Me chame no WhatsApp Agora!

Dario Costa Gaeta

Presidente da Paraíso Bioenergia

Op-AA-34

O fim está próximo

Um setor da economia que sempre foi familiar, fracionado, unido formalmente e desunido na prática está fadado ao desaparecimento. Mas o seu fim está perto, e abaixo detalharei por que assim penso.

A história do setor sucroenergético começou com uma importância local e multiplicada por milhares de municípios. Com o passar dos séculos, o primeiro grande movimento de estruturação foi o Proálcool, que permitiu um crescimento planejado e iniciou um programa real de desenvolvimento focado na matriz energética brasileira. O governo sabiamente soube fomentar o setor e, como efeito colateral, atrofiou seus músculos, sem que assim pudesse desenvolver-se sozinho.

Enquanto as asas do governo pairaram sobre o setor, a realidade desequilibrada da economia de oferta-demanda sustentou o crescimento ineficiente até o ponto de a oferta não atender à demanda. Quando a asa recolheu-se, as indústrias de etanol sofreram um dos maiores baques de sua história. Não bastasse isso, desde 1999, ainda há usinas acreditando que o governo voltará a estender sua asa protetora. Esse sentimento faz com que algumas usinas ainda ajam negligentemente, fazendo investimentos sem respaldo financeiro sustentável (leia-se investimento de longo prazo com dívida de curto prazo).

Além da falta de apoio real nos últimos 10 anos, a crise de liquidez de 2008 e a série de fatores climáticos nos últimos quatro anos, o setor padece de empatia com o governo. Digo empatia porque os mais de 500 mil empregos e sua importância no PIB brasileiro mais que justificariam um foco específico do governo no setor. O espírito batalhador e corajoso dos líderes é a única coisa que traz a longevidade ao setor, muito além do racional econômico. Parece haver um acerto de contas velado entre as partes, levando as usinas ao raquitismo, e algumas já estão moribundas.

A meu ver, claro está que o governo não vai estender a mão ao setor e que a luz que sinalizam não é focada nas usinas e sim na Petrobras, que, por tabela, sofre exponencialmente o desequilíbrio dos ajustes dos preços de combustíveis.

Fico impressionado com os esforços e a criatividade para novas ideias para reforçar o caixa da gigante brasileira, sem que o setor sucroenergético possa se beneficiar indiretamente. Em tempo, toda a história de biocombustível é muito bonita e, de fato, muito importante para nossa matriz energética e indispensável, atualmente, para sustentar nosso crescimento. Infelizmente, falta ao povo brasileiro a consciência dessa importância.

É ridícula a regra do 70% da relação de preço entre renovável e fóssil que incentiva o consumo combustível fóssil parcialmente importado em detrimento do tupiniquim por apenas dez reais por tanque (considerando 40 litros e relação etanol/gasolina a 80%).

Outro fator que contribui desfavoravelmente à longevidade do setor é a fragmentação excessiva que temos. O maior player brasileiro tem cerca de 10% do mercado. A Tailândia tem um mercado muito mais consolidado que o nosso. Alguém já ouviu alguma família afirmar que tem uma refinaria de petróleo ou uma mineração como temos usinas de açúcar e etanol no Brasil? Sofremos uma aberração econômica do ponto de vista de escala e segurança energética nacional. Mas, como afirmei: os dias estão contados.

Deduzo que muitas usinas, a essa altura, já saibam que não têm condições de sobreviver, e muitos bancos já devam ter mandados para venda forçada. Infelizmente, a força e a coragem de muitos donos de usinas que os trouxeram até aqui é a razão para seu definhamento. Seguraram tanto sua manutenção como donos que deixaram chegar a um ponto sem retorno. Os passivos, em muitos casos, são tão grandes que eles agora deveriam pagar para alguém ficar com a usina. Deveremos ter três tipos de destinos às dezenas de unidades que padecem desse mal:

1. Com passivos muito maiores que o valor da empresa: devem fechar as portas ou tentar uma improvável recuperação judicial;
2. Com passivos similares ao valor da empresa: devem disponibilizar-se aos maiores bancos credores para tentar uma venda ainda em tempo;
3. Com passivos inferiores ao valor da empresa e sem estratégia nem capacidade de crescimento: devem ser fagocitadas por empresas maiores através de trocas de ações ou de algum player que queira consolidar seus ativos.
Como disse, não acredito num milagre governamental para recuperar o setor. Vejo as leis da economia regendo mais fortemente e forjando o futuro das usinas brasileiras.

O destino certo da maioria delas é a consolidação: seja através dos futuros grandes players, que ficarão com mais de 100 milhões de toneladas cada, seja através de uma nova potente variável que será, em minha opinião, a grande transformadora do que conhecemos: as petroleiras.

Antes vistas como inimigas no mundo pela concorrência nos combustíveis, a inteligência falou mais alto, transformando o setor num complemento e não num concorrente. A sinergia é muito grande e, do ponto de vista de sustentabilidade para o mundo, faz todo o sentido um biocombustível andando de mãos dadas com o antigo combustível fóssil.

Vejo a maioria das usinas sobreviventes, de uma maneira ou de outra, associando-se a uma empresa de petróleo ou a uma usina que tenha uma petroleira como acionista. Árabes e chineses, por cultura, são mais lentos para adquirir confiança e finalizar processos de M&A (fusões e aquisições). Acredito que, quando os virmos entrando, o setor como conhecemos estará no fim.

Vimos, recentemente, movimentos importantes da Shell, Petrobrás, BP e deveremos ver outras entrando. As usinas pertencerão às petroleiras, tradings ou às indústrias químicas. Estas, como novos entrantes com seus projetos de matérias-primas renováveis, ou associadas às empresas de biotecnologia, trazendo um mundo completamente novo à economia das usinas.

Por falar em empresas de biotecnologias, estas merecem um artigo à parte, pois revolucionarão a economia das usinas, assim como as “ponto-com” revolucionaram a internet nos anos 1990. Teremos, sim, uma minoria sobrevivente; usineiros que, à moda antiga, sempre souberam administrar sua produtividade, custo e endividamento. Ainda assim, nesse novo cenário, o fim das usinas como as conhecemos está próximo: para aqueles que gostam de datas, dou um ano a mais que os Maias.