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Henrique Petersen Paiva

Head de Relações Governamentais e Sustentabilidade da Siemens

As-AA-16

Oportunidade
No final de 2015, a atenção de todo o mundo estava voltada para Paris, onde representantes de 195 países se reuniram na 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC, em inglês), comumente chamada de COP21, com o objetivo de estabelecerem metas que limitem o avanço do aquecimento global em 2 °C acima dos níveis pré-industriais até 2050.

A Contribuição Nacionalmente Determinada (“iNDC”) Brasileira foi ratificada pelo presidente Michel Temer, em Brasília, no último dia 12 de setembro de 2016, tornando o Brasil o terceiro, entre os grandes emissores, a ratificar o acordo de Paris, depois de China e EUA. O comprometimento do País se resume a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE ) em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma meta indicativa subsequente de redução de 43% (abaixo dos níveis de 2005) até 2030.  
 
Um fato extremamente pertinente para o setor sucroalcooleiro é que as emissões do setor de energia (que incluem transportes) vêm aumentando consideravelmente, entre os anos de 2003 a 2013; a participação nas emissões totais de CO2 no País quase triplicou, de 11% para 29%. Uma dos fatores desse aumento é oriundo da geração de eletricidade, pós 2011, com o advento da crise hídrica e consequente uso de mais térmicas. Esse aumento e a necessidade de o País começar a trilhar uma direção oposta em termos de emissões abrem uma janela de oportunidade enorme para o setor sucroalcooleiro.
 
As medidas para trilharmos o caminho da descarbonização farão com que oportunidades em economia de baixo carbono aumentem exponencialmente até 2025. A geração de energia através da biomassa é, sem dúvida, uma das grandes contribuições que o setor sucroalcooleiro pode trazer para o País alcançar suas metas de redução. Hoje, a biomassa já é responsável pela geração de 9% da energia elétrica no País, atrás apenas das fontes hídricas e fósséis; desses 9%, cerca de 80% são gerados através do bagaço da cana-de-açúcar, entretando a velocidade da expansão da geração de energia elétrica em unidades sucroenergéticas vem dimuindo.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de um universo de 355 usinas, apenas 177 exportam excedentes de bioeletricidade à rede, ou seja, existe um grande potencial de desenvolvimento nesse campo; o último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024) indica que a geração de bioeletricidade sucroenergética para a rede tem potencial para chegar a mais de seis vezes o volume de oferta à rede em 2015. Por que não aproveitamos esse potencial?

O fato de, hoje, termos usinas sucroenergéticas no Brasil capazes de gerar 375 mil MWh/ano, o suficiente para abastecer uma cidade de 350 mil habitantes, através de equipamentos que chegam a ter 73,5 MW de potência, nos comprova que tecnologia não é problema, entretanto um dos principais gargalos está na falta de ambiente regulatório que promova segurança e expansão da geração por biomassa. 
 
A ausência de uma política robusta de contratação de biomassa nos leilões de energia é um não facilitador para a expansão no setor. No ano de 2008, a biomassa de cana-de-açúcar chegou a emplacar 31 projetos nos leilões de energia, somando 541 megawatts médios contratados; a fonte chegou a representar 32% do acréscimo anual de capacidade instalada de geração de energia no Brasil, mas esse fator começou a diminuir e, em 2016, a previsão é de que seja apenas 7% da geração incremental.

Essa imprevisibilidade afeta toda a cadeia sucroalcooleira, ou seja, dos fornecedores de equipamentos e tecnologia que devem se estruturar com fábricas, capacidade técnica e capilaridade de pós-atendimento; as unidades sucroenergéticas devem planejar seus investimentos e plano de negócios; trabalhadores se preparam para trabalhar e atender à demanda desse mercado e de serviços de apoio para a operação do negócio.

O aumento de leilões regionais por fontes que considerem as externalidades positivas da biomassa para matriz energética brasileira, assim como uma política geral de País, e não de governo, para etanol e bioeletricidade, seria um grande facilitador para o crescimento da geração através da biomassa no País. 
 
Por fim, é importante salientar que é bom que o País tenha uma matriz energética diversificada e balanceada; isso dá segurança no despacho de energia para o grid, assim como deixa o País mais preparado para eventuais alterações climáticas no futuro, por isso devemos pensar estrategicamente em como fomentar que a indústria sucroalcooleira seja um dos principais caminhos para que o País atinja seu comprometimento com a redução de suas emissões de GEE, isso não vai ao encontro apenas dos players do setor, mas também de toda a sociedade brasileira.