O crescente plantio da cana-de-açúcar nos estados do centro-sul, a profissionalização das empresas produtoras de açúcar, álcool, energia elétrica, leveduras e a nova visão empresarial do setor, mais do que nunca, devem ser observados nas mais diversas opiniões. No que se refere à aplicação de insumos modernos na lavoura canavieira, a tecnologia vem sendo aplicada com sucesso em áreas distintas, sendo que seus riscos estão embutidos nas suas escolhas.

Os investimentos no setor acontecem na seguinte ordem de prioridade: indústria, CTC (corte, carregamento e transporte), preparo de solo e,por último,caso haja dinheiro, investimentos nos equipamentos de aplicação de agroquímicos. Assim, precisamos avaliar os gastos na aplicação dos agroquímicos, pois, se o custo médio de tratamento com herbicidas na lavoura canavieira é da ordem de US$ 40/ha, considerando os 5 milhões de hectares no Brasil, podemos afirmar que R$ 480 milhões passam pelos equipamentos de pulverização, ou seja, 16 milhões de toneladas de cana.

Para isso, devemos perguntar: “Quanto gastamos em equipamentos e em tecnologias para a aplicação desses insumos?”. Pasmem! Não existe nenhuma estatística confiável sobre esse assunto. Baseado em nossos trabalhos de consultoria e treinamento no setor sulcroalcooleiro, estaremos apresentando a nossa visão sobre o estado-da-arte da tecnologia usada no setor, e por se tratar de uma visão mais atual da tecnologia, partirei do que há de mais técnico, para o mais comum.

Uso da eletrônica embarcada: O assunto mais discutido, atualmente, é a “agricultura de precisão”. Nela podemos analisar a área produtiva, não mais como um talhão, bloco, gleba ou propriedade; mas sim as variáveis de solo, fertilidade, manejos e outras que sempre interferem em nossa plataforma de produção (solo), como a produtividade e a qualidade da cana a ser produzida.

Assim como o conhecimento sobre a tecnologia do uso dos satélites para o controle das aplicações, as formas de uso na aplicação de agroquímicos ainda são incipientes ou quase nulas. Pior que isso, estamos vendo a “agricultura de precisão”, com falta de precisão mínima nas operações que realizamos ou que iremos realizar, algumas vezes, pela falta de conhecimento básico de circuito hidráulico de um pulverizador, ou mesmo pelo erro na escolha, seleção e recomendação de um filtro ou uma ponta de pulverização.

A “agricultura de precisão” é uma tecnologia que precisa ser dominada pelos técnicos e apoiada pelos empresários do setor, a fim de que a ciência conhecida seja efetivamente utilizada. Vale lembrar que quem sai na frente, paga o preço do pioneirismo, mas passa à frente nas oportunidades, benefícios e nos proveitos financeiros.

Aplicações com equipamentos autopropelidos: Os equipamentos de alta produtividade operacional e que aportam as novas tecnologias da eletrônica embarcada, exigindo operadores treinados e áreas com boas condições de topografia e sistematização de plantio, fazem com que a oportunidade dos grandes pulverizadores autopropelidos aumente.

Assim, antes de se investir nesses equipamentos, deve-se verificar se a área é adequada ao uso dessa tecnologia. O uso indevido do equipamento provoca falhas de superdosagem em alguns pontos, subdosagem em outros e faz com que por necessidade do terreno, a velocidade varie entre os limites suportáveis pelas pontas de pulverização – de 9 a 12 km/h, ao invés de 6 a 22 km/h.

Aplicações com pulverizadores montados em tratores: Essa é forma mais usual nas lavouras canavieiras para os grandes produtores de cana. Nesse grupo temos, desde equipamentos muito simples a sofisticados pulverizadores, alguns, inclusive, apoiados por eletrônica de custo acessível, que justifica os custos, em razão do aumento de produtividade e da qualidade das aplicações uniformes, com tamanho de gotas ajustado, desde que a seleção das pontas seja feita por um bom técnico. É claro que a eletrônica isolada não resolve os problemas de tecnologia e, por isso, encontramos equipamentos sub e mal utilizados.

Os equipamentos, do ponto de vista mecânico, apresentam quebras normais, como qualquer outro veículo, exigindo revisões preventivas e reparos técnicos. Indica-se um plano de revisão preditiva - acompanhando o desgaste dos componentes como: pontas de pulverização, molas das barras, pontos de articulação, entre outros. Esses defeitos têm mostrado um índice de perda, que varia entre 5 e 15% do produto aplicado, o que é inadmissível, já que testemunhamos a constante evolução dos agroquímicos.

Nas aplicações de inseticidas e nematicidas no solo, o problema é ainda pior, pois é utilizado um equipamento de preparo de solo (arado, sulcador, cobridor ou subsolador), como suporte para o equipamento de pulverização. Desta maneira, espera-se a produtividade do equipamento como se a operação principal fosse a de preparo do solo, e não a de aplicação do agroquímico. Podemos perceber uma variação de menos de 30% a mais de 200%, em pontos diversificados, no mesmo talhão.

Pulverizações com equipamentos costais: As aplicações com equipamentos costais aparecem em algumas condições: nas áreas de impossibilidade de uso de equipamentos tratorizados pela topografia ou pela altura da cana, ou por uma especificidade de erva e distribuição dentro na área. Nesse segmento, surgiram diversos equipamentos, como os aplicadores de baixo volume com disco rotativo, os pulverizadores de pressão constante, as pontas de pulverização hidráulicas que produzem gotas adequadas e vazões baixas, entre outras.

O uso da tecnologia na aplicação de agroquímicos, como análise do estado da arte, tem como base, uma ciência que exige visão multidisciplinar com conhecimento da cultura, condições ambientais no local da aplicação e, principalmente, treinamento dos funcionários, seja dos operadores, diretores financeiros das empresas, técnicos e administradores intermediários, para a exploração do conhecimento em benefício das empresas e da comunidade em geral.