro incentivo foi a entrada do automóvel bicombustível no mercado, aumentando a base de consumo e apresentando uma oportunidade única para os produtores de álcool. Este importante fator novo, de demanda flexfuel, introduz um mecanismo regulador dos mercados de álcool e gasolina. Devido ao cenário internacional favorável de aumento de demanda de etanol, aliado ao potencial de expansão agrícola brasileiro e ao grau de maturidade da indústria sucroalcooleira nacional, observa-se uma oportunidade para as exportações brasileiras, não apenas do produto, mas também de equipamentos e tecnologia.

Estima-se que, nos próximos 10 anos, ocorrerá um aumento entre 3 a 4,7 milhões de hectares de área plantada de cana-de-açúcar, com investimentos na expansão agrícola da ordem de R$ 12 bilhões. Com isso, prevê-se a instalação de aproximadamente 151 novas usinas, a partir de investimentos da ordem de R$ 21 bilhões. A capacidade total de moagem pode chegar à marca de 732 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que, processadas, produzirão cerca de 37 bilhões de litros de etanol e 41 milhões de toneladas de açúcar, na safra 2015/2016.

Para garantir a expansão da cana-de-açúcar e o surgimento de novos pólos no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, há necessidade de pesquisa e desenvolvimento de novas variedades mais produtivas, resistentes às pragas e adaptadas às regiões mais áridas, além do melhoramento genético e do desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos agrícolas.

Outra questão importante é a busca de parcerias com os demais países produtores de cana-de-açúcar, visando à transferência de tecnologias para o melhor aproveitamento da cana, voltado para a produção de etanol, bem como a negociação com os países de grande demanda, como os Estados Unidos e União Européia, na definição de especificações técnicas internacionais para esse produto, com o objetivo de evitar que barreiras tecnológicas e não-tarifárias venham a restringir as exportações do etanol produzido no país.

A revitalização do mercado doméstico e as perspectivas de aumento das exportações do etanol combustível apontam para a consolidação da agroenergia, em particular da cana-de-açúcar, como o agronegócio da próxima década, com possibilidade de transformação desse produto em uma commodity de grande aceitação no mercado internacional.