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José Ronaldo Vilela Rezende

Líder de Risk Assurance Service para o agronegócio da PricewaterhouseCoopers

Op-AA-44

Gestão de riscos: você já pensou nisso?

Gerenciar riscos é essencial para uma boa gestão: evita falhas, ineficiências e, principalmente, permite administrar melhor os custos de produção. E é por meio do mapeamento dos processos e da identificação dos riscos e dos controles que se inicia uma boa gestão de riscos nas empresas. O segundo passo é estabelecer normas e procedimentos, quando eles não existem, bem como analisar constantemente a efetividade dos controles para assegurar que os riscos estejam sendo mitigados.

Obviamente, para isso, é necessário definir claramente os papéis e as responsabilidades, de acordo com o modelo de gestão. Surge, então, um aspecto importante, que é o envolvimento da alta administração, o denominado Tone at the top (o tom vem do topo, numa tradução literal), na adoção de dado modelo, de forma que todos os profissionais da empresa se sintam engajados.

Segundo levantamento realizado pelo grupo de especialistas em Governança, Riscos e Compliance do Centro de Excelência em Agronegócio da PwC, cerca de 72% dos processos das usinas apresentam alguma ineficiência.

As áreas que demonstram maior grau de ineficiência são a agrícola e a de suprimentos. Exemplos de fraudes recorrentes em alguns processos que merecem atenção:

 

  • Apontamentos manuais: em grande parte das usinas, o apontamento dos insumos e serviços ocorre de forma manual, estando sujeito a erros e inconsistências de toda a natureza, gerando desvios no custo médio, erros nas análises de produtividade, entre outros. Além disso, essa atividade fica sob responsabilidade de apenas uma pessoa, o “líder de frente/equipe”, que não tem seus apontamentos revisados.
  • Recapeamento de pneus: observamos, em diversas usinas, que os prestadores de serviços têm acesso ao depósito de pneus usados e são responsáveis por analisar e decidir quais podem ser recapeados ou descartados. Porém não há controles efetivos da usina sobre esse processo, e, em várias situações, observou-se a ocorrência de desvios, uma vez que os pneus que eram declarados como descartes acabavam sendo recapeados e/ou revendidos, em alguns casos, para a própria usina.
  • Ausência de conferência no recebimento de insumos: caminhões de insumos entram nas usinas sem serem pesados ou adequadamente vistoriados, ocasionando, muitas vezes, adulteração do peso do insumo realmente adquirido.

Fraudes como essas ocorrem na maioria das indústrias, mas, especialmente, quando se observam três fatores:

1. Oportunidade: causada por controles internos ineficazes, ausência de fiscalização e regulamentação;
2. Motivação ou pressão: por desempenho ou problemas pessoais de cunho financeiro;
3. Racionalização: quando o responsável pela fraude tem uma justificativa para cometê-la e/ou uma possibilidade de criar situações e razões para justificar os seus atos. Argumentos como “sempre foi feito dessa forma” ou “eu desconhecia as regras” são comuns nesse caso.

E não é só isso. As usinas de cana são complexas, principalmente por unir dois setores diferentes: o de transformação, com seus processos industriais e administrativos, e o agrícola, com as singularidades dos processos do campo. Em média, as usinas possuem 18 macroprocessos, os quais estão permeados por diversos riscos, principalmente, operacionais (agrícolas e industriais), financeiros, ambientais e de imagem.

O levantamento da PwC também identificou 840 riscos relacionados a esses processos, que vão desde a compra de insumos até a comercialização dos produtos finais, passando por todos os seus processos principais e de apoio administrativo (backoffice).

O processo agrícola é o que possui o maior número de riscos identificados, 213. Em seguida, vem o processo de suprimentos, com 123 riscos, e, em terceiro lugar, o processo de recursos humanos, com quase 70 riscos mapeados.

Juntas, essas três áreas respondem por quase a metade de todos os riscos mapeados em uma usina. Falaremos brevemente da área agrícola e de suprimentos. Os processos da área agrícola, responsável por cerca de 70% dos custos de produção de açúcar e etanol, são os principais pontos que requerem melhoria e estão relacionados com o registro das operações e manejo da cultura.

No que se refere ao manejo da cultura, a eficiência e a redução de custos estão atreladas ao uso correto dos insumos, desde a escolha dos produtos até a forma de aplicação, passando pelo processo de compras, recebimento, etc. Um instrumento que pode propiciar melhor controle no manejo e contribuir para os ganhos de eficiência agrícola é a Agricultura de Precisão (AP). Essa tecnologia possibilita a identificação das condições gerais das áreas produtivas e permite administrar o uso de insumos por meio de dosagens específicas de acordo com as necessidades de cada área.

Na prática, isso se traduz no uso de tecnologia para gerar informações confiáveis para a tomada de decisão no campo. Vale ressaltar, porém, a importância das fases que antecedem a adoção da tecnologia, como o devido mapeamento e gestão dos diversos processos, riscos e controles pertinentes a cada área.

Controles Agrícolas e Agricultura de Precisão

Em relação a suprimentos, o que temos visto é que nem sempre a gestão dos estoques é adequada, o que pode ocasionar desvio de materiais, apontamentos errados, volume incompatível com a demanda e/ou obsoletos, entre outros. Tais fatores levam a empresa a registrar perdas financeiras significativas. Uma prática recomendada, embora nem sempre utilizada, é a homologação de fornecedores e produtos. A adoção dessa prática pode reduzir substancialmente o risco de uma compra indevida e/ou em desacordo com as diretrizes corporativas da usina, além de mitigar riscos do não cumprimento dos contratos de venda.



Enfim, o mercado vem passando por diversas mudanças, em um ambiente competitivo crescente a cada ano. A existência de processos bem definidos, normas, procedimentos e controles documentados e regularmente testados pode reduzir perdas financeiras, aumentar a confiança das informações, tornar a tomada de decisão mais precisa e ágil e oferecer maior confiança aos acionistas e ao mercado. Conhecer e promover melhorias no nível de eficiência de seus processos é vital para que uma empresa possa buscar crescimento estruturado e de longo prazo.