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Igor Montenegro Celestino Otto

Presidente executivo do SIFAEG-GO e Coordenador do Fórum Nacional Sucroalcooleiro

Op-AA-13

Grandeza embaçada

Os brasileiros deveriam ter muito orgulho de sua agroindústria cana-vieira. Deveriam, mas infelizmente não é isso que percebemos nas pessoas. E é importante investigarmos o porquê. O Brasil tem a maior produção de cana-de-açúcar do mundo, o que ocupa apenas 0,6% do território nacional. O nosso país também é o maior produtor de açúcar do planeta, sendo responsável por 40% de todas as exportações mundiais de açúcar (mercado livre).

Nos biocombustíveis, o país é o pioneiro na produção dessa energia renovável, tendo implantado o programa de álcool carburante, com 30 anos de antecedência, em relação ao resto do mundo. Hoje, o Brasil é o maior exportador de etanol do planeta e o segundo maior produtor, atrás apenas dos EUA. Sob o prisma econômico, o segmento sucroalcooleiro injeta na economia brasileira mais de R$ 30 bilhões de reais anualmente e, em 30 anos, foi responsável por uma economia de mais de R$ 250 bilhões de reais em importações de petróleo, em virtude da substituição de gasolina pelo etanol.

Sob o ponto de vista social, o setor de açúcar e álcool é o que mais gera empregos no agronegócio brasileiro, cerca de 1 milhão de trabalhadores diretos e 3 milhões de empregos indiretos ou induzidos.

Os salários dos trabalhadores rurais da cana-de-açúcar são 70% maiores do que a média do trabalho rural brasileiro e os trabalhadores industriais das fábricas de açúcar e álcool recebem 30% mais do que a média da indústria brasileira. Um segmento produtivo tão grandioso como este devia esperar que o seu povo se orgulhasse dele. Qualquer país do planeta gostaria de possuir essa força produtiva, social e econômica, que é a melhor e a mais importante do planeta, em se tratando de açúcar e álcool.

Mas, a grandeza tem sido embaçada ao longo do tempo, por fatos pontuais de uns poucos que acabam por macular a imagem do todo. O respeito ao trabalhador industriário e rural da agroindústria canavieira tem sido uma prática constante nas empresas do setor, mas vêm acontecendo problemas em algumas unidades, que precisam ser definitivamente banidos.

Com o advento da NR-31, os trabalhadores rurais, especialmente, passaram a ter direito a novas condições de trabalho no campo, e o setor sucroalcooleiro deve ser exemplo no cumprimento integral dessa norma. O cumprimento da CLT e das demais NRs, do Ministério do Trabalho e Emprego, também precisa ser um dever inarredável dos produtores de açúcar e álcool.

A contratação de trabalhadores da região Norte-Nordeste, pelas empresas da região Centro-Sul, deve obedecer ao rito legal, sendo inaceitável qualquer procedimento contrário. Como já acontece na maioria das empresas do setor sucroalcooleiro, o respeito à dignidade do trabalhador urbano e rural deve ser o preceito primeiro da relação entre a empresa e seus colaboradores. E com esse tema, não pode haver concessões.

Outro assunto que às vezes turva a imagem do setor canavieiro é o respeito às normas ambientais. No geral, a situação existente demonstra grandes avanços, mas é muito importante que a defesa do meio ambiente faça parte da agenda diária de prioridades do setor sucroalcooleiro, tanto quanto as questões comerciais, financeiras e de produção.

O investimento no crescimento da colheita mecanizada de cana-de-açúcar, para substituição gradual do corte manual, é uma ação concreta para extinguir a queima da palha de cana, em médio prazo. A manutenção de reservas legais e de áreas de preservação permanente, com o reflorestamento da mata nativa nessas regiões, é outra ação que deve ser uma prática permanentemente, dentro das empresas do setor.

A preservação de nascentes de água e a proteção da fauna devem ser alvos de vigilância constante dos produtores do segmento canavieiro. O aproveitamento integral dos resíduos líquidos e sólidos da produção de açúcar e álcool já é realidade e deve continuar recebendo atenção especial. A lavagem dos gases das caldeiras, que já ocorre em muitas unidades, precisa ser utilizada para todas as demais. Enfim, as empresas do segmento de açúcar, álcool e bioenergia vivem da terra e, mais do que qualquer outra atividade agroindustrial, precisam dar, à sustentabilidade ambiental, o caráter prioritário que o assunto merece.

Nesse tema, bem como no anterior, inexiste espaço para desculpas, mas apenas para ações concretas. Em geral, os produtores de açúcar e de álcool são frontalmente contra o descumprimento de normas trabalhistas e ambientais. As exceções existentes apenas confirmam a regra. A fiscalização dos órgãos públicos competentes de proteção ao trabalho e ao meio ambiente possui total apoio do setor sucroalcooleiro. Depois de todo o trabalho preventivo de orientação das empresas, a melhor forma de educar o empresário que descumpre a lei é a punição exemplar de sua empresa.

O setor sucroalcooleiro não pode ficar apenas na retórica destes dois temas. É preciso passar à ação. Programas de autogestão do segmento canavieiro, relacionados à sustentabilidade ambiental e à melhoria das relações e condições de trabalho, devem ser desenvolvidos em todas as regiões, como resposta concreta aos anseios da sociedade brasileira e à comunidade internacional. É inadmissível conviver com o descumprimento de leis e isso certamente será banido no Brasil, no setor de açúcar e álcool.  

É preciso arejar as práticas de gestão e produção, para desembaçar a imagem. Adotando ações concretas na seara da responsabilidade socioambiental, o segmento sucroalcooleiro, em muito breve, irá fazer justiça à sua grandeza, transformando-se num modelo de gestão ambiental e de relações do trabalho. Então, a agroindústria canavieira brasileira vai brilhar ainda mais forte, beneficiando, com a força da sua energia renovável, toda a sociedade mundial.