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Edelclaiton Daros

Diretor da Ridesa

Op-AA-24

O programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar da Ridesa

A Ridesa, Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro, completa vinte anos de existência e quarenta anos de pesquisa na área de melhoramento genético da cana-de-açúcar, considerando a criação do Planalsucar em 1970. A rede é constituída atualmente por dez universidades federais, além de outras que, em breve, serão incorporadas.

Os clones e variedades RB são testados do Rio Grande do Sul até o Maranhão, com 72 bases de seleção em gerações avançadas, avaliando-se a sua adaptabilidade e estabilidade, nos diferentes ambientes de produção. Atualmente, além da Estação de Floração e Cruzamento da Serra do Ouro, da Universidade Federal de Alagoas, com mais de 2.600 genótipos em seu banco de germoplasma, foi incorporada à rede a Estação de Floração e Cruzamento de Devaneio, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, com mais de 600 genótipos elites em seu banco de germoplasma.

Devido às particularidades das universidades, cada qual mantém uma logística de seleção própria, o que acresceu muito ao programa a criatividades das instituições, que, depois de testadas, são implementadas nas outras universidades, com ganhos significativos nos processos de seleção e avaliação.

A seleção inicial na fase T1 ocorre em 25 locais do Brasil, com dois milhões de plântulas individuais a campo anualmente, em cruzamentos biparentais, policruzamentos e cruzamentos de área. Nas fases avançadas, os melhores clones da fase de experimentação são enviados às outras universidades, o que tem dado como intercâmbio a cada ano, mais de 70 clones elites, para serem testados nas suas regiões; logística correta, pois já resultou na introdução e plantio, na região Centro-Sul, do clone que virou variedade RB92579, com grande potencial de expansão.

Nesses 40 anos, 78 variedades foram liberadas, ocupando 60% da área cultivada com a cana-de-açúcar no Brasil, em alguns estados, com mais de 80% de cultivo com variedades RB. No tempo do Planalsucar, 19 variedades foram liberadas, com destaque para a RB72454, que ocupou a maior área plantada de uma única variedade no Brasil e, como consequência, no mundo. Hoje, após 24 anos, ainda ocupa área expressiva de cultivo.

Porém, com a chegada da ferrugem alaranjada e pela sua suscetibilidade, acredita-se que será substituída ao longo do tempo. Pela Ridesa, foram liberadas 59 variedades, com destaque para a RB867515, a mais plantada atualmente no País, em substituição à RB72454. Tal variedade venceu desafios e consolidou a produtividade agroindustrial nas unidades em ambientes desfavoráveis.

A variedade RB855156, que mudou o perfil da safra, antecipou o início da colheita para abril, com precocidade, riqueza e produtividade, dando condições ao setor de um melhor planejamento de safra. E, mais recentemente, a variedade RB92579 veio impactar a produtividade na região Nordeste, com produtividades agroindustriais de 30% a 40% acima das variedades cultivadas. O seu comportamento de campo na região Centro-Sul tem mostrado um futuro promissor.

Os desafios dos programas de melhoramento são inúmeros. Já estamos projetando as variedades com perfil para 2050, com visão de futuro das necessidades do setor. Antevendo a entrada da colheita mecanizada e plantio mecanizado, nossas seleções mudaram para valorizar clones com alta colheitabilidade e características morfológias para o seu plantio mecanizado, que, dentro em breve, serão liberados.

O aparecimento da ferrugem alaranjada não nos causou preocupação, pois nossas variedades e clones já estavam sendo testados fora do País. Os dados preliminares desses clones com resistência à essa doença já estão sendo utilizados na seleção de cruzamentos para obtenção de novas variedades. Estamos atentos e avaliando as potencialidades de aparecimento de novas doenças, realizando convênios com universidades e institutos de pesquisa internacionais.

Temos como objetivos incorporar novas universidades para ampliarmos as atividades, consolidar os programas existentes e avançar na busca de novas variedades, principalmente no cerrado e na região Nordeste. Paralelamente a esse processo de seleção de clones, os promissores estão sendo transformados geneticamente para estresses hídricos, fixação de nitrogênio, resistência a pragas e doenças.

O programa de melhoramento genético da cana, com seleção de caracteres morfológicos, de rendimento e agronômicos, está sendo levado a efeito com o intuito de selecionar clones para o pequeno produtor, para facilitar, principalmente, a colheita para produção de açúcar mascavo e cachaça. Outra demanda foi com cana forrageira que algumas universidades da rede estão trabalhando, já com resultados de seleção para determinadas cacterísticas desejáveis.

Também estamos oferecendo, em grande parte das universidades, cursos de pós-graduação em mestrado e doutorado na área de cana-de-açúcar, desde manejo até melhoramento genético, buscando consolidar os conhecimentos da cultura, bem como treinar pesquisadores para futuros programas que irão se estabelecer no Brasil. Enfatizamos que essa parceria público-privada do setor e das universidades, com mais de 90% das unidades conveniadas à Ridesa, é o alicerce do nosso sucesso.