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André Elia Neto

Especialista em Tecnologia Industrial - Ambiental do CTC

Op-AA-27

Reaproveitamento da água

Há uma ideia generalizada entre as entidades ligadas aos recursos hídricos e ambientais de que a agroindústria sucroalcooleira é uma grande usuária de água, o que realmente procede, tendo em vista a alta quantidade de água necessária para o processamento industrial do açúcar e do etanol.

Isso, porém, não significa captação exagerada de água, pois, há muito tempo, o setor vem exercendo a prática do reúso das águas e de efluentes, suprindo, dessa forma, a grande necessidade de água no processo industrial. Uma usina com mix de 50% de cana para produzir açúcar e 50% para etanol necessita, em média, de 22 m3/t de cana para o processamento industrial. No Brasil, a cultura da cana-de-açúcar não utiliza irrigação, o que é uma grande vantagem em termos de sustentabilidade para o setor.

Apenas uma pequena parte da produção se utiliza da irrigação, prática mais disseminada no Nordeste brasileiro, com tendência de crescimento no Centro-Oeste. Porém, ainda ligado ao aspecto de irrigação de salvamento, com uma aplicação relativamente baixa de lâmina de água, que varia de 100 a 200 mm, e, mesmo assim, com grande utilização dos efluentes gerados na produção industrial do açúcar e do etanol.

A captação média de água para uso na indústria, que era de 20 a 15 m3/t de cana há cerca de 4 décadas, passou a 2 m3/t de cana, de acordo com levantamentos realizados no CTC em usinas da região canavieira do Centro-Sul, mais precisamente 1,85 m3/t de cana, conforme dados obtidos em 2005. Uma redução de cerca de 10 vezes na taxa de captação.

As tecnologias atuais apontam para uma tendência de captação em torno de 1,0 m3/t de cana processada, sendo este patamar desejável, possível e economicamente viável, ou seja, o patamar tecnológico de engenharia básica. Com o advento de novas tecnologias que possibilitarão o uso da água contida na cana através da evaporação e membranas de osmose reversa, ou mesmo outras tecnologias de produção mais limpa, como a limpeza da cana a seco, a captação de água para uso industrial no setor pode chegar a níveis de 0,5 m3/t de cana e até menos, em 5 anos.

Com essa racionalização, o setor sucroenergético vem praticando índices de reúso de água em seu processo industrial que atingem até 95%, evidenciando o alto grau de reaproveitamento da captação.

Isso propicia uma menor pressão por novas fontes de abastecimento de água, que, aliado à prática do reúso agrícola de despejos e resíduos na fertirrigação da lavoura de cana-de-açúcar, contribui também para a manutenção da qualidade dos mananciais, que não recebem o remanescente de poluição de eventuais sistemas de tratamento.

Em um trabalho recente conduzido pelo CTC (Elia Neto, Zotelli e Donzelli, 2010), estimaram-se as demandas de água para a indústria canavieira nas unidades de gerenciamentos de recursos hídricos do estado de São Paulo. O quadro em destaque mostra três diferentes cenários de taxa de captação de água industrial no período de safra (base safra 2007-2009), em relação à oferta mínima Q7,10 = 894 m3/s.


A demanda média atual no estado exercida pelo setor é de 7% da oferta mínima (Q7,10), como pode ser visto no cenário 1 (taxa de captação média de água de 2 m3/t de cana), mostrada no quadro Demanda Relativa de Água. Observa-se que na década de 90, o setor demandava cerca de 13% da água do estado, e que, a despeito do grande crescimento canavieiro nesses últimos decênios, a participação na demanda de água caiu pela metade, com potencial de diminuir mais ainda.

O cenário 2 (taxa de captação de água de 1 m3/t de cana) é obtido pela maioria das usinas do estado de São Paulo (e do Centro-Sul), importando em uma demanda de apenas 3,5% da oferta mínima média e água no estado de São Paulo.

Com programas de P&D em novas tecnologias limpas e de reutilização de água, o setor caminhará para o cenário 3, onde a demanda deverá atingir 1,7% da oferta mínima de água. Um grande passo para a sustentabilidade do setor, ressaltando, que no estado de São Paulo, se processa cerca de 60% da cana-de-açúcar do Brasil.

A preocupação mundial com a sustentabilidade vem motivando a implantação de indicadores ambientais que visam avaliar a cadeia produtiva do setor sucroenergético. A racionalização do uso de água, fomentada pela legislação e pelos instrumentos de cobrança pelo uso da água implementada pelos Comitês de Bacia, resultaram na redução gradativa da captação de água do setor.

Com o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitarão o uso de água contida na cana (cerca de 70% em peso), os impactos no uso da água serão cada vez menores, contribuindo, assim, para a sustentabilidade da indústria canavieira e atenuando o conflito pelo uso das águas com os demais setores, mesmo com o grande crescimento de produção verificado recentemente nesse importante segmento produtivo.