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Paulo Meneguetti

Pasa - Paraná Operações Portuárias

Op-AA-03

De olho na logística

O agronegócio brasileiro vem desempenhando um papel fundamental para a tão sonhada estabilidade econômica. Se analisarmos a última década, notaremos que este setor vem fazendo sua lição de casa. Semelhantemente ao que vem acontecendo com a produção de grãos, o setor sucroalcooleiro vem desenvolvendo um crescimento sustentado que o credencia a permanecer como principal player do planeta, pois, além da commodity açúcar, administra agora a mais nova commodity do mercado: o álcool combustível.  

Historicamente reconhecida como primeira atividade industrial do Brasil, a indústria açucareira, inicialmente restrita à região nordeste, ao longo do século 18, estabeleceu-se no centro-sul, em especial no estado de São Paulo, onde criou corpo, transformando-se no principal setor do agrone-gócio deste estado. O foco dirigido à produção do açúcar mudou quando da primeira grave crise mundial do petróleo, fazendo surgir a mais importante alternativa energética do planeta.

Mas antes de receber o reconhecimento mundialmente precisou sobreviver às flutuações de mercado e às variações de opiniões e humor dos governistas de plantão. Quase a totalidade das destilarias autônomas, inicialmente implantadas para produzir álcool carburante, nos moldes do Proálcool, passaram também a produzir açúcar, o que contribuiu para o estabelecimento da mais importante condição para tornar-se globalmente competitivo: ganhamos escala de produção.

Um setor que sofria, em meados dos anos 90, com preços de US$ 280 por tonelada de açúcar na bolsa de Nova York, hoje apresenta melhores resultados de balanços com preços de U$ 180 por tonelada. Após viver por quase meio século sob a tutela do Estado, através das regras do velho e ultrapassado IAA, a desregulamentação total obrigou o produtor a transformar-se em um empresário, com visão de mercado livre, interna e externamente, buscando incessantemente a melhoria de eficiência, de produtividade, ajeitando-se para se transformar em um operador de mercado, vendendo e fixando preços, familiarizando-se com o trato de moedas estrangeiras.

A profissionalização do setor foi fantástica. O produtor já havia provado ser bom da porteira para dentro. Agora, o benchmarking realizado demonstrava que os ganhos de produtividade simultaneamente às reduções de custos, via introdução de tecnologia, fazia com que o produtor olhasse as oportunidades de ganhos da porteira para fora. Se o trabalho de logística era bom nos processos de produção, poderia ser também na etapa de comercialização.

Com volumes de produção cada vez maiores, com parceiras com as tradehouses cada vez mais consistentes, o domínio do conhecimento das atividades portuárias tornou-se extremamente estratégico. Enquanto o açúcar ensacado dominou o cenário do comércio internacional, utilizava-se do modelo logístico do café, embora altamente custoso, para um produto muito mais barato.

Surgiu então a commodity que hoje domina o mercado internacional: o açúcar VHP. Um açúcar bruto, com especificação simples para se produzir, que revolucionou os processos logísticos, pois desde  a saída da usina, seu manuseio era a granel. Esta areia doce reduziu muito o custo do transporte rodoviário e ferroviário. Mas, e nos portos? Pelo menos no Paraná, todos os terminais portuários existentes, quando construídos, tiveram na soja, no farelo de soja e no milho, a referência técnica para o dimensionamento das moegas, dos elevadores, dos transportadores e também dos shiploaders.

O açúcar é um produto mais complicado que a soja para movimentar, mas alguns terminais prestavam os serviços de armazenagem e elevação. Só que isso ocorria após o término da safra de grãos, em meados de maio ou início de junho. E a safra de grãos não era do tamanho atual. Avaliando os indicadores de crescimento na produção de grãos os produtores de açúcar do Paraná concluíram que muito rapidamente ficariam fora do mercado internacional pela indisponibilidade de terminais que operassem açúcar, justamente no momento em que o cliente externo estaria com níveis de estoque mais baixos.

O futuro da competitividade dos produtores de açúcar do Paraná estava em risco. Foi neste momento que o Estado fez-se presente, como indutor do desenvolvimento de um importante setor para o Paraná, com o lançamento do edital em área pública, para a construção de um terminal  portuário especializado na movimentação de açúcar granel. Surgiu então a PASA - Paraná Operações Portuárias S/A.

Os resultados do terceiro ano de operação demonstraram que este talvez tenha sido o principal investimento estratégico do setor no Paraná. Além de escoar o açúcar produzido no estado, serve de opção aos estados vizinhos. Em razão do sucesso alcançado, com efetivo apoio do Governo do Estado e da Autoridade Portuária, a PASA já iniciou um estudo para ampliação de sua capacidade de recebimento, armazenagem e elevação de açúcar, com vistas a se consolidar como o mais eficiente operador portuário de açúcar do sul do país.

Agora é a vez do álcool. Ele se tornará uma commodity tão importante como o açúcar, muito mais rapidamente do que possamos imaginar e necessitará de investimentos em infra-estrutura portuária com a máxima urgência. Não podemos correr o risco de mostrar fragilidade e insegurança. Um colapso na fase de entrega trará frustrações desastrosas aos nossos clientes internacionais, com indesejáveis postergações dos investimentos planejados para o aumento de produção do álcool.