Nos últimos 30 anos, o agronegócio brasileiro, inclusive o do cultivo e da industrialização da cana-de açúcar, expandiu muito suas fronteiras agrícolas em direção ao Centro-Oeste, historicamente mais carente de infraestrutura. Por serem regiões mais remotas e com déficit maior de infraestrutura, principalmente pela grande dependência do modal rodoviário, o custo do transporte entre os centros de produção e os centros consumidores, ou portos para exportação, é alto, afetando a competitividade do produto dessas regiões. Somos, hoje, o maior produtor e o maior exportador mundial de açúcar. Os grandes investimentos realizados nessas últimas décadas colocaram o Brasil como uma referência mundial em tecnologia, produtividade agrícola e industrial para a transformação da cana-de açúcar em açúcar, etanol e energia.
Entretanto, a competitividade de um produto não está ligada somente às questões produtivas, mas a toda a cadeia que o envolve. Toda a evolução no processo produtivo não foi acompanhada de uma infraestrutura adequada para a movimentação desses produtos de sua origem até o consumidor final. Temos uma matriz de transporte concentrada em modais inadequados para as nossas dimensões territoriais. Até algumas décadas atrás, a infraestrutura foi desenvolvida quase exclusivamente com investimentos públicos. Somente a partir da década de 1990, com o início das privatizações e parcerias entre os setores público e privado, grandes empresas nacionais e internacionais têm, através de contratos de concessão, investido em infraestrutura.
Com esse novo modelo, esperava-se um desenvolvimento mais acelerado, mas, mesmo com a participação do setor privado, os investimentos em infraestrutura estão aquém do necessário. Essa falta de investimentos, ou, muitas vezes, investimentos regionais, sem integração entre eles, faz com que o Brasil possua uma grande desigualdade regional de infraestrutura. Essa carência reflete no encarecimento dos produtos e impacta a competitividade no cenário internacional.
O impacto nos custos do produto final, causado por uma infraestrutura ineficiente, começa na primeira fase do processo, a logística de suprimentos, principalmente de fertilizantes. Cerca de 75% dos fertilizantes, consumidos pelo agronegócio brasileiro, têm origem estrangeira. Temos um déficit portuário muito grande. A falta de eficiência, a improdutividade dos terminais e o calado inadequado são os principais gargalos. Filas de navios e descumprimento de tempos de descarga geram a demurrage, que, já no porto, começa a encarecer o insumo.
O próprio frete marítimo é impactado pela ineficiência portuária, já que os armadores consideram essa variável quando da composição do preço do transporte marítimo. Depois de recebido no porto, o fertilizante precisa ser transportado até as fazendas, cada vez mais distante dos portos de onde o insumo é importado. A malha ferroviária insuficiente e as hidrovias, quase inexistentes, fazem com que o transporte desses insumos seja realizado pelo modal menos eficiente para longas distâncias, o rodoviário.
Depois de processada a cana, o novo desafio é fazer com que o produto acabado, o açúcar e o etanol, saia dos centros produtores e chegue, no tempo certo, aos grandes centros consumidores. A sazonalidade da produção, com períodos de safra e de entressafra, torna a logística mais complexa. É necessária infraestrutura de armazenagem para regular a oferta com a demanda ao longo do ano, para manter uma oferta linear. Essa infraestrutura avançou consideravelmente nos últimos anos, mas ainda é insuficiente. Parte da estrutura fica ociosa na entressafra e sobrecarregada no período de safra. Dos vários modais de transporte do etanol, o mais eficiente, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, é o dutoviário.
Entretanto, a malha de dutos no Brasil é muito pequena e restrita a algumas regiões pontuais. As rodovias, principalmente nas regiões mais remotas, estão, em sua grande maioria, ruins. O sistema ferroviário é insuficiente para a demanda, e o hidroviário quase não existe. Mas, de todos os modais, o problema mais crítico para o agronegócio, inclusive para o açúcar e o etanol, ainda está no sistema portuário, que é muito ineficiente. Em todos os modais, há muito trabalho a ser feito pela frente.
Quando um país disponibiliza uma infraestrutura carente, os produtos tendem a encarecer tanto no mercado interno, prejudicando os consumidores, quanto no mercado externo, prejudicando as exportações, em função da pouca competitividade do produto nacional.Vale lembrar que os investimentos em infraestrutura são fundamentais para o desenvolvimento econômico de um país.
Além de todos os benefícios que trazem ao setor produtivo, aumentando a eficiência e competitividade das empresas, são instrumentos muito importantes para a retomada do emprego e renda. Isso acaba criando na economia um ciclo virtuoso, fundamental para o desenvolvimento do País. Depois de alguns anos de crise, o setor sucroenergético mostra sinais de retomada. Precisamos investir mais em infraestrutura para garantir sua competitividade.