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José Otávio Menten

Professor de Fitopatologia da Esalq-USP

Op-AA-56

Ferrugem alaranjada da cana
Coautoras:
Ticyana Banzato e Thaïs Dias Martins Pongeluppi, Ambas Doutoras em Fitopatologia da Esalq-USP


Assim como outras espécies cultivadas, a cana-de-açúcar pode ser hospedeira de diversas doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides. Há mais de 200 patógenos já relatados na cultura, sendo que 60 já foram constatados no Brasil, e 9 têm importância econômica reconhecida. Dentre os importantes economicamente, destaca-se a Puccinia kuehnii, agente causal da ferrugem alaranjada da cana. 
 
Essa doença foi relatada no País em 2009, no estado de São Paulo, e, atualmente, está presente em todas as áreas cultivadas com cana do Brasil. Foi a segunda espécie de ferrugem relatada na cana, que, desde 1986, já contava com a presença da Puccinia melanocephala, a ferrugem marrom; em 2008, uma nova espécie de ferrugem de cana foi relatada no sul da África, a Macruropyxis fulva, ainda ausente no Brasil.
 
A ferrugem alaranjada causou sérios prejuízos na Austrália em 2000 (36% de danos); foi detectada na Flórida em 2007 (40% de danos em variedades suscetíveis) e, logo em seguida, foi constatada na América Central. A infecção causada pelo patógeno evolui causando redução na clorofila das folhas e eficiência de fixação de carbono, condutância dos estômatos, transpiração foliar, e, logo, queda na taxa fotossintética afetando o crescimento das plantas e reduzindo em até 85% a produtividade, principalmente em variedades suscetíveis. 
 
Em áreas em que o clima favorece a ocorrência de ferrugem alaranjada, o cultivo de variedades suscetíveis tem sido limitado, pois a agressividade dos sintomas está diretamente relacionada com a suscetibilidade da variedade, as condições de água livre na superfície foliar, superior a 8 horas (principalmente orvalho e neblina), e as temperaturas entre 18-25 °C. 
 
Os primeiros sintomas (incubação) surgem aos cinco ou sete dias após a inoculação, e as pústulas (latência), após 10 ou 20 dias.  A doença se inicia em novembro e dezembro, e as maiores severidades são constatadas de fevereiro a maio. Os sintomas típicos são pústulas (urédias) alaranjadas a castanho alaranjadas no limbo foliar. O patógeno sobrevive em canaviais próximos e é disseminado a longas distâncias, principalmente pelo vento, infectando plantas suscetíveis quando as condições ambientais são favoráveis. 
 
Controle de Ferrugem Alaranjada: Assim como as demais doenças de plantas, a ferrugem alaranjada da cana deve ser controlada através do manejo integrado, ou seja, com a utilização de diversas medidas disponíveis. A principal é o cultivo de variedades resistentes, entretanto há necessidade de se explorar o uso de fungicidas e os aspectos culturais, como escolha do local, qualidade das mudas, adubação, estado nutricional da planta, espaçamento, manejo da colheita etc.
 
Variedades resistentes: É importante conhecer a reação a patógeno das principais variedades cultivadas em cada região de produção de cana. A avaliação da resistência pode ser realizada em campo (infecção natural) ou em laboratório/casa-de-vegetação (inoculação artificial). A quantificação da resistência pode ser feita pela severidade, pela curva do progresso da doença, pelos componentes monocíclicos da doença, pelo período de incubação e pelas latência e frequência da infecção. Avaliações realizadas têm demonstrado que mais de 50% das variedades são resistentes ou altamente resistentes à ferrugem alaranjada da cana.
 
Pesquisa realizada no Brasil mostrou que, entre as 17 principais variedades cultivadas, 9 (53%) foram resistentes ou altamente resistentes, 2 foram intermediárias, 2, moderadamente suscetíveis, e 3, suscetíveis. Outras variedades que apresentam algum nível de suscetibilidade à ferrugem alaranjada são RB956911, SP842025, CV 14, CTC 9, RB935641, CTC 15, RB925345, RB835486, RB855035, RB845197, RB785148, RB966229, RB835036, RB865230 e RB986419.
 
Fungicidas: Assim como em outras culturas, a utilização dos fungicidas contribui para a produção sustentável de variedades de cana suscetíveis ou intermediárias; sua utilização de maneira correta e segura tem proporcionado controle satisfatório de ferrugem alaranjada, aumentando a produtividade em variedades suscetíveis ou intermediárias sob pressão da doença e que, em outro momento, teriam sido substituídas por outras variedades com características agronômicas e comerciais menos satisfatórias, mas mais resistentes à infecção. 
 
Para o controle químico da ferrugem alaranjada da cana, estão registrados 21 produtos comerciais, sendo 10 misturas de ingredientes ativos, entre eles, estrobilurinas, triazóis, carboxamidas, ditiocarbamato e um cúprico. Para um bom desempenho dos fungicidas, que são aplicados via aérea, há necessidade de seguir rigorosamente as boas práticas e as orientações do rótulo e a bula dos produtos e do receituário agronômico, que indicam a quantidade de óleo mineral que deverá ser usado na calda.

É importante que a primeira aplicação seja no início da epidemia (novembro a dezembro), antes do aparecimento de sintomas, e as duas aplicações seguintes, espaçadas 30 dias. Deve-se priorizar o monitoramento da infecção em variedades suscetíveis e moderadamente suscetíveis que atinjam severidade igual ou superior a 5%.
 
Escolha da região de cultivo: O zoneamento da favorabilidade climática e o conhecimento do comportamento das variedades em diferentes regiões contribuem para o manejo da ferrugem alaranjada. Existem estudos mostrando regiões mais favoráveis à ocorrência e maior severidade da doença. 
 
Há de se considerar as regiões com diferentes níveis de favorabilidade, com base no “índice de favorabilidade climática à ferrugem alaranjada da cana” (IFAC) e sua correlação com as coordenadas geográficas e a altitude. Por meio desse IFAC, percebeu-se que, nas regiões canavieiras a oeste do estado de São Paulo, a favorabilidade para ocorrência da doença é baixa, devido ao clima mais seco e quente; assim como, nas regiões centrais e leste do estado, a favorabilidade é considerada moderado-baixa a alta devido ao clima mais úmido e às temperaturas mais amenas. Deve-se evitar o cultivo de variedades suscetíveis nas regiões mais favoráveis à ferrugem alaranjada.