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Allan Simões Toledo

Vice-presidente do Banco do Brasil

Op-AA-23

A internacionalização da propriedade das usinas e sua contribuição para o mercado brasileiro

Nos últimos quatro anos, o setor sucroalcooleiro atravessou fases totalmente distintas. Vivenciou uma expansão bastante acelerada, passando por dificuldades originadas pelo ciclo de preços baixos do açúcar e etanol, agravadas pelos efeitos da crise internacional deflagrada pelo subprime norte-americano, cujos reflexos ainda estão sendo sentidos por diversas empresas de diferentes setores no mundo.

Aliás, a questão do subprime fez com que muitas instituições financeiras restringissem a oferta de crédito no mundo, contribuindo para o aprofundamento da tensão nos mercados. No País, as instituições públicas, ao contrário, ampliaram a oferta de crédito e cumpriram seu papel de indutoras do desenvolvimento econômico.

Essa postura esteve ancorada nos bons fundamentos da economia, o que contribuiu para que o Brasil fosse um dos países com melhor desempenho naquele período de turbulência. Mesmo com a crise, o setor sucroalcooleiro nunca deixou de ter atratividade. Manteve-se como importante provedor de fontes alternativas de energia, num cenário onde se vislumbra cada vez mais a escassez das fontes mais tradicionais, particularmente o petróleo.

Além disso, tanto o etanol quanto a energia cogerada a partir do bagaço de cana são considerados fontes limpas, inseridas em contexto de crescente atenção às questões ambientais. Essa fonte de riqueza desperta em investidores de todo o mundo o interesse de participar desse importante mercado. Estrangeiros ou nacionais, novos investidores, ao direcionarem seus recursos para as usinas brasileiras, buscam, obviamente, rentabilidade.

Mas, além disso, desejam maior controle da produção e do destino das exportações de açúcar e etanol, assim como maior participação na cadeia produtiva. Trazem consigo também benefícios para o setor, tais como adoção de práticas de governança corporativa, melhor estrutura de capitais e profissionalização da gestão.

Todos esses aspectos positivos contribuem para uma melhor percepção do risco do setor sucroalcooleiro. A capitalização reduz o custo de capital da empresa e possibilita o acesso a informações de forma clara e transparente, o que traz como consequência maior facilidade ao crédito e a estruturas mais adequadas de financiamentos.

Com a manutenção das participações dos atuais proprietários das usinas no negócio, esses benefícios somam-se à experiência desenvolvida pelos produtores brasileiros ao longo de décadas de aperfeiçoamento do segmento, resultando na consolidação de competências que pode propiciar novo ciclo virtuoso ao setor.

Por dispor de acesso à estrutura de comercialização dos grandes grupos multinacionais, investidores estrangeiros podem facilitar o ingresso do etanol e açúcar brasileiros em novos mercados e, assim, garantir presença mais efetiva e duradoura desses produtos no mercado internacional. No entanto, para se ter um comércio mais efetivo de nosso etanol, é preciso, primeiro, transformá-lo em commodity internacional e, depois, romper as barreiras protecionistas erguidas pelos países que se recusam a obter energia além de suas fronteiras.

Dessa maneira, a ingresso de novos acionistas deve ser considerado como alternativa de reestruturação ou expansão de grandes empresas do setor sucroalcooleiro. Não se pode descartá-lo. Contudo vale destacar que resta intacto o capital intelectual, construído ao longo dos séculos pelos representantes desse setor, traduzido em uma grande habilidade agrícola, capacidade de manejo das usinas sucroalcooleiras em todo o território brasileiro e a tecnologia de primeira linha desenvolvida e, atualmente, exportada para diversos países.

Foi esse patrimônio que levou o País a liderar com vantagem indiscutível esse segmento no mundo. É nesse patamar que o Brasil deve permanecer. O Banco do Brasil acredita no setor. É um dos bancos com posição destacada no financiamento a investimentos, notadamente no que se refere a repasse de recursos do BNDES e crédito rural.

Historicamente tem apoiado, na área agrícola, a formação e custeio da lavoura de cana-de-açúcar; na área industrial, a modernização de plantas industriais e investimentos para a cogeração de energia elétrica, bem como a implantação de novos projetos, e, na área de mercado de capitais, assessoria para operações domésticas e internacionais de capitalização das usinas brasileiras. Nossa atuação voltada para originação e desenvolvimento de soluções tornou o Banco do Brasil um dos principais bancos assessores em negócios estruturados do setor sucroalcooleiro.