Me chame no WhatsApp Agora!

Jorge Luis Donzelli

Consultor da DZLL - Consultoria & Manejo Agronômico

Op-AA-48

Manejo agronômico de cana-de-açúcar
O que é manejo agronômico? A definição é simples. Manejo é o conjunto de práticas ou procedimentos que, aplicados aos fatores de produção, resultam na produção física. Em síntese, o manejo agrícola é a reunião de todas as tecnologias disponíveis que podem estar ou não a serviço do produtor. Esse conjunto deve ser aplicado em uma base, que é chamada de fatores básicos ou pilares da produção: o clima e o solo.

Assim divididos, o elo que os une, o manejo agronômico, se transforma no terceiro e talvez o mais importante fator, pois carrega o conhecimento tecnológico. Assim, uma reflexão mais detalhada do assunto nos revela que esses fatores ou pilares da produção/produtividade podem ser divididos, então, em três: clima, solo e manejo (agronômico). Diversos profissionais encarregam-se de desenvolver inovações nas múltiplas áreas do conhecimento agronômico, e outros tantos, do outro lado na produção, a aplicá-las.  

Para que esse conjunto de regras possa ser adequadamente utilizado, é fundamental o conhecimento inicial dos pilares básicos – solo e clima. É neles e para eles que são desenvolvidas as máquinas, os fertilizantes e os cultivares. Dessa sequência derivam o controle das pragas, doenças e toda a base da indústria agroquímica; enfim, o manejo agronômico. Pensando em conhecimento, o clima talvez seja, dos três fatores, o mais difícil de entender e de controlar.

Diversos estudos são dedicados a entender os processos que governam o clima e o tempo, aqui representados pelo regime das chuvas, pela intensidade de radiação solar, pela temperatura (relevo), pela alternância e duração das estações e pela sua influência na fenologia da cana-de-açúcar. Nesse sentido, a definição e o estabelecimento das fronteiras das regiões climáticas (Figura 1) e o entendimento de como isso governa e afeta a produtividade têm valia para o produtor, pois estabelecem e definem tecnologias que vão ser utilizadas no outro pilar da produção, o manejo agronômico. A recomendação de variedades (manejo) e o estabelecimento da necessidade da irrigação é um exemplo de tecnologia, e talvez uma das poucas a nos ajudar a “controlar” (manejar) o clima.

O solo, o segundo pilar da produção, é, em regra, influenciado pelo primeiro – clima – e intensamente modificado pelo terceiro pilar (manejo). É nele que residem também os fatores primordiais da sustentabilidade da produtividade. O produtor deve conhecer detalhadamente os tipos de solo presentes em sua propriedade, para, adequadamente, realizar intervenções para conservar, manter e/ou modificar temporariamente características que vão potencializar a produtividade.

Cultivares, corretivos, adubações, adição de matéria orgânica e técnicas integradas de conservação são manejos que o produtor tem ao seu dispor para alcançar as produtividades desejadas. Avançando um pouco mais na questão do conhecimento, a junção de informações de clima e de solos nos ambientes de produção edafoclimáticos organiza a questão do desenvolvimento de variedades e sua recomendação de plantio e colheita.

 
Diferentes unidades produtivas podem comparar-se e aplicar técnicas de manejo que vão desde a alocação do cultivar correto até a definição de frentes de colheita. Diferenças marcantes de produtividade podem ser observadas em unidades produtivas que se utilizam de manejos diferentes, dentro dos mesmos ambientes de produção (Figura 2).  

Diferenças de até 35% podem ser observadas em um conjunto de 6 safras. Dentro desse contexto da aplicação do manejo correto para obtenção da máxima produção, um levantamento de dados recente demonstrou que houve um decréscimo significativo na utilização de tecnologias no setor canavieiro nas últimas safras, e acrescenta: a execução inadequada de manejo agrícola agrava o problema, comprometendo o sucesso de novas variedades. 

 
Nesse sentido, a assistência técnica mais próxima dos produtores, cada vez mais afastados dos centros tradicionais, facilitaria o melhor aproveitamento das novas variedades.

Diante desses argumentos, chega-se à seguinte situação: há novas variedades de cana lançadas a cada ano. Contudo o ritmo da difusão tecnológica vem diminuindo. E, como sugere Demattê, parte da explicação reside no desempenho desses produtos, que não se provaram consistentes o bastante e, portanto, capazes de compensar o risco de troca das variedades atualmente vencedoras.

 
De fato, observa-se na Figura 3 que, em levantamento de produtividade de canavial em unidade produtora na região de Piracicaba, demonstrou-se a inadequação do manejo de colheita da unidade, com reflexo na produtividade do ano seguinte, mesmo utilizando uma variedade de última geração. 

Verifica-se que era esperada uma queda de 11% na produtividade do segundo para o terceiro corte. Entretanto introduziu-se a colheita mecânica no segundo corte e no ano seguinte (3º corte), quando a produtividade real teve uma queda de 29%. Esse estudo revela a necessidade de adequação do manejo mecanizado de colheita nessa unidade. 

Estudos já mostraram que o tráfego em solos argilosos com umidade elevada agrava a compactação e o pisoteio das linhas de cana-de-açúcar e contribui para perdas de até 30% na produtividade do ano seguinte. Verifica-se, portanto, que o manejo agronômico (gestão), de maneira geral, é o catalizador da almejada estabilidade da produção/produtividade.