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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da ABAG

As-AA-46

Inovação e sustentabilidade
Neste final de ano de 2015, dezembro, haverá a Conferência do Clima em Paris (COP21), com uma clara meta de buscar um acordo entre os grandes emissores dos gases responsáveis pelas mudanças climáticas. Os EUA, a China e a União Europeia, juntos, respondem por 54% das emissões totais. Cada um desses gigantes veio empurrando com a barriga posições mais claras nesse campo, principalmente os EUA – embora tenha melhorado com o Presidente Obama – e a China – até com o apoio do Brasil –, que deverão ter outro comportamento na reunião de Paris.
 
E o Brasil? Demorou, também, para assumir as responsabilidades ou os compromissos que se esperava dele. Afinal, é um país com bom grau de urbanização e de industrialização, chamado ou convocado pela ONU e OCDE para responder pela maior contribuição à produção de biomassa e alimentos neste século XXI. A queda da taxa de desmatamento da Amazônia, positiva, contrastava com a perda de participação das energias renováveis na matriz energética brasileira, muito negativa. Houve uma leve melhora no campo da energia renovável que, se espera, seja efetiva nos próximos anos, fator fundamental para o atingimento das metas apresentadas pelo Brasil para a COP21.
 
Olhado sob o prisma da economia e da política, o Brasil perdeu sua imagem duramente construída desde 1993, em função de vários fatores, que se sintetizam pela sua aventura heterodoxa na economia, uma perturbadora realidade da corrupção entre figuras fundamentais do Executivo e do Legislativo e o desequilíbrio pela manutenção do poder a qualquer custo. Separando o desafio de corrigir esse rumo, monumental, o Brasil segue mostrando, no seu agronegócio, as esperanças por dias melhores ou, pelo menos, manter-se como a ponte que pode unir a demanda global ao elevado nível de oferta de alimentos e de energia renovável sustentável, que são reconhecidos mundialmente.
 
Em 1992, o Brasil assumiu uma posição de liderança na reunião do Rio de Janeiro, na conferência mundial, que acabou adotando as Convenções do Clima e a da Biodiversidade. De lá para cá, o País passou por amplo desenvolvimento e relevante melhoria de imagem internacional, até passar pela desventura de nova matriz econômica, de uma articulação política ridícula e de um comportamento infeliz e retrógrado. O que dá para fazer em dez/15, na COP21?
 
1. Caracterizar, de forma competente, o grande processo de mudança no Brasil com o Código Florestal e como  o resto do mundo deveria agir nessa linha;
2. Demonstrar a importância da chamada agricultura de baixo carbono, sua complexidade e a necessidade de seu reconhecimento para o crescimento da oferta de alimentos no mundo tropical no século XXI;
3. Caracterizar a formidável descarbonização gerada no Brasil através da produção e do uso em alta escala do etanol da cana-de-açúcar e o seu potencial de expansão no Brasil e no mundo tropical.
 
Explorando o terceiro item, a desorganização da política pública no setor da biomassa energética fragilizou imensamente a capacidade de produzir e de acreditar em sua evolução produtiva. Esse é um componente essencial para que se possa levar, até dezembro deste ano, uma posição de mudança do governo brasileiro. Afinal, a partir de 2004, foi o capital internacional o maior investidor no setor do etanol e da cogeração de energia elétrica, o que os coloca na posição de principais críticos do comportamento governamental do Brasil desde 2006. Se, de fato, como salienta o professor José Goldemberg, a nova posição do governo brasileiro é uma mudança de paradigma, vale o olhar de proa:
 
  • Se, por um lado, a não queima da cana para fins de colheita reduz sensivelmente as emissões de carbono, o mesmo se diz pelo uso da biomassa para produzir energia elétrica; 
  • O etanol anidro em maior proporção na gasolina (27%) reduz emissões e melhora a poluição local; 
  • Se a frota de veículos flexíveis segue crescendo e o etanol volta a ter maior peso no ciclo Otto, face suas maiores oferta e uso, há uma nova esperança.
O Brasil pode inovar ainda muito mais nesse setor do agronegócio canavieiro, seja pela redução no consumo do diesel, através do desenvolvimento ampliado no plantio da chamada cana-energia, com produtividades muito maiores que as atuais da cana-de-açúcar, seja pela expansão do volume de açúcares e fibras totais produzidas, reduzindo as impurezas vegetais e minerais – enfim, por efetiva redução dos custos de produção do etanol e da energia cogerada.
 
Também é preciso um rápido olhar de popa, quando o Brasil dançava ao ritmo de sua música. O governo brasileiro deve dançar o ritmo que o País faz e encanta o mundo. O que faz o Brasil sustentar-se é o agronegócio, que tem ritmo brasileiro. Esse ritmo foi criado aqui, com o nome de tecnologia tropical. Esse é o nosso ritmo, que certamente será copiado pelos países que vivem nos trópicos, onde o sol ilumina mais.