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Dimas Alfredo Barros Cavalcanti

Presidente da Moex

Op-AA-06

Moenda x difusor: qual o melhor processo de extração?

Tema que pode levar a acaloradas discussões, deve ser analisado sob pontos de vista outros que não os passionais e sim os que permitam conclusões de estudos que levem em conta objetivos bem definidos: de curto, médio ou longo prazo. Deixando de lado os folclores, no Brasil, não se justificou, até o momento, a instalação em larga escala do difusor, porque temos tido taxas de crescimento de moagem em fases que, na maioria dos casos, não indicaram o difusor como solução ideal.

Falando de folclore, há muito se diz que a Dedini, onde trabalhei durante 18 anos, teria comprado da alemã BMA, o equipamento e o direito de fabricá-lo, apenas para “fazer não funcionar”. E teria provado que não funcionava mesmo. Na verdade, aquele difusor era um difusor de bagaço (com moenda antes e depois), e esse tipo de arranjo não funciona até hoje.

Na época, como não havia equipamentos bons para o preparo da cana, o recurso era usar um terno de moenda para abrir melhor as células e extrair o açúcar. Acabou-se utilizando o difusor e mais 4 ternos, e mesmo assim a extração foi baixa, o balanço térmico não fechava, o caldo misto era muito diluído, não sobrava bagaço, etc.

Hoje, com índices de preparo bons, podemos montar o difusor ideal: Difusor de cana (sem moenda antes). Sabemos que, com o know-how disponível hoje, tanto para um, como para outro, o difusor leva vantagem sobre a moenda em termos de extração. E aí vem a pergunta: por que então, não utilizá-lo sempre?

Não falando sobre a qualidade da cana, que vamos abordar à frente, temos que avaliar o seguinte: o princípio de funcionamento do difusor leva em conta uma característica imutável, pois ele depende da aceleração da gravidade para fazer a embebição atravessar o colchão de cana no seu interior. Com isso, sua capacidade fica limitada, pois é necessário manter uma velocidade fixa para obter uma altura de colchão única e para que os caldos de embebição despejados em 12 ou 14 pontos possam fazer circuitos precisos, onde, a cada estágio, fiquem mais ricos e possamos obter extrações de 98%.

Se admitirmos trabalhar com extrações mais baixas, podemos adotar outros critérios de operação, cujos resultados desconhecemos. Considerando a moenda, temos muitos casos concretos de instalações, nos quais a moagem quadruplicou, desde a instalação inicial, até a final. Hoje, é possível manter extrações de 96%, com 4 ternos de moenda, e programar os arranjos de equipamentos para manter esse índice ou até melhorá-lo ao longo dos anos, através de um programa bem planejado na instalação de uma unidade de moagem nova, onde se vai aumentando a quantidade e a bitola dos ternos acrescidos.

Considerando ainda a possibilidade de se programar, na mesma planta, a substituição de alguns ternos, a flexibilidade pode ser ainda maior. Nesse enfoque, dependendo das dimensões dos equipamentos adotados, desde a fase de implantação até a última fase, e o objetivo final a ser atingido, os estudos de viabilidade técnico-econômica levaram ao uso da moenda.

Varia de acordo com muitos fatores econômicos, mas a instalação inicial de 4 ternos de moenda, comparada à instalação do difusor, pode ser menos dispendiosa e apresenta uma flexibilidade enorme, deixando tempo para o empreendedor decidir sobre o futuro, no decorrer dos acontecimentos. Optando-se pelo difusor, temos que ter em mente a idéia de crescimento em etapas iguais, e não em progressão flexível. Isso representa custo mais alto. Porém, com rendimentos sempre “no topo”.

Sob o ponto de vista da manutenção mecânica, os custos com o difusor são mais baixos e isso também tem que ser ponderado em análise estendida ao longo do tempo, conforme nossa proposta para eleição do melhor sistema. No que se refere ao fator matéria-prima, temos visto o seguinte quadro: Cana com baixo teor de fibra (onde a moenda extrai bem) não é boa para o difusor.

Onde tivemos uma instalação com preparo de 92 a 93% I.P., com cana de 10 a 11% fibra, foi necessário piorar o preparo, diminuindo a quantidade de martelos no desfibrador, para haver percolação do caldo, sem “perfurar” o colchão. E mesmo assim, para um difusor de 2,5 m de largura x 60 m de comprimento, com 300% embebição sobre a fibra, moagem de 100 TCH, a extração não chegava a 96%.

Nos países onde os difusores operam bem, a cana tem taxas de 15, 16 até 17% de fibra, o preparo apresenta cana preparada com fibras longas e a percolação (e portanto a difusão) é perfeita. A moenda ainda tem muito que evoluir. Teoricamente, e pelo que ela gasta de energia, teríamos obrigatoriamente que obter dela, extrações melhores que no difusor.

Outro ponto a ser colocado na análise de retorno, a longo prazo, é na receita gerada pela produção de energia elétrica. Nesse ponto, a análise deve englobar o Balanço Térmico total da instalação, pois o menor consumo de vapor relativo à moagem (no caso da difusão), não pode ser desperdiçado com grandes rebaixamentos de vapor direto ou sangrias em um eventual turbo-gerador de alta eficiência, que assim passaria a não ter tanta eficiência.

Em resumo, não existe o melhor sistema para qualquer situação. A decisão sobre esta opção tem que passar por uma cuidadosa análise de retomo de investimento, com a visão mais longa e objetiva possível das metas a serem atingidas. O item manutenção favorece o difusor. A cana com fibra baixa ou cultivada com vinhaça favorece a moenda. A extração favorece o difusor.

A possibilidade de maior geração de energia elétrica pode favorecer o difusor. A liberdade operacional e a flexibilidade de ampliação de moagem favorecem a moenda. A diluição do caldo para produção de açúcar favorece a moenda. A qualidade do bagaço para queima favorece a moenda. Conclusão: a média que indicará a melhor opção para cada caso deverá ser uma média ponderada, na qual os pesos que multiplicam os fatores acima terão maior ou menor valor, de acordo com o caso.