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Dimas Alfredo Barro

Presidente da Fermentec

Op-AA-37

A qualidade da matéria-prima sob a óptica do homem da indústria

Quem não gosta de obter tudo na bandeja? Essa máxima tem os prós e os contras. É o mesmo que em nossa vida, escolhendo sempre os caminhos mais largos, mas, quando aparecer pela frente um estreitamento desse caminho ou uma curva, nos daremos mal. Para a indústria que produz açúcar e álcool e, agora, energia elétrica, levedura, biometanol, fertilizantes, quanto mais rica em açúcares a cana for, maior pureza, fibra adequada, sem impureza mineral, sem dextrana, sem amido seria a matéria-prima ideal.

Matéria-prima esta que, se a fábrica for bem equipada, bem projetada e tiver pessoal treinado, pode-se obter recuperações em açúcar e álcool bem altas. Normalmente, quando se trata de boa qualidade da matéria-prima, a maioria se refere a quantidade de açúcar na cana, o ART (açúcares redutores totais), que tem sido confundido com ATR, que é o ART diminuído de um fator de recuperação da indústria.

É por esse açúcar que se paga a cana (além do preço do açúcar, álcool, etc.), mas essa recuperação média, quando a cana vem contaminada, não é real, pode-se perder muito mais na fábrica. Essa perda é variável e depende da indústria, de equipamentos, de pessoal treinado, com conhecimento técnico e habilidade para recuperar o máximo, tanto no açúcar como no álcool.

Só para se ter uma ideia de quanto se perde somente na fermentação com uma cana contaminada em uma destilaria que é bem equipada e bem conduzida, e uma destilaria que não tem equipamento adequado e pessoal que não conhece bem o processo, a diferença é de 6,5% de perda na fermentação mal conduzida para 1,9% na bem conduzida, para cada cem milhões de bactérias por ml (1x105) que vem na cana.

Entretanto essa matéria-prima ideal existe, mas não durante toda a safra. Por essa razão, a óptica do homem da indústria é conhecê–la a tal ponto que consiga extrair o máximo, levando em conta as variações que ocorrem normalmente durante a safra, ou seja, cana imatura e baixa pureza no início da safra, e às vezes no final da safra também; cana velha (se ainda se queima) e se choveu, cana esta que vem contaminada com bactérias e seus produtos, como as dextranas, que tanto impacto trazem ao álcool como na recuperação do açúcar.

O entrosamento entre a lavoura e a indústria é fundamental para a recuperação do açúcar entrando na fábrica. Esse entrosamento é no sentido de a lavoura informar que tipo de cana está sendo colhida e entregue, pois a indústria necessita de um tempo mínimo para se preparar caso a qualidade da matéria-prima sofra modificações para pior.

No caso de amido, principalmente, e dextrana, podem-se usar enzimas para atenuar o impacto desses polissacarídeos na recuperação e na cor do açúcar.

No caso da dextrana, geralmente esta vem acompanhada por bactérias e leveduras contaminantes, e tem que ser dada maior atenção para que o prejuízo não seja grande na fermentação.

As figuras mostram o impacto da dextrana que vem com a cana, na cor do açúcar e na recuperação do açúcar no processo de sua fabricação. Com a necessidade da colheita mecanizada, cana crua, o impacto na indústria tem sido grande, embora as dificuldades na área agrícola estejam sendo até maiores. Começa com a escolha das variedades, passa pelo preparo do solo, logística da colheita, o transbordo e o transporte.

Essa cana crua tem uma vantagem, que é o tempo de corte e moagem, que é curto, normalmente entre 2 a 5 horas. É uma cana fresca e com baixíssima contaminação. Entretanto, se o índice de broca ou cigarrinha é significativo, essa contaminação tem um impacto negativo na indústria. Os aspectos negativos da cana crua são a quantidade de folhas e pontas que têm uma alta concentração de amido, fenóis e ácido aconítico, ácido este que vem logo depois dos redutores, em termos de concentração na cana.

Devido à sua alta concentração e à sua difícil decantação, ele causa problemas no açúcar e na fermentação. Estudos têm sido feitos para diminuir esse problema, embora, até agora, não se tenha resolvido o problema completamente. A cana crua diminuiu a permanência das leveduras selecionadas no processo de fermentação.

Esse problema está sendo resolvido com as novas leveduras selecionadas, principalmente as personalizadas ou customizadas, que têm se mantido até o final da safra. Já se tem seis casos de sucesso.

Uma ou duas linhagens do começo ao fim da safra, trazendo um ganho extraordinário em termos de eficiência e insumos. Uma das vantagens marcantes é a habilidade que essas leveduras têm de ser mais eficientes na inibição de bactérias do que as leveduras de panificação.

Como foi mencionado no início, além do açúcar e álcool, as unidades industriais também produzem eletricidade e outros produtos.

Em se tratando de energia elétrica, quando se fala em matéria-prima, a qualidade desta muda um pouco, pois a fibra da cana se torna muito importante, principalmente naquelas unidades que têm contrato de venda de energia elétrica a preços vantajosos.

Já existem unidades usando cavaco de madeira para aumentar o poder calorífico e/ou economizar bagaço.O uso da cana para energia ou açúcar e álcool, a impureza mineral (terra) na cana afeta significativamente ambos. Os minerais diminuem o poder calorífico do bagaço e, junto com essa terra, além de se produzir mais torta de filtro e aumentar a perda de açúcar, carrega bactéria que vai afetar a fermentação, como já mencionado, e também diminui a recuperação e a qualidade do açúcar produzido.

A óptica do homem da indústria em relação à qualidade da matéria-prima tem que ser holística, tem que ter conhecimento, compreensão dos momentos pelos quais a área agrícola está passando, sem, no entanto, achar que o problema da cana crua não tem solução e cruzar os braços. É o momento de se unirem esforços, para, juntos, indústria e agrícola, encontrarem as soluções mais favoráveis para o total do processo da produção.