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Umberto Grohmann Ortolan

Gerente Sênior de Projetos do Banco Rabobank

Op-AA-23

A internacionalização como ferramenta de crescimento e aumento de produtividade

Nos últimos cinco anos, a indústria brasileira de açúcar e álcool tem experimentado uma forte expansão originada pela aceleração no crescimento do mercado de açúcar – em razão do crescimento do consumo nos países em desenvolvimento, da eliminação das exportações subsidiadas da Europa e da consolidação do Brasil como principal exportador mundial – e por uma explosão do mercado de etanol – em função dos carros flex no mercado brasileiro e da promessa dos biocombustíveis no mundo.

Cabe ressaltar a recente aprovação do etanol brasileiro como biocombustível renovável de baixo carbono pela Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), fato que pode facilitar a entrada do combustível nos EUA. Todo esse crescimento cria, e continuará a criar, oportunidades rentáveis de investimento na produção e logística desses produtos, atraindo para o setor capital nacional e internacional. Este último, em especial, de maneira mais intensa, após a obtenção do grau de investimento para o Brasil.

Como um processo de seleção natural, esse capital está disponível para investimento em empresas bem preparadas e eficientes e para aquisição e reestruturação operacional de empresas menos preparadas. Dessa forma, buscando acesso a esse capital, os participantes do setor de açúcar e álcool vêm passando por um processo de transformação que engloba, entre outros:

1. Consolidação e ganhos de escala: O setor ainda é bastante fragmentado, mas os dez maiores grupos possuem hoje volumes de moagem superiores a 10 milhões de toneladas de cana por safra, tendo os dois maiores volumes na faixa de 30-60 milhões de toneladas;
2. Desintermediação e integração vertical: Grandes grupos e associações têm feito incursões em logística (terminais, logística ferroviária, dutos e portos), vendas e distribuição, garantindo o escoamento da produção;
3. Profissionalização: Estrutura de gestão familiar ainda muito presente, porém sendo continuamente substituída por gestões profissionais. Universidades têm desenvolvido cursos de pós-graduação especialmente voltados para as necessidades do setor;
4. Formalização e transparência: Evolução marcante na quantidade de usinas auditadas por empresas de primeira linha com maior transparência para mercado, em particular credores. Ainda nesse ponto, cabe mencionar as reestruturações organizacionais que vêm ocorrendo, já visando deixar as empresas em condições de receber recursos externos (IPO, private equities, entre outros);
5. Acesso a mercado de capitais: Primeira onda de acesso ao mercado de capitais em 2007, com emissão pública de ações e instrumentos de dívida. Adicionalmente temos no mercado diversas empresas com forte possibilidade de acessar o mercado de capitais nos próximos dois anos.

Essa transformação gera benefícios ao criar empresas de maior porte e mais capitalizadas, com capacidade de realizar investimentos necessários no Brasil e no exterior, no ritmo demandado pelos consumidores, com a segurança exigida pelos investidores. Nesse contexto, a internacionalização da propriedade de usinas brasileiras via multinacionais, fundos e outros investimentos diretos é fator complementar, porém fundamental, para viabilizar a velocidade com que essas transformações vêm ocorrendo, promovendo crescimento e produtividade.

A internacionalização per si não cria grandes impactos em grupos de pequeno porte e usinas isoladas, no entanto o processo mais amplo de transformação em que está inserido cria, no longo prazo, dificuldades na manutenção de grupos com menor escala de produção e eficiência. Naturalmente, esse é um processo de transição que deve durar diversos anos, possibilitando que as usinas se preparem para competição nesse novo ambiente.

É importante ressaltar que não existe nenhuma barreira para a criação de grandes empresas nacionais competitivas no mercado internacional, a exemplo do que ocorreu em outros setores, inclusive no agronegócio. Diversas empresas nacionais têm o potencial e a ambição de participar fortemente no processo de consolidação do setor e, internacionalmente, na expansão do refino de açúcar e comercialização/distribuição de açúcar e álcool.

Esse processo vai depender do entendimento entre empresas nacionais do setor e de políticas públicas de incentivo à formação das multinacionais verde-amarelas. Até lá, os grandes movimentos de crescimento e consolidação do setor provavelmente ocorrerão impulsionados pelo capital internacional, como foram os casos de LDC/Santelisa Vale, Bunge/Moema e Shell/ Cosan. Bem-vindos à internacionalização, aos investimentos, ao crescimento e à produtividade.