Me chame no WhatsApp Agora!

Felipe Nunes Barroso

Diretor da Bio Energias Renováveis

Op-AA-20

O setor sucroalcooleiro precisa quebrar paradigmas

Os estudos do potencial de geração de energia elétrica em usinas de açúcar e álcool têm se baseado em projetos de baixa eficiência econômica. O setor precisa romper com os usos e costumes do passado para aumentar a competitividade no mercado de fusões, aquisições e de abertura de capital. O ativo de geração de energia elétrica pode ser uma oportunidade de elevar o valor das usinas de forma expressiva, desde que seja bem projetado, do ponto de vista econômico.

É inconcebível que uma central termoelétrica, de alta eficiência energética, fique parada fora da safra por falta de combustível ou por concepção do projeto. Esses ativos precisam operar em plena capacidade e pelo maior tempo possível, para serem adequadamente remunerados. Para aumentar o valor das empresas, as centrais de cogeração precisam ser concebidas como um ativo desmembrado da usina, para que possa operar também quando o processo industrial não demanda vapor e energia elétrica.

Ou seja, esses ativos precisam operar na safra e na entressafra para serem compreendidos como um ativo econômico de alta rentabilidade. Considerando a mesma disponibilidade anual de combustível (bagaço de cana), o capital necessário para implantação de uma central termoelétrica que opere em plena capacidade durante o ano é, aproximadamente, 30% inferior ao investimento demandado por uma central de cogeração que opere quando há demanda de vapor e energia elétrica por parte da indústria do açúcar e do álcool (safra).

Essa relação é relevante, porque a receita proveniente da venda da energia dos dois projetos é equivalente, ou seja, a Taxa Interna de Retorno de um projeto que opera o ano todo é bastante superior à rentabilidade de projetos que operam apenas durante a safra. A baixa liquidez de crédito e o elevado endividamento do setor sucroalcooleiro é um aspecto complicador para atrair investidores. Essa condição mercadológica tem postergado os investimentos em novos projetos.

Contudo, as usinas precisam criar valor, através da eficientização de seus processos existentes, visando reduzir os custos de operação e aumentar a competitividade da empresa no mercado de açúcar, álcool e, principalmente, no mercado de energia elétrica. Propomos às usinas que possuem projetos de expansão concebidos com grandes centrais de cogeração, que priorizem os projetos de menor porte, visando à eficientização dos processos existentes, seja no âmbito industrial, seja na implantação de uma nova central termoelétrica, mas, dessa vez, para utilizar o bagaço da cana proveniente da atual moagem, sem assumir riscos excessivos.

Os projetos de alta eficiência são modulares e podem ser implantados de acordo com a expansão das usinas, sem que um período eventual de preços baixos das commodities coloque em risco o projeto como um todo e a saúde financeira das empresas. Os projetos modulares não comprometem a eficiência econômica da futura expansão da usina.

O planejamento de expansão das usinas, ocorrido nos últimos três anos, demonstrou ao mercado que o setor sucroalcooleiro precisa implantar uma nova modalidade de governança, atendendo aos parâmetros de transparência e sustentabilidade exigidos pelo mercado de capitais, para que essas empresas criem condições mínimas para atrair capital, ainda que seja para sanar o endividamento do setor.

O momento é adequado para implantação de projetos de cogeração altamente eficientes, dos pontos de vista técnico e econômico, visando criar valor nas empresas. As variáveis que levam a essa conclusão são: os preços dos equipamentos estão menos inflacionados por retração da demanda, o prazo de entrega dos equipamentos encurtou, porque diversos projetos foram suspensos e o preço para venda da energia elétrica não se alterou.

Ou seja, a redução do montante de investimento demandado, aliada à redução do prazo para implantação do projeto e manutenção dos recebíveis, devem elevar a rentabilidade dos projetos, reunindo condições adequadas para atração do capital. Atualmente, as linhas de financiamento para projetos de geração ou cogeração de energia elétrica possuem boas condições econômicas e para acessá-las diretamente ou através de um potencial investidor é importante que as empresas apresentem condições mínimas de governança e gestão profissional.

Em suma, o setor sucroalcooleiro pode se apoiar no setor elétrico para elevar a rentabilidade de seus ativos, criando maior valor nas empresas, para a abertura do capital ou até mesmo para elevar o valor percebido em uma eventual fusão ou aquisição. Esse movimento parece ser inevitável e, talvez, a melhor alternativa para injeção de capital no segmento, de forma rápida e sustentável.