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Sérgio Xavier Ferolla

Ex-Comandante da Escola Supervisor de Guerra

Op-AA-12

Biomassa: alternativas para o Brasil

O novo e cínico discurso norte-americano, fazendo apologia dos biocombustíveis, numa conversão repentina para o lado do bem, pouco ou nada tem a ver com a preservação do meio ambiente e sim com a constatação da inexorável exaustão das reservas internacionais de petróleo.

Organizações internacionais de renome já passam a considerar tal fato na composição dos cenários futuros, tendo o FMI, em recente relatório, afirmado que “os preços do petróleo continuarão representando um sério risco para a economia mundial, não descartando a possibilidade do barril ser cotado a US$ 100”, bem como “alertando para um choque do petróleo permanente”.

Ignorando esses sinais de alarme e com as reservas nacionais estimadas em modestos 30 bilhões de barris, que estarão exauridas em menos de duas décadas, na melhor das hipóteses, o governo brasileiro optou pela abertura do setor do petróleo, ao promulgar a Lei 9.478, que autoriza a exportação. Assim sendo e dispondo a Petrobras de cerca de 17 bilhões de barris, o suprimento interno estará assegurado até 2020, aproximadamente, período de duração da festejada auto-suficiência nacional.

Após essa data, voltarão as aquisições externas, com o preço do barril devendo atingir valores imprevisíveis no mercado internacional, isto se houver o produto. É didático lembrar que nosso governo foi levado a executar programa emergencial, visando a economia de gasolina, em decorrência da crise do petróleo, na década de 70.

Com visão estratégica e determinação política, foi implementada, de imediato, a adição de 20% de etanol anidro à gasolina, seguindo-se, na Aeronáutica, o desenvolvimento dos motores a puro álcool. Após operar frotas experimentais, em todo o território nacional, que giraram cerca de 20 milhões de quilômetros, teve o governo a segurança necessária para determinar a implantação do Proálcool, demonstrando a viabilidade da participação da biomassa na matriz energética nacional.

Analisando o consumo de derivados de petróleo em nosso país, constata-se que o diesel representa mais de um terço do total. Visando sua estratégica substituição, aliada à contribuição com o esforço internacional para a redução do efeito estufa, novos modelos agroindustriais precisam ser equacionados. Já dominamos técnicas capazes de satisfazer boa parte da demanda interna e um programa semelhante ao Proálcool, com o cultivo de oleaginosas específicas, viabilizaria a produção dos óleos vegetais em volumes e preços capazes de possibilitar a aditivação e até a substituição integral do diesel do petróleo.

Alguns caminhos já estão sendo definidos e as opções, caso a caso, deverão ser selecionadas, em função de fatores econômicos, infra-estrutura industrial e disponibilidades de cada região do país:

1. O chamado biodiesel, que é resultante de um processo de transesterificação, apresenta-se como um processo a exigir grandes investimentos, para satisfazer, em parte, às necessidades nacionais, podendo, complementarmente, ser beneficiado por pequenos produtores em regiões isoladas e/ou pequenas localidades;
2. Em meados de 2006, a Petrobras anunciou o domínio de um novo e importante processo industrial, com a produção do Hbio, resultante da adição direta do óleo vegetal ao diesel do petróleo, seguindo-se uma hidrogenação da mistura.
3. A esses dois processos citados soma-se o mais antigo e já conhecimento da Petrobras, o da mistura direta do óleo vegetal ao gasóleo, carga natural das unidades de “craqueamento catalítico” das refinarias.

Constata-se, dessa forma, a disponibilidade de várias rotas alternativas para o uso dos óleos vegetais, a serem utilizadas em função dos volumes de oferta do mercado agrícola, custo e região de origem, esperando-se a prevalência de leguminosas não nobres e específicas, com alta produtividade agrícola e elevado conteúdo de óleo, de forma a tornar economicamente viável sua mistura com os derivados do petróleo.

A grandiosidade do desafio, em escala mundial, pode ser aferida pelo fato de serem consumidas cerca de 3,5 bilhões de toneladas de petróleo por ano, o que exigiria, apenas para sua substituição, uma área agrícola equivalente ao território brasileiro, tomando-se como referência uma produtividade média, como nas boas regiões de cultivo em nosso país.

Se a meta fosse substituir todos os combustíveis fósseis, (carvão, gás e outros produtos), a área necessária deveria ser três vezes maior, mostrando a impossibilidade da biomassa atender a todas as necessidades, inclusive porque se deve priorizar os alimentos. Nos países do Hemisfério Norte, a busca pelos biocombustíveis também vem sendo estimulada, mas as limitações impostas pelas condições geográficas e climáticas, os obrigarão a diferir, em muito, dos caminhos trilhados pelos países tropicais.

Em escala laboratorial, muitos estudos são realizados, visando a obtenção do etanol a partir da celulose vegetal, energéticos líquidos, do carvão mineral e uma infinidade de outras alternativas, sob a estressante pressão da escassez de petróleo. Num horizonte de curto prazo, renovadas aspirações voltam-se para os biocombustíveis produzidos pela agroindústria, e, com esforço tecnológico e empresarial, mais uma vez, pode o Brasil assumir a liderança na produção das novas opções de bioenergéticos.

A produção do etanol como combustível é uma rota e uma escola a ser seguida e aperfeiçoada, pois muito ainda há que se fazer. Um desafio para todos os seguimentos da tecnologia, da logística e do setor produtivo, com a evolução dos desenvolvimentos nos laboratórios e no campo, a otimização dos processos industriais e o aumento da produtividade.