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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da Abag e da Canaplan

Op-AA-42

Você sabe de onde vem o vento?

O presente texto aborda uma das mais duras realidades que o agronegócio canavieiro enfrentou em sua história: uma espécie de crise “montada”, despertada na esteira das consequências da crise global de crédito de 2008 e na negativa tentativa de mudança do modelo econômico do Governo Federal, com recaída no controle de preços de combustíveis, crença nos impactos do suporte ao consumo popular e procurando decidir quais os setores que iriam dar certo, com empresas campeãs.

Segundo a crítica de Carlos Eugênio da Costa (FGV–RJ), “em vez de pensar na condução da economia como um engenheiro, desenhando as coisas, o governo deveria pensá-la como um agricultor, oferecendo as condições para que ela encontre seus caminhos”. Essa lógica com a agricultura tem tudo a ver com senso de urgência. Afinal, o tempo, para a agricultura, é o pai das ações, excitando e limitando. Daí o fato de preparar as condições, no tempo, para a busca de resultados.

Após o desastre dos últimos 4 anos, é tempo de renascer! O tema nos conduz, naturalmente, a rever, na mitologia grega, a lenda da fênix, que teria surgido no Egito e que, no final de cada ciclo de vida, queimava-se numa pira e, dramaticamente, renascia das cinzas. Tornou-se, assim, símbolo de imortalidade e do renascimento espiritual.

O interessante é o fim do ciclo, que se acaba, e o renascimento ou, talvez, a conversão. Pensando no setor sucroenergético, em início de novembro/2014, plena primavera, é bom sonhar com seus ventos levando para longe os maus espíritos desse inverno longo que nublou as mentes públicas e tirou as chuvas dos canaviais. Não que se queira uma primavera para sempre, mas que seu renascimento traga novas flores.

Com elas, os tons e as sementes, preciosas vidas que fazem renascer sonhos, flores e frutos. Esse pensamento nos traz a reflexão da escuridão das ideias, por que surgem e como se faz para livrar-se dela. “Alçar voo” ou “decolar” são expressões do passado... Nos últimos 3 anos, o Brasil parou. Crédito restrito, importados, redução forte no crescimento, inflação alta e menor geração de empregos são os riscos do novo governo.

Trata-se, nas palavras de Delfim Netto, de “trapalhadas que não teriam competência para derrubar o Brasil”. Mas muitas coisas estão indo longe demais. O crescimento do salário muito acima da produtividade tem limites conhecidos. O vento de cauda vindo da China empurrou o avião Brasil de uma forma impressionante. Mas isso foi até 2011. Após isso, o vento virou, e as mudanças na política não. Era fundamental aumentar investimentos, o que não aconteceu.

As restrições de hoje, segundo Delfim, são diferentes das de antes. Para um crescimento per capita nulo que se vê, avanços e recuos geram insegurança e “trombadas” entre o setor público e o privado, e os investimentos não acontecem. No mundo da democracia brasileira, serão mais quatro anos do mesmo governo que criou a névoa e que gerou um longo inverno. Mais longo como jamais se viu antes.

Tão longo que as perdas geradas têm uma dimensão histórica, talvez o setor nunca viveu um endividamento dessa magnitude e o envelhecimento das perspectivas. Coisas de profissional ou de irresponsável! Desse modo, é razoável pressupor que não se trata do fim de um ciclo, mas, talvez, da sua extensão. Portanto, conceitualmente, não se trata de mudança de ciclo, mas de sua continuidade.

Como renascer nisso? A insistência em permanecer em uma etapa, mesmo quando tudo indica estar ultrapassada, faz perder a alegria, o senso do tempo e das outras etapas a cumprir. As coisas vieram, passaram, e é preciso deixá-las irem. Seja em relacionamento ou na política, é assim. Se o ciclo não é finalizado, cria-se uma resistência, rompe-se um entendimento.

Em agricultura, tem-se o que se chama de doença de final de ciclo, como na soja. Nesse caso, trata-se a cultura quimicamente. No entanto a doença humana no final de um ciclo político não tem outro tratamento que não seja a mudança. É preciso mudar! Contrariamente ao Governo Dilma dos últimos 4 anos, após a metade final negativa do governo Lula-2, esse novo governo precisa rever para o setor canavieiro, no mínimo:

a. admitir o massacre setorial;
b. retornar a CIDE; c) corrigir o “buraco” financeiro gerado no setor. É importante salientar que o momento para fazer isso ou defini-lo de forma transparente deveria ocorrer antes de janeiro/2015. Por quê?

Face ao risco de deixar de ser prioridade tão logo o efeito Dilma-1 transpareça em sua seriedade e dimensão, fazendo com que o Governo Dilma-2 tenha outras ações mais “necessárias”... E o risco disso é enorme! Isso já foi visto no Governo Lula-2 (Pré-sal) e no Governo Dilma (Social). Não se conhece o Plano Diretor do Governo Dilma-2... ele não existe. Desse modo, pode ser uma “aposta dobrada” ou outra coisa. Não se sabe e não se tem pistas. Afinal, qual é a visão desse governo sobre bioenergia? E a do novo?

Se renascer pressupõe algo essencial, novo, dinâmico, tem tudo a ver com a forma como o setor privado irá atuar frente a essa massa indefinida que virá em janeiro de 2015. Sua atuação e enfrentamento podem gerar o diferencial que o faça renascer, na medida em que ganhe o suporte do Legislativo e de figuras importantes deste governo. Contatos estão sendo feitos, e promessas dessas figuras estão colocadas. Mas dependerão da Presidente, concentradora e detentora da decisão.

Mas, voltando ao Vinicius, para o sol despontar, há uma noite a enfrentar. É, talvez, a noite das definições, aquela onde os acordos nem sempre veem a luz do sol. É onde, às vezes, os sonhos viram pesadelo. Haverá essa noite? Como conciliar o Brasil? Segundo a IstoÉ, dos 3 milhões de votos que deram a eleição a Dilma, ela só se sagrou vitoriosa graças aos eleitores cujos salários somam até 2 mínimos. E ainda se viverá o dia seguinte dos escândalos do Petrolão!

Desse modo, as coisas vão se situando num nível tão distante e com possibilidades tão subjetivas que somente a fé dá suporte à tese do renascimento. É preciso tê-la, principalmente, em momentos como o atual. A religião cristã, referindo-se às palavras de Jesus Cristo, diz que o novo nascimento (renascer) se dá pelo espírito. Desse modo, a única ação seria o “salto da fé” (João 3.1-15: Nascer de Novo: À Espera de uma Decisão). “Você sabe de onde vem o vento? Não, mas você o sente e, por isto, sabe que ele existe. De igual modo, você não pode compreender como Deus pode regenerar”.

E é na fé onde a resiliência encontra suas bases de suporte. Disse Santo Agostinho que “a angústia de ter perdido não supera a alegria de ter um dia possuído”. Também disse que “a fé e a razão caminham juntas, mas a fé vai mais longe”. Afinal, não é o suplício que faz o mártir, mas a causa. É fundamental recuperar o estado de ânimo dos brasileiros investidores. Sem isso, não há o processo de renascer. O diálogo, que não vem de Brasília, gera um clima de não previsibilidade, extremamente negativo para investimentos. As expectativas estão na estratégica do Governo Dilma-2. Qual será?