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Manoel Carlos de Azevedo Ortolan

Presidente da Canaoeste

Op-AA-33

O destino do etanol

Nosso programa de produção de etanol, iniciado por volta de 1975, tinha como objetivo reduzir a dependência do petróleo. Após alguns anos de desenvolvimento, passou por forte crise, quando chegamos a quase zerar a produção de carro a álcool. Veio 2003 e, com a chegada do carro flex, abriu-se uma perspectiva enorme para produção de etanol com a garantia do mercado interno.

A isso se somou o forte apelo mundial para que melhorássemos as questões relativas ao meio ambiente, especialmente a mitigação dos gases causadores do efeito estufa.

O etanol mostrava ao mundo, via Brasil, que podia dar sua contribuição nesse sentido. Houve um grande chamamento para se produzir etanol, pois, além de enorme mercado interno, muitos países sinalizavam querer nosso combustível.

Experimentamos um crescimento vertiginoso em 5 safras seguidas, tendo colocado 110 novas unidades industriais em funcionamento. Para conseguir esse feito, crescemos de uma forma desordenada, muitas vezes, abrindo mão de tecnologia. Mas fizemos. Os benefícios ficaram claros para a sociedade quando o setor gerou poder e conforto para o Brasil, criou milhões de empregos, reduziu suas importações de combustível e aumentou as exportações de etanol.

Tudo estava indo muito bem, até que, em 2008, fomos atropelados por uma crise econômica mundial que começou a afetar de forma severa o crescimento do setor, inclusive com escassez de crédito. Além disso, tivemos uma sequência de anos desfavoráveis, do ponto de vista climático, que escapam do nosso controle.

Esses fatores acabaram comprometendo a produção de cana-de-açúcar, que teve seu custo de produção muito elevado nos últimos anos. Precisávamos, nessa hora, ter o governo do nosso lado, participando ativamente para que pudéssemos voltar a crescer e expandir. Mas, nesse período, tivemos a descoberta do Pré-sal, e, em meio à euforia, o Governo focou muito nessa questão, investindo na exploração de petróleo e deixando o etanol “ao Deus dará”.

O Pré-sal é muito bem-vindo. Vai gerar riqueza. O mundo vai precisar de petróleo por muitos e muitos anos. É um trunfo do País, e isso tem que ser bem aproveitado. Mas o foco, hoje, é a questão ambiental e apoiar as alternativas de fonte de energia limpa e renovável, e, nessa parte, o etanol também é uma força propulsora da nossa economia. Para o setor voltar a crescer, o governo precisa resolver a questão do preço da gasolina na bomba, que é o que está travando as coisas para o etanol.

O governo adota medidas para segurar o preço da gasolina de forma artificial, subsidiando e desonerando como fez recentemente com a CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, um tributo brasileiro de competência exclusiva da união. A CIDE representava, em 2002, 25% do preço da gasolina e hoje está zerada. Dessa forma, a Petrobras importa gasolina e vende no mercado interno com preços mais baratos do que comprou, gerando prejuízos à empresa.

O consumidor não sente no bolso o aumento do preço do combustível, e o governo não privilegia o que é produzido dentro da porteira, através de fontes renováveis e limpas. Conclusão, os consumidores estão usando cada vez mais gasolina. Em 2009, 54% da frota de veículos leves era abastecida com etanol; hoje, isso não passa de 35%, o que significa que estamos usando mais gasolina. E como fica o setor diante desse cenário?

Após muitos anos de luta e um trabalho efetivo realizado pela Unica - União da Indústria da Cana-de-açúcar, o Brasil conseguiu ficar livre das tarifas para que o nosso etanol entrasse nos Estados Unidos, e, na hora em que conseguimos, criando uma condição propícia para exportação, não temos etanol; ao contrário, estamos importando o etanol de milho que criticamos tanto. Se persistir essa situação, é provável que o setor fique do tamanho que está, sem perspectivas de crescimento.
Para o etanol voltar a ser competitivo, precisamos trabalhar duas ações:

a. reduzir custos via ganhos de produtividade, mais eficiência nos processos, enfim, pesquisar. O setor tem feito sua parte. Isso demora, exige grandes investimentos e é um processo contínuo;

b. dar um jeito de o governo fazer a sua parte, a exemplo do que fez com a gasolina, que é fóssil, poluente, etc. Ele, governo, tem meios de fazer isso. É vontade política! São medidas providenciais que uma “caneta” nas mãos de quem pode resolve o problema de forma rápida. Vontade política, políticas públicas, segurança, enfim, algo que garanta renda ao empresário da indústria e ao produtor do campo.  

Na safra 2010/2011, tínhamos uma projeção de processar 600 milhões de toneladas de cana, e, com a capacidade que temos hoje, podemos chegar a 700 milhões de toneladas. Temos que recuperar nossos canaviais, mas, para isso, precisamos ser remunerados. Ninguém vai investir em algo que não traz retorno, que não é economicamente viável.

O fato é que não adianta só crédito para o setor voltar a crescer e o governo sinalizar financiamentos, sinalizar juros mais baratos. Só isso não vai resolver. O governo precisa decidir se ele quer a progressão do setor sucroenergético ou se vai continuar os incentivos apenas em relação ao petróleo.

O nosso país é vocacionado e predestinado a produzir biomassa, temos um mercado interno muito forte garantindo a produção e podendo exportar excedentes. Perguntamos nessa hora: o que é que está acontecendo que o governo não enxerga isso? Será muito difícil que o setor volte a crescer se o governo não fizer a sua parte!