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Tasso Rezende de Azevedo

Consultor para Florestas e Clima

Op-AA-22

O desafio do desenvolvimento de baixo carbono

O Brasil precisa criar o seu modelo próprio de desenvolvimento, que seja voltado para a construção de uma sociedade educada, saudável, segura, ética, feliz e que seja capaz de respeitar as gerações passadas e ao mesmo tempo se manter compromissada com as gerações futuras. Esse novo modelo deve ser uma evolução das conquistas recentes em estabilidade econômica e social e se conectar à urgente necessidade de reduzir drasticamente a intensidade de emissões de gases do efeito estufa, ou seja, estar articulada com o que se convencionou chamar uma economia de baixo carbono.

O desafio é superar uma lógica minimalista de indicadores de crescimento, focando numa evolução da prosperidade e sustentabilidade. Desenvolver-se de forma sustentável pode significar inclusive decrescer. Por exemplo, o uso de transporte público ou bicicleta, como alternativa de transporte ao carro particular, contribui para um ambiente menos poluído e amplia a prática física saudável.

No entanto, baseia-se numa cadeia de produção de menor valor agregado, e a migração de um modelo para outro pode significar um decrescimento pelos conceitos tradicionais. A busca do desenvolvimento sustentável neste século XXI está intrinsicamente ligada à ideia de descarbonização da economia global. Esse processo é necessário para que as emissões do planeta sejam reduzidas em pelo menos 80% até 2050, de forma que a temperatura média do planeta não suba mais do que 2 °C, evitando uma série de impactos negativos de enorme magnitude.

É o desafio da humanidade e de fundamental importância para o Brasil, que poderá ser um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas globais, em especial quanto às alterações no regime hídrico que colocam em risco a agricultura e a geração de energia elétrica. A orientação para essa nova economia descarbonizada será geradora de grandes oportunidades.

A necessidade da descoberta de novas soluções tecnológicas desafiará nossos cientistas e deverá estimular uma expansão significativa de nossa capacidade de P&D.
A grande maioria das alternativas energéticas renováveis está baseada em ativos muito abundantes no Brasil, como é o caso da energia solar, eólica, de biomassa e de hidroelétrica - rio e marés.

O Brasil tem uma das maiores áreas de insolação do planeta e um dos maiores potenciais eólicos, tanto em terra quanto em mar. Além disso, temos a maior capacidade de produção de biomassa de todo o planeta, além do domínio de tecnologias de biocombustíveis.
Outras áreas também deverão ser cobertas. Os combustíveis fósseis, grandes vilões das emissões, são também base da indústria de plásticos, fertilizantes e outros químicos derivados. }

O Brasil já produz plástico biodegradável, feito diretamente da biomassa de cana-de-açúcar, e investimentos bem orientados na área de biotecnologia que, nas biorefinarias, podem viabilizar alternativas renováveis para a quase totalidade dos produtos da indústria petroquímica.
O caminho para esse novo modelo de desenvolvimento deve ser traçado o quanto antes.

As decisões tomadas hoje em relação ao planejamento da infraestrutura, educação e tecnologia não podem ser revertidas no curto prazo. Uma nova termoelétrica a carvão mineral, quando contratada, indica, de fato, o contrato, por décadas, de emissões de gases do efeito estufa. Da mesma forma, o modelo educacional implantado hoje afetará toda uma geração, e não terá retorno.

Nos últimos 20 anos, o Brasil conseguiu avanços significativos na formação como nação, alcançando a estabilidade econômica e implementando uma efetiva política de inclusão social. Agora, é preciso ir além, é hora de se colocar a sustentabilidade no centro da pauta de debate do país. O processo eleitoral de 2010 se apresenta como uma excelente oportunidade de fazer essa reflexão e debate, e, quem sabe, independente do vencedor, tenhamos uma inflexão do Brasil para o foco no desenvolvimento sustentável.