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Enrico De Beni Arrigoni

Coordenador de Pesquisa Tecnológica do CTC

Op-AA-28

As principais pragas do novo sistema

A evolução do setor sucroenergético e o desenvolvimento do sistema de colheita da cana crua, considerando os aspectos ambientais, agronômicos, econômicos e de segurança, permitiram atingir o atual estágio de eficiência. Entretanto essas mudanças causam impactos sobre a fauna e a flora existentes nos canaviais. Especificamente no aspecto relacionado às pragas, a camada de palha que permanece sobre o solo após a colheita e o acúmulo desta nos sucessivos cortes favorecem a ocorrência de algumas espécies.

A cigarrinha-das-raízes da cana-de-açúcar, Mahanarva fimbriolata, foi a espécie que melhor se adaptou ao novo sistema de colheita; sendo anteriormente classificada como praga secundária, passou a ocupar o status de praga chave da cultura, exigindo atenção especial em seu manejo e controle, no período quente e úmido do ano.

Os principais fatores que interferiram nessa mudança foram: proibição de queima dos canaviais, fator que possibilitou a permanência de ovos da cigarrinha nas bases de touceiras, e a camada de palha, que propiciou o microclima e a proteção adequados para o desenvolvimento das ninfas dessa espécie.

Apesar desse aspecto negativo, verifica-se que essas mesmas condições ambientais favorecem a eficiência de controle de agentes microbianos, principalmente o fungo Metarhizium anisopliae, que é empregado por muitos produtores. A segunda espécie, beneficiada pela colheita de cana crua, é o bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis, que encontrou o ambiente e a proteção ideal para seu desenvolvimento e reprodução.

A proibição da queima também permitiu a sobrevivência de maior número de adultos, responsáveis pela infestação dos novos brotos e perfilhos das soqueiras em início de safra. Essa praga merece especial atenção, em função dos prejuízos que causa, e exige a aplicação de métodos integrados de controle, para redução de populações e danos.

O monitoramento das populações da praga e a atuação no controle desde a reforma dos canaviais infestados, utilização de mudas sadias no plantio – isentas da praga – e a aplicação de inseticidas ou agentes microbianos são métodos de controle que devem ser utilizados. A mudança ocorrida no sistema de colheita também auxiliou no controle de pragas, destacando-se a lagarta Elasmo, Elasmopalpus lignosellus, que não encontrou, sob a camada de palha, condições favoráveis ao seu desenvolvimento, além do fato de os adultos serem menos atraídos para a cultura com a colheita da cana crua, em relação à cana queimada.

Ocorreu incremento nas populações de espécies de cupins que atuam nos canaviais como decompositores de material celulósico, sendo, portanto, benéficos ao sistema de produção, não causando qualquer dano à cultura. Quanto às espécies de cupins classificadas como pragas, não se verifica aumento significativo de populações e danos, com níveis equivalentes nos dois sistemas de colheita.

Trabalhos experimentais foram realizados comparando as populações da broca da cana, Diatraea saccharalis, e de seus predadores e parasitoides em áreas de cana crua e de cana queimada. Os resultados de campo, obtidos em diversas regiões, indicam a tendência de ocorrerem níveis populacionais mais elevados em áreas de cana crua, e os índices de intensidade de infestação acompanham esses níveis.

O eventual aumento na população dessa praga exige a adequação de métodos de monitoramento e aumento no número de espécies e de agentes de controle biológico liberados, nas áreas em que se detecta a praga em densidade populacional de média a alta. As formigas cortadeiras, principalmente as saúvas, são responsáveis por significativas perdas agrícolas e merecem toda a atenção voltada ao seu monitoramento e controle.

Nas áreas de colheita de cana crua, verifica-se maior dificuldade na localização e dimensionamento dos formigueiros nas fases iniciais de brotação das soqueiras, sendo necessário aguardar dois a três meses após a colheita para iniciar as atividades de controle. Não se verificou aumento no número de formigueiros em função do método de colheita.

Ocorreu aumento no número de escarabeídeos nas áreas de colheita de cana crua, porém observa-se a presença constante da espécie Bothynus medon, que se alimenta exclusivamente da palha presente na superfície do solo, após levá-la para o interior das galerias e das câmaras que abrem a cerca de 50cm de profundidade, não sendo considerado praga. Em relação às demais espécies de pão-de-galinha, estão ocorrendo surtos em algumas áreas, mas faltam estudos taxonômicos e de bioecologia desse grupo.

As duas subespécies de broca gigante, Telchin licus licus e Telchin licus laura, poderão ser favorecidas pelo sistema de colheita da cana crua e induzirão à mudança do sistema atual de controle por catação ou espeto, visto que as bases dos colmos cortados ficarão cobertas pela palha. Verifica-se que há necessidade de adequações nos métodos de monitoramento e de controle de pragas na cultura da cana-de-açúcar, em função das mudanças no sistema de colheita, variedades e demais tratos culturais.