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Valdir José Torezan

Diretor da Projec - Projetos e Consultoria

Op-AA-27

Água

Nos primórdios das civilizações, as comunidades nasciam às margens dos rios em função da importância e relação da água com suas vidas. Dela dependiam para o consumo, a dessedentação animal, a irrigação e o transporte. Não diferentemente do pensamento dos seus antepassados, os primeiros projetos dos engenhos e das pequenas usinas iniciaram suas atividades utilizando-se dos cursos de água disponíveis.

Neles, eram realizadas as captações, resfriadas as águas e lançados os efluentes gerados nas operações de produção do álcool e do açúcar. Com o surgimento do Proálcool - Programa Nacional do Álcool, na década de 70, centenas de novas destilarias surgiram. Esse crescimento acelerou os mecanismos governamentais (estaduais e federais) na implementação de políticas direcionadas ao setor.

No contraponto, novas tecnologias se fizeram necessárias para o atendimento às demandas, agora ambientais, dos empreendimentos sucroalcooleiros. Durante esse período, nas unidades, foram introduzidos novos usos para a água dentro do processo de produção. Na década seguinte, as primeiras avaliações revelaram números espantosos sobre o consumo de água pelo setor.

Segundo levantamento, foi identificado consumo entre 14 e 20 m³/t de cana moída. Mais recentemente, novos levantamentos apontaram a redução do consumo específico para índices inferiores a 3 m³/t de cana moída (Manual de Conservação e Reúso de Água na Agroindústria Sucroenergética, 2009). Há de se ressaltar que, em 1985, os órgãos ambientais, já com suas políticas delineadas, passaram a contribuir sobremaneira para a melhoria das performances industriais.

Atuando de modo a buscar um equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação, solicitaram, através do licenciamento ambiental, o incremento de novas ferramentas. O fechamento de circuitos de águas utilizadas no processo industrial e no tratamento de efluentes antes lançados in-natura em cursos d’água representam um grande avanço do ponto de vista preservacionista.

Já na década de 90, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - Cnumad, as medidas de controle de impactos no setor produtivo nacional foram estabelecidas pelos órgãos ambientais. As medidas direcionadas à mitigação desses impactos e melhoria da qualidade ambiental passam diretamente pela necessidade de preservação dos recursos hídricos.

Impulsionado pelo lançamento dos veículos bicombustíveis, já no século XXI, o setor sucroalcooleiro tomou novo fôlego após a crise do fim da década de 90. Nessa nova fase, a produção cresce em ritmo nunca antes observado. As novas tecnologias tomam conta do setor: colheita mecanizada, limpeza da cana a seco, eficiência na destilação, desidratação da vinhaça, uso múltiplo das águas no processo industrial.

Essas abordagens trazem novas perspectivas para o campo ambiental. Agora, atuando na vanguarda política, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo publicou o Zoneamento Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro, com a finalidade de estabelecer um conjunto de políticas de preservação ambiental.

Recentemente, com o estabelecimento de novas diretrizes ambientais, o setor sucroalcooleiro aprimorou os equipamentos, a fim de possibilitar o uso e reúso das águas no processo, implicando a redução do consumo para um índice entre 0,7 e 1,0 m3 de água por tonelada moída. O zoneamento estipula, entre outras medidas, do enquadramento da planta industrial à captação máxima permitida, em função da disponibilidade de água da bacia hidrográfica em que está localizada.

Estima-se que, desde sua implementação, o Protocolo Agroambiental tenha conseguido diminuir a captação média das usinas no estado de São Paulo de 2,00 m³/t para 1,55 m³/t (www.ambiente.sp.gov.br/etanolverde). Dessa forma, as medidas associadas à redução do consumo de água no processo industrial irão trazer os maiores ganhos para a preservação dos recursos hídricos.

Além disso, o lançamento de programas de recuperação de áreas de preservação desencadeará uma melhoria contínua. A recuperação de áreas degradadas possibilitará um ganho ambiental que, revertido para a manutenção da qualidade das fontes de abastecimento de água, servirá para a manutenção dos usos futuros.

Nesse ponto, o documento Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar (2009), elaborado pela Embrapa Solos, servirá como instrumento norteador para a expansão das áreas de plantio e industrialização de cana-de-açúcar, identificando os vários polos de desenvolvimento. Baseado nesse documento, os impactos associados à atividade podem ser discutidos e mitigados quando da implantação de um novo projeto, associando as características preservacionistas necessárias à manutenção da qualidade ambiental.

Embora o setor tenha se expandido em áreas consideradas ambientalmente corretas, o estado de São Paulo vem se preocupando com as expansões e tem estabelecido regras de proteção dos recursos hídricos superficiais e também de um dos maiores aquíferos subterrâneos do mundo, o Aquífero Guarani. Quem trabalhou no passado com o segmento sucroalcooleiro observa hoje o quanto é valorizado o uso e reúso das águas nas plantas industriais.