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Ailto Antonio Casagrande

Professor Titular de Produção Vegetal da Unesp

Op-AA-05

Sistema de preparo do solo versus a produção da cana

O preparo aprimorado do solo é questão fundamental para o sucesso da cultura da cana-de-açúcar, porque está relacionado ao controle de plantas daninhas, a incorporação de adubos corretivos, a operação de sulcação-adubação, a brotação das gemas, ao crescimento radicular, a absorção de nutrientes, a operações de corte, ao carregamento e transporte, e a longevidade da cultura.

O diagnóstico da compactação é o primeiro passo, antes de se optar pelo sistema de preparo do solo que deverá ser utilizado. A operação da compactação pode ser visível sem usar métodos técnicos apropriados, observando-se a formação de crostas, trincas nos sulcos de rodagem dos tratores, zonas endurecidas abaixo da superfície, água estagnada, erosão pluvial excessiva, aumento da energia gasta pelas máquinas de preparo do solo e cultivo, e a presença de resíduos de cultura não decompostos depois de meses de incorporação.

Quanto às culturas, os sintomas seriam a queda no índice de emergência, grande variação no tamanho das plantas (ondulações), folhas amarelecidas, sistema radicular raso, raízes deformadas, grande diferença de crescimento, quando se consideram períodos secos e úmidos. Todavia, há a necessidade do diagnóstico mais preciso, porque esses sintomas podem ser confundidos com os de pragas de solo, doenças e nematóides, além da aplicação irregular de fertilizantes, corretivos e herbicidas.

Dentre os métodos mais precisos para diagnosticar um estado de compactação do solo, cito o coeficiente de condutibilidade hidráulica, a porosidade, a densidade do solo, a taxa de infiltração, o uso de penetrômetros, a análise do sistema radicular, com abertura de trincheiras adequadas para esse fim. Todos esses métodos, se utilizados adequadamente, e relacionados com a quantidade do sistema radicular, poderiam ter sucesso.

O problema maior, na hora da decisão, para qualquer um dos métodos, é estabelecer parâmetros que vão nos informar sobre o grau de compactação, pois sabemos que esse varia de solo para solo. Para o coeficiente de condutibilidade hidráulica, classificou-se valores entre 1 e 10 pol.hora-1 como excelente permeabilidade e retenção de água.

Com relação à macroporosidade, a determinação de poros supridores de ar para o sistema radicular, para os Latossolos do Havaí, volumes de macroporos entre 15 e 25% foram considerados bons, apesar da proliferação de raízes ser reduzida. Para a densidade do solo verifica-se restrições visíveis no crescimento radicular, em densidades acima de 1,35 g.cm-3.

O uso de penetrômetros tem por finalidade medir a resistência do solo à penetração, e não serve para medir a compactação do solo em termos absolutos. Autores sugerem valores acima de 2,5 MPa, para restringir o pleno crescimento das raízes e outras consideram críticos os valores que variam de 6,0 a 7,0 MPa para solos arenosos, e em torno de 2,5 MPa, para solos argilosos.

Um outro aspecto importante é o conhecimento do sistema radicular. Às vezes, o que parece ser uma camada de impedimento, nada mais é que a característica do sistema radicular. Dentre as funções do sistema radicular, estão a absorção de água e nutrientes, a sustentação da planta, e a síntese de hormônios, que são importantes para o processo de crescimento e perfilhamento da cana-de-açúcar.

Para alguns pesquisadores, é possível haver boa produção, mesmo que haja uma certa compactação de subsuperfície, desde que o solo seja fértil e não haja falta de água. Entretanto, esses autores chamam a atenção para a necessidade de um sistema radicular bem desenvolvido, porque nossa agricultura é praticada em clima tropical,que é bastante instável.

Com base no livro Qualidade Técnica do Solo: Métodos de Estudo - Sistemas de Preparo do Solo, do qual sou um dos autores, os sistemas de preparo de solo em uso atualmente poderiam ser classificados em:

1. Convencional: Gradagem pesada sobre a soqueira (ex. 16 x 32” ou 20 x 34”), depois subsolagem, ou mais uma gradagem (ex. 20 x 32”), depois uma gradagem de destorroamento (36 x 26” ou 40 x 26”) e, finalmente, uma gradagem de nivelamento;
2. Preparo reduzido: Erradicação química da soqueira, depois subsolagem com destorroador ou aração com aiveca, e gradagem de nivelamento;
3. Plantio direto: Erradicação química ou mecânica da soqueira e sulcação direta nas entrelinhas da cultura anterior.

Para outros autores de todos esses sistemas, há que considerar o esforço da máquina para tracionar os equipamentos, o que demandaria potência compatível e o conseqüente consumo de combustível. Podem ainda influenciar no esforço de tração, o tipo de ferramenta usada, as características do metal que está em contato com o solo, a curvatura e o ângulo de tração e manutenção.

Com relação ao tipo de solo, uma grade aradora (pesada) pode consumir mais energia que uma aração em solo de textura média. O contrário pode ocorrer em um solo argiloso. A profundidade de operação também influencia; incrementos de 50% na profundidade podem significar incrementos de 50% no custo energético, e incrementos de 16 a 145% de custos energético, respectivamente, para solos de textura média e argilosa, em comparação com o solo leve.

No estudo de sistema de preparo do solo, realizado pela Unesp, Campus de Jaboticabal, IAC, Esalq, CTC e Ufscar, pôde-se detectar que:

1. O sistema convencional pode ser substituído por outros sistemas que requeiram menor número de operações, além de deixar o solo mais exposto à erosão;
2. O plantio direto é o que exige menor número de operações, além de deixar o solo pouco exposto à erosão; todavia, na maioria dos experimentos realizados e que mostraram vantagem deste sistema, o solo não apresentava problema de compactação;
3. Os experimentos têm demonstrado benefícios à produção, quando a opção é a de realizar uma aração profunda (40-45 cm) com arado de aiveca; essa operação, se bem feita, pode substituir a operação de subsolagem, além de ser um bom incorporador de corretivos e controlar melhor a braquiária e pragas de solo;
4. O preparo reduzido com erradicação química da soca e escarificação (com destorroador) de 5 hastes, a 40 cm de profundidade, já é uma boa opção ao convencional, principalmente em solos que apresentam um certo grau de compactação; também é uma boa escolha para áreas mais declivosas, onde ocorrem mais problemas de erosão.

Na cana crua também tem sido uma boa alternativa ao arado de aiveca, enquanto não desenvolvermos tecnologias de picação da palha, ou outras técnicas que facilitem trabalhar sobre o colchão de palha. Fora isso, em cana crua, a gradagem pesada, antes do arado de aiveca tem sido a opção, quando não houver tempo para a erradicação química; quando a palha já está bem decomposta, a aração é realizada com menos dificuldade.

Completando, bons resultados têm sido obtidos com a subsolagem, que é feita na linha do sulcador; o “beija flor” foi construído para esse fim e proporciona melhores condições de penetração radicular, além de permitir que o sulco fique mais raso, de facilitar a operação de nivelamento da cana-planta e favorecer a colheita mecanizada. Encerrando, utilizo uma frase de Mário Ortiz Gandini, sobre o planejamento de talhões, adaptando-a, agora, para o preparo do solo: “preparar o solo sem jamais abrir mão do controle da erosão”.