Na agroindústria açucareira, o grande desafio permanece sendo a “redução de custos”, que traduz todo o esforço efetuado dentro dos sistemas de produção existentes pelas equipes para adequar, racionalizar e otimizar as etapas desses sistemas. E, dentro desse trabalho de otimização, a busca pela elevação da produtividade agrícola por hectare e pela produção da maior quantidade de açúcar por hectare deverá sempre ser o foco principal das equipes envolvidas no processo.
A busca pela estabilidade da produtividade agrícola em três dígitos em uma lavoura, com média de, no mínimo, cinco cortes e uma curva de maturação otimizada, mesmo com um período de safra prolongado, é falada pelos quatro cantos do País, mas pouquíssimas empresas obtêm essa média ao longo dos anos.
Os fatores de produção envolvidos, principalmente os que se relacionam com a recuperação da fertilidade do solo e da nutrição da cultura, têm sido, de certa forma, revisados e discutidos, e, hoje, há um sentimento de que, se bem aplicado, o que existe de conhecimento disponível, essa etapa do sistema de produção estaria, de certa forma, bem estabelecida, atendendo à necessidade da cultura.
A fosfatagem ainda carece de maior utilização, mas é imprescindível no cultivo de solos com teor muito baixo do elemento. A aplicação em taxa variável dos macronutrientes, apesar das dificuldades operacionais, deverá se consolidar rapidamente à medida que tenhamos, no mercado, implementos com custo compatível a essa finalidade, pois traz economia pela racionalização do uso dos adubos e aumento da sua eficiência.
A implantação de um sistema conservacionista seguro (com relação à perda da fertilidade do solo), que proporcione alto rendimento das máquinas, tanto de plantio como de colheita, é de conhecimento geral, e a utilização da tecnologia VANT tem auxiliado nesse planejamento.
O espaçamento utilizado, objeto de eterna discussão, é de suma importância na busca de altas produtividades agrícola e de colheita. O pisoteio é o grande responsável pelas falhas do canavial e pelo decréscimo da produtividade, e o espaçamento de 1,50 m é o que melhor se adéqua às bitolas das máquinas de colheita de uma linha e que proporciona menor pisoteio, desde que a lavoura tenha sido bem implantada, e é muito utilizado nos solos de melhor fertilidade.
Já para os solos de menor fertilidade, não se recomenda sua utilização pela demora de a cana-de-açúcar fechar a entrelinha e pela menor produtividade que proporciona. As empresas, principalmente as de solos mais arenosos, que tiverem oportunidade de utilizar espaçamentos mais adensados ou duplos, no caso 0,90 m x 1,50 m, com certeza estarão na frente na corrida pela busca da mais alta produtividade.
O controle de tráfego fica facilitado, há uma sensível diminuição do pisoteio e as colhedoras fazem um bom trabalho com alto rendimento. É certo, no entanto, que as dificuldades na colheita serão maiores nos espaçamentos adensados ou duplos, e haverá um esforço ainda maior no treinamento e na fiscalização dos envolvidos na operação de colheita.
As variedades que farão parte do plantel da unidade produtora merecem atenção e discussão ampla, pois, hoje, existe uma carência muito grande de novos materiais de alta performance. O potencial de produtividade de algumas das variedades mais plantadas, como RB86-7515, RB96-6928, SP83-2847, CTC 4 e outras, já é de conhecimento, e sabe-se que não deverão mudar por si só o histórico de produtividade existente.
A grande evolução esperada é com relação à aplicação da transgenia pelas entidades que desenvolvem e lançam, no mercado, novos materiais, sendo que se espera desses materiais a alavancagem definitiva para a obtenção de altas performances agrícola e industrial. Variedades resistentes à broca (Diatreae) vão ajudar nesse processo, mas o que se espera é a adição de outras características de interesse, como tolerância à seca, resistência a pragas (bicudo da cana e cigarrinha-da-raiz), tolerância a alumínio, assim como incremento teor de sacarose em variedades rústicas.
O preparo profundo do solo com equipamentos especialmente desenvolvidos para isso deve ser encarado pelas empresas em cujo sistema de produção se encaixe como fator decisivo na elevação da produtividade. Permite aplicação de fósforo em profundidade, incorporação de matéria orgânica e fertilizantes na faixa preparada, além da eliminação da compactação, pois o implemento trabalha a uma profundidade de 50-60 cm.
Após o trabalho com o penta, o canteiro apresenta-se livre de compactação e adequadamente fertilizado, permitindo que o sistema radicular se desenvolva abundantemente, visando aumentar a capacidade de absorção de água e de nutrientes, e é um fator de redução de custos pela diminuição das operações de preparo de solo.
O plantio mecanizado vem evoluindo ao longo do tempo, inicialmente com medidas de gestão do processo no campo, desde a colheita de mudas ao plantio propriamente dito, aliado à melhoria dos equipamentos através da automação. Contudo, atualmente, as empresas multinacionais vêm trabalhando fortemente na busca de plantio mais semelhante ao que ocorre hoje com grãos, através de microtoletes tratados (seeds) com agroquímicos que permitam seu plantio em larga escala.
Outra ferramenta também de multiplicação se refere ao sistema de MPB, no qual já se tem o conhecimento na produção de mudas e implementos para o plantio em escala comercial, porém ainda necessitando de irrigação complementar ao plantio em períodos que apresentem veranicos.
A colheita mecânica apresenta, ainda, alto grau de ineficiência, e ganhos podem ser obtidos, especialmente no que se refere ao controle de tráfego, visando reduzir ao máximo o pisoteio sobre a linha de cana, através da adoção do autopilot nos tratores transbordo, assim como no arranquio de soqueiras, especialmente em espaçamento duplo.
Com relação à colhedora para espaçamento duplo, ainda é necessário que se melhore a qualidade do corte de base, uma vez que as linhas não estão no centro dos dois discos de corte como no espaçamento simples (1,50 m) e, portanto, os fabricantes devem desenvolver uma caixa de corte que possa operar desnivelada em relação ao plano horizontal em função da colheita em duas ruas.
Quanto aos tratos de cana soca, devemos dar especial atenção ao controle de pragas, tais como bicudo da cana e a cigarrinha-da-raiz, face à área que essas pragas ocupam no Centro-Sul e ao seu potencial de dano, como algo de até 30 t/ha/corte para bicudo (Sphenophorus levis) e de 15 t/ha/corte para cigarrinha (Mahanarva fimbriolata). O controle químico vem sendo realizado em maior porcentagem de áreas tratadas, mas ainda necessitamos de agroquímicos mais eficientes e de menor custo.
Quanto às plantas daninhas, os herbicidas atuais permitem um adequado controle do mato, muito embora o repasse em certas situações seja inevitável, em função do atraso do fechamento da lavoura. Nesse sentido, tratores com bitolas ajustáveis e com boa altura em relação ao solo, acoplado a implementos de detecção do mato, podem permitir a aplicação localizada, com redução de custo e benefícios ao meio ambiente.
Desse modo, a gestão agrícola deve conciliar um sistema de produção que possibilite rendimento agrícola próximo ao potencial produtivo desejado em função dos ambientes de produção onde a unidade está localizada, assim como uma boa gestão em todos os processos de produção, para que se tenha um custo compatível com os preços, e ainda possa remunerar todo o processo produtivo e possibilitar novos investimentos no próprio negócio.