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Roberto Luis Troster

Economista

Op-AA-43

Falta apenas a energia cívica

Energia hidroelétrica, eólica, nuclear, solar e térmica o Brasil tem e consegue correr atrás de mais, para tanto, falta apenas a energia cívica. Urge sua geração. Cada dia que passa, o sonho dos brasileiros cantado no hino nacional fica mais longe. "Gigante pela própria natureza,/ És belo, és forte, impávido colosso,/ E o teu futuro espelha essa grandeza." Esses versos mostram como são antigos os desejos de melhorar o desempenho do País.

Não se consegue crescer no grito ou com protestos esporádicos. É necessária uma energia cívica que coordene esforços de todos na direção correta. Os problemas que o setor de açúcar e álcool e o País enfrentam não são triviais, mas são superáveis. As raízes das dificuldades são três: corrupção, inépcia e conformismo, e sua superação está em justiça e boa gestão, na elaboração e na concretização do sonho de um Brasil melhor e em um choque de energia cívica.

É possível traçar um paralelo com 1932. Na época, paulistas, inconformados com o que ocorria na capital da República, se organizaram e lutaram contra a ditadura. O civismo paulista fez história. Mesmo derrotados nos campos de batalha, ganharam a guerra e fortaleceram as instituições nacionais. Vive-se um momento em que a realidade cobra o preço do neopopulismo praticado nos últimos anos. Os custos econômicos e sociais são altos. Mais grave é o conformismo que está se propagando como uma praga no País. Há uma letargia inaceitável. Na capital da República, há ações que perpetuam e agravam a situação atual.

Enquanto o País necessita de ajustes fiscais no curto prazo, no Congresso Nacional, foram feitas 600 propostas de emendas com mais gastos. Um sinal inequívoco de falta de comprometimento com o futuro do Brasil. Apesar de a estabilização da moeda completar 21 anos no fim deste semestre, quase não se avançou na agenda do desenvolvimento do País. Os problemas são graves, mas não insolúveis, e o potencial do Brasil é grande.

Mesmo considerando uma desaceleração da economia chinesa e os problemas da Europa, a economia mundial está crescendo a taxas baixas porém crescentes. O resto do mundo tem uma dinâmica própria que sustenta a demanda por produtos brasileiros, com impacto positivo na atividade econômica interna. Ilustrando o ponto, as exportações brasileiras projetadas para este ano, US$ 230 bilhões, são 50% maiores que as de cinco anos atrás.

O quadro macroeconômico, de inflação alta, dívida pública em trajetória perigosa e perda de competitividade, é difícil, mas pode ser revertido com choque rapidamente. O cenário brasileiro permite sonhar e voar alto. Não para este ano, há um ajuste a ser feito, que pode permitir que o Brasil comece a crescer a taxas parrudas em dois ou três anos e as sustente por muito tempo.

O mundo está se transformando. Avanços tecnológicos e alterações na estrutura econômica criam novas oportunidades de crescimento, que têm que ser aproveitadas. Mesmo assim, insiste-se em repetir mais do mesmo, em vez de ajustar-se à nova realidade. Há uma agenda latente de reformas que tem que ser retomada, para aproveitar as mutações.

Avançar na educação, nas relações trabalhistas, na questão fundiária, na previdência, numa justiça eficiente, na redução da burocracia, na segurança, na infraestrutura legal etc. Há um conjunto de subsídios e privilégios a ser revisto; a estrutura de gastos e tributos não está em sintonia com a realidade do País. Não se pode usar, neste século, o plano de voo do passado.

O Brasil pode continuar com o piloto automático ou traçar um plano de voo num patamar em sintonia com suas potencialidades, ou seja, um novo ciclo de crescimento acelerado. Dois objetivos devem ser considerados como prioritários no ajuste da política econômica: a solvência do Estado no curto prazo e a promoção do crescimento sustentado nos próximos anos.

A dívida pública está numa trajetória perigosa, já passou a barreira dos 60% do PIB e pode se tornar incontrolável. Exige um tratamento de choque para garantir a solvência do Estado. O segundo objetivo é a promoção do crescimento econômico sustentável, decorrente da necessidade, cada vez mais impreterível, de que a economia brasileira retome e mantenha níveis de crescimento compatíveis com seu potencial.

Os níveis atuais de crescimento estão bem aquém do potencial do País. Somente uma retomada consistente e balanceada do crescimento viabilizará uma redução duradoura da pobreza e um aumento de oportunidades para todos os brasileiros. Com esses objetivos e o quadro econômico presentes, torna-se necessário um detalhamento das ações para a redução da pobreza, as reformas institucionais, as medidas para melhorar a qualidade de vida, a gestão macroeconômica, as políticas setoriais, incluindo a de açúcar e álcool, e a redefinição do papel do governo. Nesse sentido, está a importância da energia cívica dos paulistas para propor e, dentro das regras democráticas, impor a direção a ser seguida para concretizar o potencial de futuro do País.