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Fábio de Salles Meirelles

Presidente do Sistema Faesp/Senar-AR/SP

Op-AA-03

A infra-estrutura trava o agronegócio

A perspectiva positiva de expansão da produção brasileira de produtos agropecuários é consenso entre os atores das cadeias produtivas mais dinâmicas do agronegócio brasileiro. As projeções de crescimento da demanda por alimentos, principalmente, nos países em desenvolvimento, sinalizam que o comércio de produtos agropecuários crescerá e o Brasil é um dos países com maior potencial para atender essa demanda, onde se inserem os sub-setores de grãos, proteína animal, frutas, açúcar e álcool, biocombustíveis, entre outros.

Internamente, se mantidas as expectativas de crescimento da economia e de elevação da renda média da população, esses fatores também impulsionarão a produção. Infelizmente, esse cenário positivo vem acompanhado do temor de que as deficiências da infra-estrutura logística limitem o potencial de expansão do nosso agronegócio. Sem dúvida, os gargalos existentes na nossa infra-estrutura representam uma das mais sérias ameaças ao agronegócio nacional.

Os principais problemas são: portos saturados, rodovias em péssimas condições, baixa capacidade de armazenamento, concentração do escoamento no modal rodoviário, reduzida malha rodoviária, etc. Algumas estimativas dão conta de que, se a produção de grãos ultrapassar o nível de 130-140 milhões de toneladas, começará a haver estrangulamento no escoamento, com filas de caminhões, atrasos nas exportações, aumento nos custos de transporte e, conseqüentemente, perda de competitividade dos produtos brasileiros.

Cerca de 63% da produção brasileira de grãos é transportada pelo modal rodoviário, enquanto 24%, são por ferrovias e 13%, por hidrovias. Essa matriz eleva, consideravelmente, o custo de escoamento da produção, fazendo com que parte das vantagens comparativas geradas “dentro da porteira”, pela qualidade dos produtos e pelo baixo custo de produção, sejam perdidos nas fases seguintes da cadeia de produção.

Não basta ser competitivo “dentro da porteira” se as vantagens já adquiridas são perdidas ao longo da cadeia de produção. A competitividade das cadeias produtivas depende da eficiência de todos os seus elos e, atualmente, os gargalos da infra-estrutura logística estão drenando recursos que poderiam ir para o bolso dos produtores.

A situação das nossas estradas, que perfazem 165 mil quilômetros de pavimentação, segundo as estatísticas disponíveis, é extremamente preocupante, pois 80% delas apresentam condições regulares ou ruins, marcadas por trechos com buracos e afundamentos. Isto eleva o custo dos insumos e o custo de escoamento da produção, bem como reduz as receitas da propriedade e impacta substancialmente o resultado das empresas agrícolas.

Então, por um lado, tem-se a elevação do custo de produção e, por outro, o produtor tem suas receitas reduzidas devido à perda de qualidade e rendimento dos produtos, atrasos de entrega, perdas nas estradas, etc. São riquezas produzidas que não se convertem em receita. Nos outros modais, os problemas também são evidentes. O transporte hidroviário poderia contribuir para reduzir o tráfego rodoviário e o custo de movimentação de cargas, no entanto, o Brasil explora apenas 25% do seu potencial, de aproximadamente 42 mil quilômetros.

O transporte ferroviário ainda se recente da falta de investimentos em novas linhas e na manutenção e melhoria das existentes, fruto da política pública de desenvolvimento da indústria automobilística, desde a década de 50. No transporte marítimo, temos problemas devido à baixa produtividade na movimentação de cargas, falta de contêineres, dificuldade de reserva de navios para muitos destinos e baixo nível de interligação entre este modal e o demais.

A interligação facilitaria a conexão das áreas de produção aos portos, dando celeridade à movimentação de cargas e reduzindo o custo de transporte. O agronegócio é extremamente dependente da infra-estrutura logística pois movimenta um grande volume de produtos, distribuídos por todo o interior do Brasil, necessitando, para tanto, de capilaridade no sistema para dar vazão à produção.

Neste contexto, é necessário estabelecer uma política de investimentos na área de infra-estrutura para contornar os gargalos citados. Uma das maneiras de se implantar essa política é através de parcerias com o setor privado. Mas é preciso criar condições para que a iniciativa privada empreenda, assegurando o cumprimento dos contratos e a exploração dos empreendimentos por períodos que viabilizem o retorno sobre os investimentos aos empresários.

Contudo, apesar dos esforços isolados de conservação e melhoria das estradas vicinais, realizados por alguns Estados e Municípios, o setor público não pode se eximir da sua responsabilidade, promovendo continuados investimentos, pois ele deve permanecer como o grande investidor em infra-estrutura. O Governo Federal lançou planos de revitalização da rede ferroviária e descontingenciou recursos para a melhoria das estradas, mas ainda é uma ação muito limitada.

O Brasil demanda políticas muito mais agressivas no que concerne à infra-estrutura, resgatando a visão de desenvolvimento e planejamento de longo prazo, contemplando os interesses nacionais, o cenário de integração regional, a abertura dos corredores bioceânicos e o equilíbrio entre os modais de transporte. O agronegócio precisa de ações práticas e imediatas para continuar avançando.