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Antônio Celidônio Ruette

Diretor-Presidente da Antônio Ruette AgroIndustial

Op-AA-38

Parecia que era verdade

O setor sucroenergético nunca viveu um momento tão difícil. Se, em outras épocas, havia a intervenção do poder público para garantir a estabilidade dos preços da tonelada de cana, do saco de açúcar e do litro de etanol, a liberação de tais preços deixou o setor à deriva. Não há controle de produção, a fiscalização está ausente, o setor público tornou-se omisso, e o usineiro, que antes sempre trabalhara em cumplicidade com o governo, enfrenta, no momento, sua maior crise desde a introdução da cana-de-açúcar no Brasil.

Hoje, não se sabe quem fala pela classe, e a participação das empresas estrangeiras acabou por fragmentar o setor, concorrendo para fazer desaparecer a representatividade. Pior que isso é saber que, quando o produtor tentou dialogar, o governo fez ouvidos moucos. Jamais, em tempo algum, a indiferença pelo setor foi tão gritante e tão nefasta.

Sabe-se que determinados grupos, integrados por multinacionais, têm acesso ao governo, vão até aos ministérios para tomar conhecimento prévio das decisões governamentais, mas jamais para opinar, discordar ou ter voz ativa.

Para agravar de vez o setor, em determinado momento, surgiu o astuto ex-presidente Lula, a passar mel nos lábios dos usineiros, chamando-os de heróis. A nação assistiu, aturdida, ao ex-metalúrgico bajulando os empresários de um setor sempre estigmatizado pela opinião pública. Foi uma jogada de mestre, que desnorteou a classe sucroenergética, pois, sentindo-se endeusados, os produtores empenharam-se na instalação de novas unidades fabris, que iriam produzir o decantado etanol para abastecer o mundo.

A fala de Lula soava como música aos ouvidos dos desprevenidos usineiros. Final melancólico: hoje, cerca de 60 unidades sucroenergéticas estão ao relento, paralisadas, apodrecendo diante das intempéries, e outro tanto vive na maior penúria financeira, agravada pela defasagem dos preços e indiferença governamental. A seguir, nosso ex-presidente fez do pré-sal a menina dos seus olhos e passou a entoar música diferente, abstendo-se, no entanto, de pronunciamentos bombásticos, como o que seduziu a classe dos produtores sucroenergéticos. Sempre revelando-se bom ator, lambuzou, em público, suas mãos com as amostras do óleo extraído do pré-sal e, hoje, faz dele seu carro-chefe para as próximas eleições.

Em verdade, a crise também é de lideranças. Estas desapareceram ou deixaram de ser ouvidas e respeitadas. Ficaram sem acesso ao governo, embora a antiga Associação dos Usineiros de São Paulo e a representação do Nordeste sempre possuíssem voz ativa junto ao governo. Durante a revolução de 1964, assumiu a Presidência da Associação dos Usineiros do estado de São Paulo o Dr. Jorge Volney Atalla, jovem esforçado e estudioso, que permaneceu à frente dos destinos da entidade por uma geração.

Com excelente trâmite junto ao governo militar, o Dr. Atalla conduziu de forma imperial a entidade e os produtores, que, acomodados no recesso do lar, permaneceram em suas usinas, enquanto o Dr. Atalla cuidava soberanamente dos interesses da classe, revelando produtivo e surpreendente relacionamento com as autoridades, em Brasília.

Passados vinte anos, com a saída do Dr. Atalla da Presidência da Associação dos Usineiros e da Copersucar, o setor revelou-se acéfalo, pois não surgiram, naquele momento, lideranças suficientes para sucedê-lo. Alguns empresários independentes, com reconhecido tino administrativo, estavam absorvidos na consolidação de suas empresas, (Rubens Ometto, Zilo e mais alguns), sem tempo disponível, portanto, para cuidar da representação da classe.
Hoje, entre tantos desmandos, o setor assiste à se-
quência de atitudes governamentais desfavoráveis, enumerando-se, entre tantas,  o desempenho esbanjador da Petrobras, a adquirir petróleo, no mercado internacional, a preços cada vez mais elevados e a revender seus derivados, no mercado interno, a preços cada vez mais defasados, desequilibrando, com esse execrável procedimento, a estabilidade do setor sucroenergético. É, como já definiram, o samba do crioulo doido, isto é, quanto mais compra, mais perde na revenda... Depois que ficamos para trás na liderança de produção de etanol para os EUA, agora, vemos crescer significativamente a produção de biodiesel que, ocupando lugar do etanol de cana, conforme exigência ambiental, ameaça a exportação de etanol brasileiro para os americanos em 2014.

Em algarismos, restará para os produtores brasileiros apenas o mercado interno, que consome mensalmente 3,36 bilhões de litros de gasolina e 840,5 milhões de litros de etanol. A política autofágica do governo em relação ao etanol verde e amarelo fez com que a demanda do hidratado de 1,5 bilhão de litros em outubro de 2009 caísse para 820 milhões mensais de litros em 2012.

O governo gasta R$1,70 por litro de gasolina importada, enquanto o produtor  de etanol recebe pouco mais de R$1,00, quando o etanol deveria receber, pelo menos, 35% a mais que a gasolina, considerando, além das externalidades ambientais, seu poder de aumentar a octanagem da gasolina, sem ser cancerígeno, como acontecia com o chumbo tetraetila, no passado. O retorno da Cide, como contribuição regulatória, deveria prevalecer, mas, como dissemos no início, dialogar não consta na pauta dos ministros do governo atual. Estes e numerosos outros são os desmandos do atual governo, que vem sepultando não só o etanol como combustível ideal para os veículos, como, também, abortou o sonho de todos os brasileiros de abastecer o mundo com um combustível não poluente, ecológico e renovável.
A persistir tal situação, o futuro do País, de nosso povo e de nossas empresas, perante o atual governo, jamais gerará uma condição verdadeiramente plena e saudável de prosperidade – por mais que defenda o editor-chefe da Revista Opiniões.