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Julio Maria M. Borges

Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento

Op-AA-43

Condições para o crescimento do agronegócio

Esta edição da Revista Opiniões nos propõe responder à pergunta: qual a energia que falta ao setor de cana-de-açúcar no Brasil? A resposta a essa questão depende do tipo de energia a que nos referimos. Em se tratando de energia empresarial construtiva, em minha opinião, nada tem faltado. Pelo contrário, tem havido uma quantidade de energia suficiente para posicionar o setor como importante componente da atividade econômica do País e como líder no mercado mundial de açúcar.

O que tem faltado então? O mundo deve entrar em novo ciclo de crescimento econômico. Tudo indica que a crise iniciada nos EUA em 2008 está chegando ao seu final. A retomada do crescimento econômico global de forma sustentável é bem-vinda e fará bem a todos, em particular aos países em desenvolvimento, que buscam melhores condições de vida. Dessa forma, as oportunidades e os desafios de uma nova fase de crescimento devem voltar à tona.

Uma demanda crescente de alimentos e energia será retomada. O meio ambiente será agredido e sua preservação voltará à cena. Essa nova condição de crescimento da economia mundial tem tudo a ver com o setor de cana-de-açúcar no Brasil, que é competitivo em escala global e amigável do ponto de vista ambiental. Nesse caso, porque produz energia renovável – através do etanol e da cogeração de energia elétrica com a utilização do bagaço da cana.  Ou seja, os fundamentos de médio e longo prazo são favoráveis ao setor.

A origem da crise atual: Desde 2013, os preços do açúcar no mercado externo vêm caindo por excesso de oferta global, após terem atingido níveis recordes no período 2010-2012. Nas duas últimas safras, chegaram a níveis muito baixos, incompatíveis com a sustentação do negócio. Considerando que cerca de metade da cana disponível para moagem é destinada à produção de açúcar e que, aproximadamente, 70% desse produto é exportado no Brasil, podemos ter uma ideia da importância do mercado externo de açúcar para o resultado econômico do setor.

A crise acessória: O Governo Federal contribuiu para reforçar a crise econômico-financeira por que tem passado o setor. Na medida em que segurou o preço da gasolina na bomba, impediu que os produtores de etanol hidratado tivessem preços mais remuneradores pelo produto, o que gerou prejuízos para a Petrobras na importação da gasolina. Cabe lembrar também que o Governo Federal deu apoio aos produtores de açúcar e etanol quando reduziu a carga tributária sobre os produtos e criou linhas de crédito para financiamento da atividade a juros relativamente baixos.

Essas duas condições, com efeitos contrários sobre o resultado econômico-financeiro da atividade, resultaram, infelizmente, em um saldo líquido negativo. As empresas do setor, de forma geral, têm tido prejuízos nas suas operações, e o endividamento vem aumentando de maneira insustentável.

A lanterna na popa: É conhecido no mundo dos negócios que as commodities, açúcar em particular, passam por ciclos de preços altos e baixos ao longo do tempo. Ou seja, existem momentos de lucros extraordinários e existem momentos de prejuízos indesejáveis, mesmo que sejam minimizados através de boa política de gestão de riscos. Isso é antigo e deve se repetir num futuro previsível.

Ou seja, quem está no setor de commodities deve se preparar para ganhar na média anual e deixar de acreditar que uma determinada fase do ciclo será determinante para o sucesso ou fracasso do negócio. E por que o setor, hoje, vive uma situação fragilizada, do ponto de vista financeiro, se a condição referida é sobejamente conhecida?  Vale lembrar que o que acontece hoje é uma repetição do que aconteceu em 2007-2008. Na ocasião, os vilões da história foram os preços baixos do açúcar em 2007 e a crise americana de 2008.

O que falta para o setor neste mundo global? Para uma boa parcela do setor, falta gestão. Para muitos, falta estratégia. Como escreveu Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), citado por Roberto Campos, no livro  A lanterna na popa: memórias: “Mas a paixão cega nossos olhos, e a luz que a experiência nos dá é a de uma lanterna na popa, que ilumina apenas  as ondas que deixamos para trás".

É frequente, no Brasil, encontrarmos empresários que foram bem-sucedidos no passado, em diferentes setores de atividade, que insistem em manter a estratégia antiga seguindo a máxima de que "em time que está ganhando não se mexe". Em certos casos, o empresário até reage a mudanças de mercado, só que tardiamente... a lanterna na popa. Além disso, é frequente encontrarmos, neste País, empresários todo-poderosos, que sabem tudo de tudo, incluindo o futuro, e não erram.

A culpa de erros cometidos em suas empresas é dos funcionários, sempre... mas a paixão cega nossos olhos. Neste mundo globalizado, onde o Estado, antigo protetor a qualquer custo, tem tido ações cada vez mais limitadas, vai prevalecer a excelência da gestão e da estratégia empresarial. As variáveis que afetam os resultados das empresas são muito mais diversificadas que aquelas do passado. O processo decisório é muito mais complexo. Planejamento e controle, conselhos de administração e conselhos consultivos nas empresas, hoje, se fazem necessários porque são úteis.

Em nosso próximo Seminário (XIV), a ser realizado em Abril/2015, vamos enfatizar essa convivência da cana-de-açúcar com o mundo globalizado. O negócio de cana, açúcar e etanol no Brasil tem um futuro igual ou melhor que aquele verificado no passado recente. Por outro lado, os desafios de gestão mudaram e passam pela busca de eficiência econômica e boa estratégia empresarial.  

Por melhor performance que o setor venha a ter no futuro, sempre iremos ver empresas fracassarem na luta pela sobrevivência. Saídas do mercado por mau desempenho econômico-financeiro fazem parte da regra do jogo e refletem, entre outras, diferenças de condições de produção, localização, características pessoais dos empresários e talentos individuais.  O desafio, contudo, não muda: é ser bem-sucedido.