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Miguel Rubens Tranin

Presidente da Alcopar

Op-AA-31

O que pretende o governo?

A sociedade brasileira vem cobrando do setor de bioenergia um posicionamento claro sobre o futuro do etanol. Em 2011, houve muitas críticas diante da incapacidade da indústria em atender à demanda, fator que elevou os preços do produto e reduziu a sua competitividade perante a gasolina.

Ao contrário do que se viu num passado recente, em que o etanol ampliou seu mercado de tal maneira que a indústria automotiva foi forçada a adequar-se, concebendo o veículo flex, o panorama atual é inquietante.

Não é correto quando alguém afirma que a menor oferta do produto se deve, supostamente, ao fato de que o setor priorizou a produção de açúcar em detrimento do etanol. É preciso entender: esse combustível, apesar de todas as vantagens que oferece sob o ponto de vista social, econômico e ambiental ao País, atravessa um período repleto de interrogações. Daí, pergunta-se: diante de um quadro tão obscuro, quem em sã consciência se animaria a nele investir?

A atividade – cuja importância é das mais relevantes para o desenvolvimento nacional, abrangendo uma grande cadeia da qual participam milhares de empresas de todos os portes e milhões de trabalhadores diretos e indiretos –, depende de medidas concretas e definitivas por parte do governo federal.

Para que haja uma retomada da produção de etanol, se faz necessário, em primeiro lugar, que o governo federal defina uma política pública explicitando, com clareza, o que deseja em relação aos combustíveis renováveis.

Sem isso, nada feito. Como ainda não se sabe o que o governo pretende para o setor de bioenergia, permanecemos em meio a um indefinido, demorado e preocupante compasso de espera. Se forem estabelecidas diretrizes bem definidas, envolvendo toda a cadeia de produção de cana-de-açúcar (açúcar, etanol e energia elétrica), garantindo sua viabilidade, não há dúvida: a indústria poderá, enfim, reorganizar-se e voltar a investir. É o que ela quer e precisa.

Nesse contexto, importante ressaltar a flagrante distorção que vem prejudicando o etanol. De um lado, o preço da gasolina, seu concorrente direto, é mantido artificialmente estagnado há anos; de outro, a cotação do produto derivado da cana flutua ao sabor do mercado. Ou seja: enquanto de um lado se pratica a saudável e bem-vinda desoneração da gasolina, de outro o que se vê é um tratamento desigual para com o etanol.

Protege-se o fóssil, o poluente, punindo o renovável, o ambientalmente adequado, lembrando que o combustível extraído da cana-de-açúcar – uma solução brasileira de importância indiscutível para a melhoria do ar das metrópoles, hoje altamente poluídas –, é o que apresenta o custo mais competitivo em todo o mundo. Pergunta-se: por que não, também, desonerar o etanol? Em cada litro desse produto, incidem PIS/Cofins, sem falar do ICMS. Seria, com certeza, um bom começo.

A situação se agrava à medida que o tempo vai passando, pois, em meio a esse cenário desanimador, os canaviais envelhecem, e vai ficando cada vez mais difícil recuperar o potencial produtivo das lavouras. Com a gradativa e inevitável redução de produtividade, diminui o volume de matéria-prima na indústria, hoje parcialmente ociosa. Por outro lado, os custos de produção aumentaram em mais de 40% nos últimos cinco anos. Há uma década, o salário mínimo brasileiro que era de R$ 180,00, hoje é de R$ 622,00, uma elevação de 246%.  

Alguém poderia sugerir: o BNDES tem muito dinheiro para emprestar. No entanto, quem se encorajaria a investir, colocando o próprio patrimônio em risco, diante de um retorno tão duvidoso?

Como se vê, os desafios são muitos, lembrando que, para produzir mais etanol, é preciso investimentos urgentes em nossas instituições de pesquisa e desenvolvimento. Por outro lado, apenas renovar o canavial é insuficiente: torna-se necessário expandir a área cultivada, de maneira a se vislumbrar a chance de, um dia, acompanhar a expansão da frota brasileira, cujo crescimento médio é da ordem de 7,5% ao ano, com previsão de chegar a 45,6 milhões de unidades em 2015.

Enquanto nada acontece, o etanol é relegado a um plano secundário, sem condições de competir.  Esperamos que o governo federal, pelo seu entendimento e pela sensibilidade já demonstrados para com setores estratégicos da indústria nacional, dedique especial atenção a esse assunto, pela sua importância e gravidade. A ninguém, afinal, interessa o fim do etanol.