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Tomaz Caetano Cannazam Rípoli

Professor de Engenharia Rural da Esalq-USP

Op-AA-24

A questão da densidade de carga

Apesar de o setor sucroalcooleiro do Brasil ser referência mundial, não apenas pela sua ordem de grandeza em termos de área cultivada, produção de açúcar e de etanol, mas também pela sua tecnologia “autóctone", não se pode esquecer que a concorrência mundial vem aumentando, principalmente a de países como China, Tailândia e Índia, que estão incrementando significativamente suas produções canavieiras.

Num cenário cada vez mais competitivo, não é mais suficiente a busca pelo aumento de produção e/ou produtividade. Não é mais suficiente obter-se uma dada lucratividade.

A nova e necessária postura deve ser enfocada na busca da melhor rentabilidade econômica que, não necessariamente, acompanha aumentos de produção física, de área, de produtividades agrícolas ou de rendimentos industriais.

Já em 1964, Hunt, pesquisador americano, mostrava que, no setor agrícola (Figura 1), a renda bruta é linear com o crescimento da produção, mas os custos de produção apresentam forma tendendo a senoidal.


Posto de outra forma: mesmo com altas produções, renda líquida torna-se menor do que o desejado. Assim, em qualquer atividade agrícola, deve-se buscar o volume de produção (ótima) que forneça a melhor rentabilidade econômica.

Dentre as inúmeras opções que a tecnologia agrícola canavieira oferece para contribuir para se buscar melhor rentabilidade econômica diz respeito a análises envolvendo a questão da densidade de carga de matéria-prima colhida mecanicamente e sem queima prévia.

O custo por tonelada dessa matéria-prima nos sistemas de colheita (corte, transbordo, transporte e descarregamento) regra geral, atinge 30 a 35% do custo de produção agrícola. Então, merece atenção especial de pesquisadores e produtores do setor.


Um dos caminhos é diminuir-se o tamanho dos rebolos conforme obtido em 2009 (Figura 2). Todavia e certamente, o aumento das perdas invisíveis (impossíveis de mensurar no campo) será significativo e pouco interessante.

Segundo Neves (2003), pesquisador do Centro de Tecnologia de Cana-de-açúcar, tais perdas em cana crua podem chegar a 3% em peso, dependendo da variedade, do porte do canavial, das condições dos órgãos ativos de corte da colhedora, da rotação do exaustor primário e, obviamente, dos tamanhos médios dos rebolos. 

Esse resultado foi para rebolos de tamanho em torno de 25 cm. Para menores, por via de consequência, as perdas invisíveis serão mais significativas.

Outro caminho que se entende mais racional é a utilização de dessecantes, tipo Gramoxone, em aplicações aéreas, de 8-10 dias antes da colheita mecânica.


Com isso, a colhedora trabalhará com palhas e ponteiros com teores de umidade por volta de 10-15% e apenas traços de folhas verdes.

Essa condição do canavial traz algumas vantagens, tanto na qualidade da matéria-prima colhida, no desempenho dos sistemas de limpeza da colhedora, na redução de consumo de combustível/t colhida, bem como no aumento da densidade de carga.

Obteve os valores demonstrados na Figura 3, estudando o assunto em três usinas paulistas em 2008 e 2009. O aumento de densidade de carga, no transporte, atingiu 15%!

É altamente significativo uma economia entre R$1,31/t e R$1,39/t cana colhida, transbordada e transportada até a usina. Portanto novas práticas agrícolas estão se oferecendo para redução de custos.

Basta implementá-las, respeitando os ambientes de produção com suas características intrínsecas, além de um adequada logística do sistema de colheita, no seu sentido amplo.