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Celso Albano de Carvalho

Gestor Executivo da Orplana

Op-AA-51

Gestão estratégica e associativismo, o caso do sistema integrado Orplana
Nos últimos 14 anos, na dinâmica do setor sucroenergético, houve uma expansão para novas fronteiras, criação de novas indústrias, produção agrícola com escala, grandes investimentos, planejamento ordenado de crescimento, atividade agrícola com a formação e desenvolvimento de novos produtores de cana.
 
Foi nesse ambiente que ingressei no agronegócio da cana, ou seja, “nasci” dentro de projetos greenfields, não convivendo com a grande diferença de estado para estado, de região para região, sendo que, após 6 anos vivendo a realidade greenfield, deparo-me, então, com a realidade real, heterogenia gigante e o desafio de atuar no ambiente do produtor de cana, mais especificamente junto à Orplana – Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil, que representa mais de 17.000 associados, em 5 estados da região Centro-Sul, com 33 associações com tempo de fundação entre 5 a quase 90 anos de existência.
 
O grande desafio é o de implantar o Planejamento Estratégico da Orplana, visão 2015-2025, projeto este que tem como diretrizes principais a implantação de um sistema de governança e a estruturação de suas associações, envolvendo uma ampla ação de comunicação nos ambientes interno e externo, buscando capacitação técnica e gerencial das centenas de profissionais e colaboradores inseridos em um dos principais segmentos associativos do Brasil, gerando serviços e informações de valor, estratégicas na percepção real pelo fornecedor quanto à sua relevância na atividade e estabelecendo um relacionamento mais equilibrado em todos os elos da cadeia produtiva da cana.
 
Logo no início, houve a necessidade de conciliar gestão estratégica e associativismo, traduzindo-se em ações complementares, separando as ações político-representativo-institucionais da gestão organizacional, construindo um ambiente corporativo de apoio integral às associações, bem como confeccionando um grande “efeito guarda-chuva”, buscando e provendo soluções. Essa primeira aliança estratégica passa a ser o tema principal da Orplana, promovendo integração e convergências de ações. O Sistema Integrado Orplana.
 
Constataram-se, então, inúmeras ações paralelas praticadas no setor, sem nunca se convergirem, utilizando pessoas, capital, recursos diversos e conhecimentos que poderiam muito bem ser otimizados através de alianças originadas dessa visão em um plano de parcerias entre as associações, motivando, incentivando e envolvendo-as mais no projeto da Orplana, de maneira a enxergarem que o caminho da efetividade no negócio passa por aí.
 
A Orplana iniciou um projeto de regionalização para entender as diferenças culturais, sociais, econômicas e de produção, elegendo interlocutores regionais para agirem pela comunicação integrada e transparente, além de formar grupos de trabalho com profissionais de competências distintas em relação ao que se tinha antes como principal, a gestão agrícola, que é envolvida por essas diversas profissões necessárias para a boa gestão e suporte ao produtor de cana.

Tais grupos são focados em questões ambientais, sustentabilidade, protocolo agroambiental, legislação trabalhista, segurança e saúde no trabalho, eficiência produtiva e inovação tecnológica, otimização e clareza em informação e comunicação de notícias e narrativas dessa construção, indicadores instrutivos e suficientes para entender os cenários que são desenhados, incentivando o bom relacionamento entre associação, associado, usina, empresas de insumos e serviços e relações político-institucionais, sendo também necessária a revisão constante do Consecana, metodologia ímpar na precificação da matéria-prima, com transparência e prioridade pela qualidade da mesma.
 
Alianças estratégicas internas começam a ser formadas entre os profissionais das associações, que passam a experimentar o grande diferencial que é dialogar com as associações vizinhas, compartilhar conhecimento, sucessos e insucessos, em prol de uma causa única. Mas de nada adianta essas associações vizinhas iniciarem novas ações sem antes “derrubarem seus muros”, mudando da categoria de condomínios isolados a uma grande integração associativa, direcionando informações para cima, junto à Orplana, buscando soluções para necessidades de suas próprias bases.
 
