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Wokimar Teixeira Garcia

Coordenador do Laboratório de P&D do CTC

Op-AA-27

Qualidade

Falar de qualidade, hoje em dia, é muito bom. Estamos vivendo uma época em que a busca pelo melhor resultado em todos os pontos do negócio é imprescindível para o sucesso e a permanência no mercado. De um lado, temos a exigência do cliente para que o produto a ser adquirido seja cada vez melhor e de menor preço.

De outro, se exige que a indústria aumente a produção em menor tempo, com maior eficiência e menores custos. Estamos, portanto, perante uma guerra de interesses em que só há acordo quando um idioma global é posto em discussão: qualidade. O que se entende por qualidade? Qualidade tem sua definição baseada em duas ópticas: a do produtor e a do cliente.

Na visão do produtor, a qualidade está associada à elaboração de algum produto que vá ao encontro das necessidades do cliente. Na visão do cliente, a qualidade está relacionada à utilidade ou utilização do produto, e quase sempre, ligada ao seu preço. Dessa forma, no setor sucroenergético, a qualidade dos produtos se traduz nas especificações estabelecidas pelo cliente que, ao longo dos anos, vem crescendo, a ponto de chegarmos a exigências não cabíveis ao açúcar e/ou ao etanol.

Tais exigências significam a elaboração de listas de itens que vão desde as características visuais do produto, como cor e aparência, até a busca pela presença de elementos em PPB (partes por bilhão), passando pelas características físicas, como umidade, densidade e outras.

O veterano açúcar, estabelecido como uma commodity há muitos anos, de certa forma tem uma condição melhor, pois o padrão de qualidade exigido é mais uniformizado e a maioria dos procedimentos analíticos para determinação dessas características são regulamentados pela Icumsa - International Commission for  Uniform Methods of Sugar Analysis.

A partir da década de 90, com o avanço da globalização e a necessidade mundial de buscar fontes renováveis de energia – nesse caso, combustíveis que pudessem substituir os fósseis –, houve uma enorme procura pelo uso do etanol de cana-de-açúcar, que é, até hoje, a mais viável fonte renovável de combustível.

Porém, o mundo entrou em uma discussão sem precedentes na história do etanol para fins combustíveis, em que surgiram exigências de especificações desde as mais simples até as que colocavam o etanol a ser queimado nos motores com qualidade semelhante à de bebidas. Houve um grande esforço de entidades brasileiras em reuniões, seminários e congressos internacionais com o objetivo de uniformizar as exigências para um etanol combustível.

Em 2007, foi criado o “Bioetanol Task Force”, um grupo tripartite composto por Brasil, União Europeia e Estados Unidos. Em um primeiro momento, o objetivo desse grupo era chegar a um consenso e estabelecer um conjunto de especificações mínimas e coerentes com a utilização do etanol como combustível, como temos no Brasil as especificações estabelecidas pela ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, que atendem e garantem adequadamente a qualidade do etanol para fins combustíveis, visando à preservação dos motores e à eficiência do produto.

Esse esforço chegou a um padrão para alguns itens, como cor, aparência, condutividade, sódio, sulfato, enxofre, cobre e ferro. Porém, encontrou dificuldades na exigência relativa ao teor de água para o etanol anidro. Enfim, não foi possível estabelecer uma padronização na qualidade do etanol para uso internacional. Outro item de relevância que está intrinsecamente ligado à qualidade dos produtos é: quem vai medir tais características com garantia de resultados?

Todo o trabalho de uniformização de especificações e procedimentos perde o sentido se não houver quem saiba medir e possa garantir tais resultados. A partir daí, vem a necessidade de uniformizar os procedimentos internacionalmente e ter laboratórios capacitados para que os resultados obtidos não influenciem a qualidade dos produtos.

O laboratório de análises do CTC, vem há mais de 40 anos, se preocupando com esse assunto e dedicando esforços para atender a essa necessidade, medindo nos produtos açúcar e etanol o maior leque de itens já buscados até hoje, tendo em vista garantir ao cliente a qualidade do produto, sendo o laboratório de maior escopo acreditado pelo Inmetro no Brasil para ensaios (procedimentos analíticos) em açúcar e etanol.

Podemos dizer, com tranquilidade, que o açúcar e o etanol brasileiros têm condições de atender especificações nacionais e internacionais, tanto que o Brasil é, atualmente, o maior exportador de açúcar e um potencial exportador de etanol.
Resumindo, podemos dizer que o termo qualidade, apesar de abstrato e deveras abrangente, é o assunto que percorre o setor sucroenergético desde o desenvolvimento das variedades de cana até os produtos finais.

Passa pela qualidade da lavoura, do corte, carregamento, transporte, recepção, processamento, equipamentos e condições do processamento, insumos, purificação, armazenamento, carregamento e entrega ao cliente. Cada um desses itens tem ainda uma lista de exigências necessárias a serem seguidas, e que, se atendidas, garantem a qualidade dos produtos conforme a necessidade de cada cliente.