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José Carlos Vaz

Diretor de Agronegócios do Banco do Brasil

Op-AA-18

O capital é a maior commodity que existe

Alguns dos grandes insumos, em qualquer atividade econômica, são o capital, o financiamento e as fontes de recursos. Esse é o papel do Banco do Brasil na mundialização da produção do álcool. Vamos trabalhar essa questão sob a ótica financeira. A contribuição que o setor financeiro pode dar é o fortalecimento da indústria nacional, na produção da cana-de-açúcar, na industrialização, na exportação e na geração de tecnologias para mundializarmos a produção do álcool.

Abordaremos, nesta ocasião, temas sobre fontes de recursos, habilitação, crédito e oportunidades que enxergamos no setor. O capital é a maior commodity que existe. Podemos observar as migrações de recursos entre os diversos mercados de capitais. Temos que pensar adiante, no momento em que teremos que trabalhar o maior número de fontes possíveis de recursos para apoiar as atividades.

O crédito rural é a primeira onda de financiamento no setor e é claramente suficiente para atender às necessidades do segmento como um todo. Em 2006, apenas para o custeio da cana, o crédito rural destinou 13% de suas necessidades. Ele precisa ser visto, cada vez mais, como um complemento às necessidades do setor.

O crédito bancário foi a segunda onda de apoio ao segmento, incluindo todos os seus modelos: o crédito rural industrial, o crédito comercial com recursos internos ou externos e as operações de repasse. Esse não é um modelo esgotado, ele continuará a ser feito, mas há a necessidade de se buscar alternativas que complementem esse apoio.

A terceira onda foi o apoio do governo, presente com suas diversas formas – os subsídios, no passado e, agora, com diversos incentivos fiscais e as operações de mercado - que foram o grande mote dos últimos anos, com a profissionalização da gestão das empresas, apresentando-se para o mercado e buscando recursos.  

Estamos em um momento de enxugamento da liquidez, em que os recursos fluem para os mercados de operações mais tradicionais. Obviamente, isso não irá perdurar por muito tempo, pois haverá retorno de uma maior atração de capitais no país. Talvez, tenhamos que perseguir uma quarta onda, que seria o desenvolvimento de um mercado a termo, com antecipação dos resultados comerciais.

Existe um conjunto de soluções bancárias que pode ser acoplado de diversas formas ao aumento da captação de recursos em cima de operações comerciais. Mas, é preciso, fundamentalmente, desenvolver o mercado a termo, não só na cadeia do etanol, mas em todas as cadeias do agronegócio brasileiro.

Qualquer que seja a estrutura de financiamento que utilizamos, é necessário focar na questão da habilitação do crédito. Não me refiro ao crédito bancário, e sim crédito no sentido de confiança. O fornecedor de recursos - que pode ser um investidor, um acionista, um sócio minoritário, um agente financeiro, uma seguradora ou outras diversas formas - precisa ter convicção de que é possível conceder aquele crédito ao tomador de recursos.

Os requisitos básicos desses créditos são os mesmos de qualquer operação de crédito tradicional. Mas, o que tem se destacado, nos últimos anos, é a questão do relacionamento do tomador de crédito com a sociedade, com o meio ambiente, com os empregados, com os fornecedores, com os sócios, com os investidores e com os consumidores. Esse é um dos pontos-chave para se ter acesso a recursos, custos e prazos os mais adequados possíveis. Isso se consegue tendo transparência, visibilidade e buscando certificações. É importante trabalhar muito a questão da gestão.

Hoje, os fornecedores de recursos têm, muitas vezes, uma parte contrária, onde também tomam recursos e fazem intermediações, e cuja parte exige atenção do tomador de recursos com questões de meio ambiente, sociais e observância da ética empresarial. Talvez, esse seja o aspecto essencial a ser considerado no uso dos mecanismos mais modernos que existem para se ter acesso a recursos.

Outro ponto que gostaria de enfatizar sobre as oportunidades é o mercado a termo. Ainda existe um espaço muito grande para se trabalhar nas relações comerciais, envolvendo desde a compra da matéria-prima, até a venda de etanol e agroenergia, em termos de antecipação de uso e estabelecimento de padrões, preços e critérios de arbitragem.

Isso envolve a necessidade de se ter uma mudança nos canais de comercialização dos ativos comerciais e a necessidade da pulverização de diversos agentes. É preciso que esses agentes participem do mercado, desde pequenos até grandes consumidores ou fornecedores, de forma a se ter uma base que dê liquidez à realização desses negócios e que se possam implementar produtos bancários complementados com as relações comerciais.

Para isso, é essencial desenvolver formas e registrar esses compromissos, de maneira transparente e acessível a todos os interessados, desenvolver mecanismos de garantia, como seguro-garantia, fundos garantidores e fundos de liquidez, desenvolvimento de um sistema de liquidação neutro, que possa trabalhar, inclusive, com a forma de arbitragem para resolver eventuais conflitos e, assim, agilizar a execução dos contratos.

O investidor precisa ter muita confiança quanto à segurança jurídica dos contratos, para se dispor a colocar recursos no prazo e no preço que o tomador de recursos tem interesse. Com o desenvolvimento do mercado a termo, teremos uma base mais forte para o crescimento dos mercados futuros, uma das grandes oportunidades do país, não só na indústria do etanol, na questão do petróleo e do pré-sal, como também no próprio mercado futuro do etanol, do café e da soja, mercados estes, que o Brasil pode ser a praça referenciadora de preços, onde ocorre a movimentação desses recursos e a formação dos negócios.

Portanto, uma das grandes oportunidades que temos é a melhor estruturação do mercado a termo e as relações comerciais ao longo da cadeia como um todo. O BB, dentro do crédito rural e agroindustrial, está chegando a quase R$ 2,5 bilhões em carteira, e tem apresentado, ao longo dos últimos anos, um crescimento entre 15% e 20% ao ano. Conservamos a ótica de manter presença no setor, com todas as suas linhas de créditos comerciais e internacionais.

Também buscamos disponibilizar toda a quantidade e as somas possíveis de consultoria, estruturas específicas de financiamento, assessoria e serviços. As novidades do BB neste ano são, em primeiro lugar, a disponibilização de um fundo de Private Equity específico para o agronegócio, que promova a abertura de capital de empresas nacionais, lastreadas no agronegócio brasileiro e, em segundo, por parte da Aliança do Brasil, a seguradora de nosso conglomerado, que está disponibilizando um seguro agrícola de cana para os estados de SP, PR e MG.

O tema do Fórum é o futuro do álcool, mas considero que ele trata, essencialmente, sobre o futuro do Brasil, pois não podemos pensar no futuro do Brasil sem considerar a questão do etanol, um legítimo produto nacional, que usa, além de recursos naturais, muito trabalho de brasileiros e tecnologia nacional na genética e na produção industrial.