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Carlos Eduardo de Siqueira Cavalcanti

Chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES

Op-AA-15

Desafios e oportunidades da cogeração de energia elétrica, a partir do bagaço da cana-de-açúcar

O aumento das preocupações com as conseqüências da intensificação do aquecimento global, em conjunto com a redução das fontes de energia tradicionais, de origem fóssil ou hidrelétrica, situadas próximas aos centros de consumo, têm motivado o desenvolvimento de projetos de geração distribuída de energia, a partir de fontes renováveis, em todo o mundo.

No Brasil, o aumento significativo da participação dos veículos de motores flexíveis na frota tem gerado demanda interna, sem precedentes, para o etanol. Em função disso, a produção de etanol, obtido a partir da cana-de-açúcar, tem crescido constantemente, em bases competitivas, através de uma maior profissionalização do setor, consolidação visando ganhos de escala e, finalmente, investimentos crescentes em eficiência industrial.

Esses investimentos em expansão e ganho de eficiência do setor sucroalcooleiro, em um contexto de escassez energética e restrições ambientais crescentes, favorecem a viabilidade de implantação, em larga escala, de projetos de bioeletricidade nas usinas. Assim, a bioeletricidade tem se mostrado uma atividade complementar importante para as usinas, ao proporcionar retornos interessantes aos investimentos, além de permitir uma estabilidade de receitas ao negócio.

A cogeração por meio da biomassa de cana é obtida a partir da queima do bagaço em caldeiras, com geração simultânea de vapor – usado no processo industrial, e eletricidade – para consumo próprio e venda do excedente para as distribuidoras de energia ou para consumidores livres. Até recentemente, os investimentos em cogeração de energia a partir de biomassa destinavam-se para consumo interno das usinas.

Em 2004, estimuladas por programas de incentivo, como o Proinfa, por preços crescentes de energia elétrica, verificados nos Leilões de Energia Nova promovidos pela Aneel e pelo desenvolvimento de equipamentos nacionais com qualidade e tecnologia, que permitem gerar energia com eficiência, as usinas passaram a incluir em suas estratégias, a possibilidade de gerar excedentes de energia elétrica e disponibilizá-los ao sistema elétrico.

Em função disso, a demanda por recursos do BNDES para projetos de cogeração intensificou-se em período recente, sobretudo a partir de 2005. Conforme ilustra a tabela a seguir, nos últimos sete anos, o total de desembolsos alcançou cifra superior a R$ 1 bilhão e, desse total, mais de 60% concentrou-se entre 2005 e 2007. Tal desempenho, contudo, poderia ter sido ainda melhor. Por um lado, algumas usinas têm se queixado da demora na obtenção da licença ambiental e também da incerteza com relação aos resultados dos leilões de energia, fatos que têm contribuído para reduzir o interesse pelo investimento na cogeração.

Além disso, os projetos greenfield têm se localizado, em razão do menor custo de produção, em estados de menor densidade da rede de transmissão de elétrica, como é o caso de Mato Grosso do Sul e Goiás. Essa menor densidade, por exigir investimentos elevados na conexão da usina à rede de transmissão, tem diminuído o retorno esperado do investimento em geração e, conseqüentemente, reduzido o interesse das usinas.

Como forma de mitigar o problema de acesso à rede, a Cogen, está ultimando um modelo de otimização da localização das estações coletoras em Mato Grosso do Sul e Goiás. O banco de dados está sendo abastecido com informações de São Paulo e Minas Gerais. Desta maneira, em breve, será possível avaliar, em bases objetivas, a melhor solução para a conexão das unidades de cogeração à rede de transmissão elétrica.

Tal solução não é exclusivamente de engenharia, posto envolver mudanças regulatórias expressivas, em especial, o tratamento tarifário da energia de cogeração, que é um fator crítico. Outro ponto importante é a capacidade de investimento das distribuidoras estaduais na região de expansão, onde o BNDES também poderá cumprir papel importante.

Finalmente, se for possível equacionar as dificuldades apresentadas, o BNDES poderá estimular a produção de energia excedente nos projetos em análise, por meio de condições adequadas – sejam na concessão de créditos às usinas ou mesmo aos fabricantes de bens de capital destinados à cogeração – e, com isso, estar-se-á garantindo a possibilidade de incorporação, em todo o seu potencial, da bioeletricidade, na matriz energética brasileira.