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José Luiz Olivério

Vice-presidente de Tecnologia da Dedini

Op-AA-29

Temos a favor um grande histórico

O setor sucroenergético, do lado da produção, exige visão e planejamento de médio e longo prazos. As decisões tomadas hoje para manter, renovar ou expandir o canavial e a indústria apresentarão seus resultados dentro de 1 a 2 anos para as usinas existentes, e as ações para a construção de novas unidades demandarão prazos de 3 a 5 anos.

O balanceamento entre as ações que visam à oferta, com aquelas que determinam o consumo, é a chave da confiabilidade para a expansão do setor, tornando o etanol uma commodity mundial. Estamos vivendo uma fase crítica, pois a demanda aumentou, e a oferta ficou praticamente estagnada desde a safra 2008/2009.

No cenário internacional, a convicção da necessidade de substituição gradativa dos combustíveis fósseis pelos renováveis está consolidada. A recomendação da EPA - US Environmental Protection Agency sinalizando para o uso dos combustíveis avançados, dentre eles o etanol brasileiro, é um indicador positivo para o médio prazo. Adicionalmente, devem ser abolidas as barreiras tarifárias para a entrada do etanol nos EUA, portanto, o cenário para a exportação do produto brasileiro se apresenta otimista.

No mercado interno, a demanda por veículos flex deve continuar aquecida com o aumento da renda da população. O fator mercadológico determinante será o preço do etanol colocado nos postos, em um cenário onde o preço da gasolina apresenta tendência de estabilidade, no médio prazo. Outra ênfase deve ocorrer no campo dos bioprodutos derivados do etanol, que também irão pressionar a demanda.

A projeção da demanda do etanol indica que, até 2020, deveremos duplicar a produção, representando um aumento de mais de 400 milhões de toneladas de cana processadas em mais de uma centena de novas usinas de grande porte. Essas projeções descortinam um cenário muito promissor no mercado interno.

A crítica situação atual no mercado de etanol demonstra a necessidade de que os agentes, privados e públicos, atuem de forma coordenada, para que as políticas governamentais e as condições estruturais garantam a continuidade dos investimentos necessários no setor produtivo.

O desafio que deverá ser enfrentado nos próximos anos, inclusive para recuperar a atual crise de oferta, será a tarefa de analisar as tendências do mercado e implementar políticas e ações efetivas, promovendo o equilíbrio da produção e consumo, visando ao crescimento harmônico do setor.

A transformação do etanol em uma commodity energética internacional provocará a redução da lucratividade específica por tonelada de cana processada, caso o contexto atual não seja alterado. Mas a manutenção da lucratividade é fundamental para a sustentabilidade do setor, e, por isso, devem ser introduzidas tecnologias que visem à maximização do aproveitamento da cana, à eficiência dos processos, à redução do consumo de diesel e dos fertilizantes químicos, à geração de novos produtos de maior valor agregado.

O processamento da cana integral na usina promoverá a redução de custos e gerará novas e maiores receitas, somadas aos produtos atuais.

A indústria brasileira de equipamentos está capacitada para isso e pode fornecer soluções avançadas, novas usinas e expansões que propiciem um aumento de moagem de 70 milhões de toneladas de cana/ano, ultrapassando em mais de 50% o acréscimo do consumo previsto. Dessa forma, pode-se recuperar a demanda perdida e atender a um crescimento otimista nos mercados internacional e nacional.

Além de mecanismos como política energética, marcos regulatórios, política tributária, entre outras, para garantir a confiança de possíveis empresários e investidores no programa, é fundamental que haja recursos de financiamento que priorizem as soluções de maior conteúdo tecnológico.

Essas linhas devem ser estruturadas para projetos novos, para expansão de usinas, modernização, em condições de atratividade correspondentes à importância estratégica e à necessidade de um acelerado crescimento da oferta de etanol. Ao privilegiar essas tecnologias mais desenvolvidas, o financiamento sinaliza para o mercado a direção preferencial, induzindo à adoção de inovações.

Concluindo, para a indústria brasileira de equipamentos do setor sucroenergético, temos um cenário desafiador com duas vertentes. A primeira tem grandes desafios devido ao crescimento quase explosivo da demanda de etanol; a segunda representa uma ameaça: o País oferece um mercado de dimensões gigantescas e, ao mesmo tempo, as nossas condições estruturais, em conjunto com a defasagem cambial e isenções fiscais, favorecerem a importação desleal, que nos levará à desindustrialização.

O primeiro desafio temos condições de vencer. Para superar o segundo, precisamos do nosso próprio poder de arregimentação para obter o suporte da sociedade e do governo.

Temos um histórico a nosso favor: hoje, temos o setor sucroenergético mais desenvolvido, competitivo, tecnologicamente avançado e um exemplo para o mundo. Ele foi construído com uma essencial contribuição da indústria brasileira de equipamentos. Esse fato fortalece a nossa confiança, mas não podemos parar de lutar.