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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Diretor do Grupo Alto Alegre

Op-AA-64

O mundo caiu...
“Se meu mundo caiu eu que aprenda a levantar”
Maysa
 
Como uma cena de filme de ficção, 2020 entra para a história como o ano em que o mundo ruiu. Ruas sem pessoas e todos em casa fugindo de um vírus, chinês, mas um verdadeiro alienígena na aflição humana que se estabeleceu. O 1º mundo e os países periféricos, todos, sem exceção, agindo mais ou menos da mesma forma.

Nunca uma gripe foi tão desesperadamente perigosa e potencialmente mortal, ou, ainda se dirá, nunca uma nova realidade de comunicação criou uma onda de pânico como agora, inimaginável aos habitantes da Terra, além dos filmes de Hollywood. Alguns se isolam e outros insistem em seguir como antes, criando um cenário de decisões, também cinematográfico, tipo A escolha de Sofia.

Enquanto Sofia escolhia o filho a viver, aqui, em 2020, teríamos que optar pela saúde ou pela economia? Como fazer desses limões uma limonada? A mídia enlouquecida, ou motivada, se soma às teses das redes sociais, ampliando o pânico e os ódios! Teorias de conspiração surgem do nada, e políticos buscam as oportunidades.
 
Em um mês, perdeu-se, no Brasil, a possibilidade de se ter um PIB positivo em 2020, com impactos sobre 2021, com eleições difíceis de ocorrer no 2º semestre. Em crises como esta, os olhos urbanos vermelhos pelo pouco sono se voltam ao colírio do campo, a comida que refresca e fortalece e, mais, que não permite ao agricultor o refúgio do isolamento, afinal, agora, ele ficou essencial.
 
O tamanho da crise no Brasil faz reduzir o comportamento ideológico de política econômica, com o liberalismo namorando Adam Smith, pois, em país de tão grande dispersão de renda, mas muito concentrada, o Estado ganha importância na solução de emergências.

Será o “corona-voucher” com diferentes nomes e, vale salientar, com um olhar necessariamente dirigido aos setores com perdas muito relevantes nesse período bicudo. Entre os setores mais afetados, como o comércio e os serviços, o agro exibe força e determinação. Dentro do negócio agro, setores muito pressionados, como hortifrutigranjeiros e o do etanol, merecem foco específico.
 
Primeiro, foi o petróleo, derretendo preços em pleno início de safra no Centro-Sul brasileiro. Depois, a queda impressionante de consumo de combustíveis, e, na carona do coronavírus, o açúcar viu preços caírem de US$ 15 c/lb para US$ 10,5 c/lb em menos de 30 dias. O etanol segue os mesmos passos.
 
A questão global envolve, portanto, uma guerra comercial entre a Arábia Saudita e a Rússia, além de os dois aproveitarem a deixa para arrebentar o shale oil norte-americano. Quanto tempo isso irá durar é difícil de antecipar, pois, além do problema geopolítico do petróleo, a queda de demanda faz crescer o nível dos estoques do produto e dos seus derivados em todo lugar.

Pensando à frente, tem-se uma visão turvada por espessas fumaças geopolíticas e domésticas, tornando assustadores o curto e o médio prazo. Em termos de visão, quanto tempo durará a crise? O(s) governo(s) pode(m) auxiliar em algo? O que se pode antecipar? As características da crise Petróleo/Covid-19 são muito diferentes das outras, anteriores, mas os resultados são menos previsíveis!

O petróleo é uma soma de luta por liderança global e nível dos excedentes, estes agora ampliados pela queda da demanda provocada pela Covid-19, que, do seu lado, acelera a queda do consumo de quase tudo: o agro foi valorizado. Enquanto as ações de governo e da população giram em torno de se ter menos infectados, no caso da nova crise do petróleo, o caso é de negociação entre os EUA, a Rússia e a Arábia Saudita. A pergunta de bilhões de moedas é quanto tempo essas ações darão resultado?

