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Holger Brauer

Diretor da Divisão de Turbinas a Vapor da Siemens

Op-AA-22

Etanol e bioeletricidade: potencial para reduzir a emissão dos GEEs

As mudanças climáticas e suas consequências representam uma grande ameaça para a humanidade. É preciso agir com urgência. Felizmente, hoje em dia, não se questiona mais o fato de que a emissão de dióxido de carbono tem um impacto significativo no clima e é uma causa do aquecimento global. Mas mesmo os mais novos modelos de cálculo não podem prever com certeza as consequências reais que tal problema vai trazer para todos.

Por essa razão, o mundo inteiro está se mobilizando para limitar e reduzir a emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
Países como os Estados Unidos ou a China, que antigamente se mostraram mais preocupados com o crescimento da economia do que com as consequências de suas atividades econômicas sobre o meio ambiente, estão reavaliando essa posição e aplicando mudanças em suas políticas ambientais.

O Brasil, como um país que já tem uma ampla experiência e muitas referências para uso de energias renováveis, tem tudo para assumir uma posição de liderança nesse novo cenário. O etanol e as energias produzidas à base de biomassa são fatos no Brasil, mas não chegaram perto do potencial com que eles poderiam contribuir para a matriz energética no Brasil e no mundo.


Após a introdução do carro flex, o etanol se estabeleceu no Brasil como alternativa real para a gasolina. Infelizmente, ainda existem muita resistência e barreiras fora do país para o uso do nosso combustível verde.  As exportações, em vez de crescerem, caíram ao longo do ano. Apesar de todos os trabalhos dos representantes da indústria brasileira de açúcar e etanol, o etanol brasileiro ainda está sendo visto de forma negativa.

Existem os preconceitos quanto ao seu modo de produção; alguns ainda creem que, ao aumentar a plantação de cana, estamos cortando a floresta amazônica, entre outros mitos difundidos. Precisamos de um amplo trabalho de comunicação para mostrarmos no exterior que a realidade brasileira é outra.
Medidas como a demarcação das áreas permitidas para plantação de cana e auditorias dos produtores de etanol por entidades independentes, aptas a verificar e certificar a produção do nosso etanol como sendo baseada em processos e critérios sustentáveis, sem impacto negativo para o meio ambiente, são exemplos de medidas bem-sucedidas nesse caminho e nos ajudam a eliminar esse preconceito.

Etanol não virou uma commodity ainda. A demanda global precisa crescer, assim como é importante o desenvolvimento da produção do etanol em outros países, especialmente nos países vizinhos na América Latina e na África, onde também existem condições climáticas favoráveis para a plantação de cana. Baseado nas experiências do Brasil, pode se desenvolver o etanol como alternativa para a gasolina, gerando empregos e renda para pessoas na área rural.

Em paralelo ao etanol, estamos aumentando a geração de energia elétrica baseada em biomassa e, em especial, bagaço de cana-de-açúcar. Houve uma mudança muito grande no conceito das usinas de açúcar e etanol, antigamente projetadas para serem autossuficientes, mas sem a perspectiva de exportar a energia excedente.
O bagaço, um resíduo do processo de fabricação que precisava ser queimado de qualquer forma, virou combustível com valor para a termelétrica.

Uma usina nova está sendo projetada, hoje, com uma geração própria na faixa entre 50 e 100 MW, usando equipamentos de alta eficiência, como caldeiras e turbinas de alta pressão, entre outros, que permitem a venda de, aproximadamente, 50% da energia gerada para a rede. Aplicando esse mesmo padrão de eficiência energética para as usinas mais antigas, poderíamos aumentar muito o potencial de geração nas usinas, mesmo sem investir em novas plantas - greenfield.

Após a entrada de muitos recursos nesse segmento, nos anos 2007 e 2008, o investimento teve uma retraída, e, com isso, o processo de modernização das usinas foi interrompido. Um problema é a falta de capital para investimentos, em função da crise financeira e um processo de consolidação na indústria. Mas, fora isso, ainda faltam condições claras para investidores. Investimentos que foram considerados viáveis em 2007 hoje têm muitos problemas para serem aprovados.

Acrescente-se a isso o fato de que, nos últimos leilões, a energia baseada em biomassa não teve muito sucesso. Investimentos em termelétricas a biomassa (bagaço, madeira, capim elefante, etc.) têm um valor específico (R$/kW), relativamente alto se comparado com termelétricas a gás ou carvão, mas compensam esse fato com a redução da emissão de dióxido de carbono.

Porém, é preciso que seja estabelecido um valor mínimo para a venda do MWh acima dos valores obtidos com combustíveis fósseis ou outras medidas regulatórias. É necessário um incentivo, que deveria ser condicionado a indicadores como eficiência da planta, gerando, assim, um estímulo para realizar o potencial de geração tecnicamente viável. Sem medidas para estimular o investimento em geração de energia à base de biomassa, nós não vamos ver um crescimento estável dessa energia limpa e sustentável.