Também buscamos entender como as soluções chegarão aos produtores. E como os objetivos serão alcançados, uma vez que esse universo é totalmente heterogêneo, com hábitos distintos, diversos sistemas de produção, realidade econômica múltipla, as mais variadas necessidades e desejos. Sem contar a instabilidade do segmento, que intermeia um horizonte otimista com momentos preocupantes. 
 
Hoje, o setor sucroenergético “ventila” um ar de prosperidade, com um horizonte favorável, impulsionado pelo maior consumo de biocombustíveis, alimento e energia renovável. O produtor de cana deseja desfrutar esses bons momentos. E é por meio das alianças estratégicas que a Orplana elevará o produtor a um papel de protagonista, garantindo-lhe um futuro seguro e rentável, buscando excelência na produção agrícola e coordenação da cadeia, ao mesmo tempo em que também se fortalece na sua atuação política, com presença mais intensa de seus dirigentes e representantes em todos os fóruns do sistema produtivo canavieiro do Brasil e do mundo. 
 
Tem, ainda, a ambição em tornar-se o principal porta-voz dos produtores no Brasil, convergindo as necessidades originárias da base e se tornando um importante elo de coordenação entre governos, produtores e indústria. Aproximar-se intensamente da base, com ações de engajamento, formação e capacitação, através de parcerias com os demais agentes da cadeia, é, então, a sequência lógica das alianças estratégicas; e é com essa visão de convergência que a Orplana começa a criar um movimento global com fóruns de discussão sobre as ações de sustentabilidade, gestão de riscos na comercialização dos insumos de produção até o entendimento da metodologia da venda da cana, alicerçada na formação do produtor com uma visão mais empresarial, independentemente de seu tamanho e perfil.

Ações estas que passam a conversar com os planos e projetos das diversas empresas atuantes no agronegócio da cana e os objetivos do plano estratégico da Orplana, colocando todos na mesma mesa, somando suas competências específicas para dar suporte a uma base que não muda. A base sempre será o produtor de cana.
 
Essa visão de recuperação, identificando novos passos na expansão do setor sucroenergético deve ser delineada com cautela, orientando-se em produção e expansão sustentáveis, monitorando plantio e zoneamento agroecológico e aptidão econômica da região potencial. E no ambiente interno, aliados à expansão, surgem novos desafios nas regulamentações trabalhistas, segurança e saúde no trabalho; adequações ao código florestal e protocolo agroambiental; erradicação da queimada, mecanização chegando a 100%; eficiência na atividade produtiva, redução urgente nos custos de produção; preço justo coerente com a realidade defasada do produtor de cana pleno; e ações de representatividade e mobilizações.

Também no sistema produtivo, grandes obstáculos devem ser ultrapassados no que diz respeito a maior eficiência produtiva; indicadores de produtividade ousados e inquietantes, no sentido de meta a ser buscada incansavelmente; a agricultura mais tecnológica, batendo às portas do produtor de cana, forçando-o a se transformar em um “agroempresário”.
 
Temas como biocombustível, energia renovável, matriz energética, uso racional e otimizado dos recursos naturais impõem ao produtor de cana a necessidade de se “reinventar”, entendendo cenários e conjunturas nunca antes discutidos com tanta veemência como hoje, tendo que capacitar seus colaboradores, assimilando e se apropriando das novas tecnologias de agricultura de precisão, controle de tráfego, plantio direto e tecnologia da informação, que serão responsáveis por contribuições positivas nas previsões de aumento de produtividade/qualidade.
 
As alianças estratégicas passam a ser o melhor caminho. Através delas, se troca a relação de “um versus o outro” pela “soma de todos pelo todo”. Certamente, muitos podem enxergar como uma visão difícil de se consolidar, mas prefiro pensar em realizar os sonhos ao invés de conviver com os pesadelos e remoê-los.