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Thiago Libório Romanelli

Professor de Fluxo de Energia em Sistemas Agrícolas da Esalq

Op-AA-24

A produção agrícola sob a ótica energética

No que se refere à composição da matriz energética, o Brasil é um país singular, obtendo mais de 46% da energia consumida a partir de fontes renováveis, muito acima dos 12,7% da média global ou ainda dos 6,2% dos países desenvolvidos. Em 2007, pela primeira vez dentre as fontes renováveis, as hidroelétricas perderam a liderança na oferta de energia no País, tendo os produtos oriundos da cana-de-açúcar, assumido o papel de maior fonte de energia renovável.

Sustentabilidade é definida como o ato de “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”, apresentando considerável abstração. Ela aborda aspectos sociais, econômicos e ambientais, referindo-se a nada mais que a gestão de recursos, sejam eles capital, mão de obra ou insumos, sendo estes oriundos indiretamente de recursos naturais.

Esses fatores são abordados indiretamente na determinação do custo de produção, mas raramente o são com viés ambiental. No mercado internacional, barreiras econômicas são disfarçadas de socioambientais, impondo que a agricultura forneça alimento e energia, fibra suficiente para a crescente demanda, sem afetar o ambiente, sendo socialmente correto, e melhorando a balança comercial.

Alcançar simultaneamente todas essas metas é impossível, pois, como devemos ressaltar, embora haja um apelo bucólico por estar no campo e pelo verde inerente à fotossíntese, a agricultura é meramente uma unidade de transformação de matéria e energia, ou seja, uma indústria, porém a céu aberto. 

Portanto, à agricultura não deve ser atribuída a responsabilidade de reverter os impactos ambientais negativos que os demais setores causam, para suprir a demanda de recursos para que a vida urbana possa manter o seu padrão.  Ao cruzar a porteira, levamos diversos tipos de insumos que serão consumidos no processo produtivo e que estarão incorporados no produto final, não fisicamente, mas depreciados ao prestarem um serviço demandado pelo processo produtivo.

Os insumos diretamente aplicados (fertilizantes, defensivos, sementes) são determinados pela própria prescrição agronômica, enquanto combustíveis, maquinário, infraestrutura e mão de obra são utilizados indiretamente na disponibilização daqueles insumos às plantas. A intensificação dos sistemas de produção é feita através da mecanização, que é uma ferramenta de extrema importância, uma vez que, através dela, as plantas têm acesso aos insumos.

Quanto maior a eficiência de um conjunto mecanizado ou de uma colhedora, maior sua capacidade operacional (ha/h) e menor a incorporação dos insumos indiretos por área e consequentemente pela produção agrícola. Além disso, a qualidade da operação mecanizada também é fundamental.

Consideremos que a subsolagem para uma dada cultura tem que ser feita a 15cm de profundidade. Se ela for realizada a 10cm, certamente o volume de solo a ser explorado pelas raízes não será o desejado. Caso ela seja feita a 20cm, houve um gasto de combustível desnecessário (maior esforço tratório), ou ainda, perdeu-se a oportunidade de se trabalhar mais área pelo mesmo período de tempo.

A lucratividade energética da cana-de-açúcar, considerando-se que o etanol e o bagaço são de 9,0 (safra 2005/06) segundo Macedo e outros, (2008). Se for considerada a cogeração de eletricidade, o índice sobe para 9,3. A energia demandada pela produção agrícola e pelo transporte foi de 210 MJ/t e, para o processamento, foi de 23,6 MJ/t.

Assim, o balanço energético (energia líquida) fornecido em uma tonelada de cana é de 1951,4 MJ ou, se considerado um hectare, 169,8 GJ (87 t/ha). O monitoramento de como a agricultura demanda recursos naturais e energia e de quanto fornecem de energia é fundamental para a definição de políticas de estímulo à produção de fontes de bioenergia e também de otimização do uso de insumos.

Assim, a determinação da contabilidade dos fluxos de entrada e de saída de energia é um fator de fundamental importância para a melhora da eficiência de uma fonte de bioenergia, identificando a demanda total, a eficiência refletida pelo ganho líquido e pela relação produção/demanda, além da quantidade necessária para produzir ou processar um determinado produto.