1. O tempo pode ter a duração de 3 a 5 meses, ou mais.
2. O setor canavieiro, exceção ao agro nessa crise, não aguentará uma safra sob essa pressão!
3. As medidas são urgentíssimas e dependem do Governo Federal para reduzir a velocidade de queda dos preços da gasolina, das perdas da Petrobras com importações que sangrem seu cofre e sua imagem, da fragilização de toda a longa cadeia produtiva da cana-de-açúcar, em ano inaugural da lei RenovaBio, além de deixar profundas sequelas para os anos à frente!
4. As medidas seriam no sentido de melhorar a capacidade competitiva do etanol, através do uso de tributos como o PIS/Cofins (isento por um período definido), a Cide (aumentada por período ou por lógica da subida ou descida dos preços do petróleo) e o financiamento dos estoques (warrantagem) por período de 2 anos e taxas compatíveis de juros.

A maior fragilidade do setor, que o torna altamente susceptível de ir à UTI com a crise do coronavírus e do petróleo, deve seguir a lógica médica de assistência por período do estresse da fase aguda para que siga, à frente, na busca da descarbonização do combustível na esteira do RenovaBio, com a recuperação da produtividade e da confiança nos investimentos fundamentais ao futuro.
 
O processo, pós-crise, terá nuances de novas perspectivas: muitos grupos mudarão de mãos; a agricultura será mais valorizada na cadeia da cana, com rotação de culturas e preocupação com a biodiversidade nos solos; a informática e toda a tecnologia ligada a ela trarão importante redução de custos, e o mercado é a grande incógnita, na medida do enfraquecimento da OMC e na volta das velhas proteções e subsídios.

Isso impõe ao produtor de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade a busca frenética de produtividade agroindustrial, modernizando seu modelo comercial e fortalecendo os laços com a Ásia. Por outro lado, reforça a necessidade dos investimentos na lógica do setor automotivo brasileiro, da Rota 2030, para os carros flex híbridos, ponte segura para os futuros carros movidos a célula de combustível.

As expectativas do pós-Covid-19 quanto aos ritos de saúde, como serão? E aos dos valores ambientais? E qual o impacto disso na visão do comércio mundial? Como os países reagirão, abrindo-se ou fechando-se? No nível macro, a globalização se enfraquece. Caso o presidente Trump se reeleja nos EUA e a China consiga se recuperar mais rápido, tem-se um cenário de protecionismo mais claro.

As relações EUA/China e uma eventual nova Guerra Fria voltam com força. Uma Europa fragilizada acelera a tendência do centro da economia global voltando ao Oriente. As questões ambientais dominarão as prioridades, e o Brasil não fugirá disso. A Amazônia terá maior transparência dos fatos, e tecnologias voltadas a operações mais sustentáveis tomarão conta das empresas.

Isso será muito positivo à imagem do País e à do agro, valorizando produtos e atraindo o capital externo. Disse agora Henry Kissinger que, após o coronavírus, “é necessário um governo eficiente e prospectivo para superar obstáculos sem precedentes em magnitude e alcance global.

Manter a confiança do público é crucial para a solidariedade social, para o relacionamento das sociedades entre si e para a paz e estabilidade internacionais”. Listou pontos cruciais aos EUA, salientando ser preciso proteger os princípios da ordem mundial liberal: “As pessoas não podem garantir essas coisas sozinhas. A pandemia causou um anacronismo, um renascimento da cidade murada, numa época em que a prosperidade depende do comércio mundial e do movimento de pessoas”.
 
Esse é o novo (mas velho) dilema humano de países, realidades e isolamento, alimentado pela fixação nas mensagens do celular na nova era da informação, na volta do populismo e nas crises de guerras comerciais e fronteiras fechadas. No entanto novas portas sempre se abrem. Há que descobri-las, e a união no País é fundamental neste momento, quando as mortes em um processo cruel da pandemia deixam marcas profundas de fragilidade e solidão.

O ano de 2020 será o momento de aceleração da transição da chamada sociedade industrial para a do conhecimento, com a integração da mecânica evoluída à biologia em acelerada evolução. Os esforços em P&D serão fundamentais ao setor sucroenergético, e o seu modelo de desenvolvimento deve ser todo revisto.

O RenovaBio será o ponto dessa inflexão, assim como o foram, em momentos anteriores, a implantação do pagamento da cana pela qualidade e a desregulamentação setorial, acontecidos, respectivamente, no início da década de 1980 e final de 1990.