Me chame no WhatsApp Agora!

Marcelo Paes Fernandes

Diretor da Fourteam Engenheiros Associados

Op-AA-45

Aumento de eficiência reduz custos
Copie boas ideias.” Há algumas citações falando de redução de custos, tão boas quanto, mas gosto particularmente dessa. Claro que esse conselho não pode inibir o ímpeto criativo do ser humano, mas tendo cuidado para não cair na tentação da invenção mirabolante, um grande perigo das mentes borbulhantes. O tema desta edição da Revista Opiniões é bem oportuno, mas um pouco redundante, pois, sempre que ocorre o primeiro, ocorre o segundo.

“Aumento de eficiência reduz custos” seria mais apropriado. É assim, simples e fácil, redução de custo sempre é consequência do aumento de eficiência. Ocorre assim em fábricas, escritórios, hospitais, escolas e tantos outros lugares. Como toda regra tem exceção, talvez não se aplique a governos, nos quais redução de custos nunca é bem-vinda. 
Um bom e rápido caminho para aumentar a eficiência é copiar boas ideias, implementando benchmarks, analisando quem é referência no segmento, adotando boas práticas de gestão, sem se esquecer de questionar e duvidar de tudo.

Não há dogmas em administração, que  somente existem nos seculares credos. 
Há inúmeras tecnologias modernas, eficientes, eficazes e de fácil acesso pelas empresas. Porém, de que adianta adotá-las se a empresa não sabe realmente quais são as causas de seus problemas? Algumas vezes, nem os detecta realmente. Como ponto de partida, deveria ser elaborada uma análise sistêmica dos problemas, bem fundamentada em dados e fatos, para, então, descobrir e corrigir as reais causas e não seus efeitos.

Conhecimento e treinamento são dois itens básicos para tal análise. O terceiro, não menos importante, é buscar ferramentas modernas disponíveis que facilitem as tarefas estatísticas braçais e enfadonhas. 
Estamos ávidos para conhecer tecnologias modernas e equipamentos de última geração para aumentar a eficiência da indústria. Há bons exemplos, como desfibradores únicos, camisas perfuradas de rolos moenda, clarificadores sem bandeja, evaporadores com tubos longos, cozedores contínuos, destilação sob vácuo, pervaporação, ciclos generativos de vapor, caldeiras de leito fluidizado, turbo-geradores sem redutor e tantos outros.  

Mas não há caminho mais fácil e curto do que começar verificando a situação real da indústria para identificar os problemas. É raro se ver montar grupos de estudos para fazer brainstorming sobre determinado problema, mas é muito comum as longas reuniões, às vezes tensas, para encontrar os responsáveis pelos erros. De nada adianta ter uma fábrica com equipamentos de última geração se quem vai operá-los não tem conhecimento e treinamentos adequados.

 
Conhecimento acadêmico é imprescindível, complementado com frequentes estudos e cursos de especialização, associado aos saudáveis hábitos de ler livros e de pesquisar na web. Treinamento se logra com perseverança e disciplina, democraticamente difundido pela empresa. Já há algum tempo que nas usinas não vemos mais funcionários atuando na função de evaporador, cozinhador, destilador, mas sim atuando como operadores de sala de controle (COI).

De acordo, mas sempre  quando esses operadores de COI tiverem embasamento, conhecimento de campo, vivência ao lado dos equipamentos e dos problemas operacionais. 
Usinas de países vizinhos estão bem à frente das nossas quanto a esse aspecto, devido à maior oferta de engenheiros que se formam e buscam emprego. Nelas, de operador de painel a supervisor de turno para cima são todos engenheiros, o que facilita a operação e a correção de problemas.

 
Há bons e maus gerentes, não há meio termo. Conhecemos ambos e, com humildade, temos que adotar as atitudes dos primeiros, copiar suas ideias e formas de administração. Temos que estar em evolução permanente, sem lugar para acomodações, lembrando sempre que hoje é melhor que ontem e pior que amanhã. Um bom exemplo de aumento de eficiência na produção de açúcar é adotar a técnica de boas práticas de fabricação, extraindo o máximo possível de açúcar do xarope enviado aosetor de cozimento, compatível com os equipamentos instalados e processos de produção da usina.

Nas usinas, ainda é recorrente o socorro da fábrica de açúcar pela destilaria, no papel de “salva-vidas”. É preciso atentar para o elevado custo dessa prática, já que ocorre em duas frentes: reduz a eficiência de recuperação de sacarose e eleva o gasto com produtos químicos, vapor e energia elétrica. Essa prática deve ser banida definitivamente dos procedimentos operacionais de nossas usinas e deveria ser implantada pelo presidente ou CEO da empresa.

Plagiando Neném Prancha, grande filósofo da bola: “Pênalti é tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube”. Esgotamento do mel deve ser conduzido, respeitando as metas traçadas no plano de safra, sem qualquer desvio injustificável. 
Nas usinas, é costume se denominar, equivocadamente, cristalizadores os tanques que recebem a massa proveniente dos tachos. Na grande totalidade das usinas brasileiras, são apenas depósitos intermediários de açúcar antes da centrifugação, enquanto, mundo afora, o nome de batismo, cristalizadores, é apropriado, pois o processo de cristalização da sacarose solúvel presente no licor mãe avança, dando continuidade ao trabalho dos tachos. 

 
Alguns colegas podem criticar, alegando que esgotamento de mel é coisa do passado, pois a destilaria “salva-vidas” está de prontidão para transformar esse açúcar em álcool. Só não venham cobrar aumento de eficiência e redução de custo. Regra fundamental da fábrica de açúcar: sacarose destinada à fábrica de açúcar deve ser eficientemente convertida em açúcar cristalizado e não em mel para a destilaria. Adote o lema: destinou sacarose para os tachos, produza o máximo de açúcar. Algo como o provérbio português: “Quem pariu Matheus, que o embale”. 
 
Quem envia açúcar para os tachos, que o transforme em cristal. Claro que o plano de safra é dinâmico e sofre alterações durante seu decorrer, principalmente quando há mudanças na relatividade de preços entre açúcar e etanol. E, caso seja mais atrativo produzir este, então a rota correta é destinar mais caldo para a destilaria, e não reduzir a eficiência da fábrica de açúcar desviando méis mais ricos em açúcar, o que aumenta o custo de produção. 
 
Obter a maior eficiência de recuperação de ART é obrigação de todos, certo? Nem sempre, pois a maior obrigação é lucrar o máximo possível, e, muitas vezes, não é maximizando a eficiência de ART que se maximiza o lucro. Isso tem a ver com preços e custos do etanol relativamente aos do açúcar. Dependendo dessa relação, nem sempre se deve operar com a máxima produção de açúcar, o que resultaria  em maior eficiência ART, mas não necessariamente em maior lucro. Lucro é tudo, é aquele que, ao final, pagará as contas e permitirá à usina seguir progredindo.

A missão mor das empresas é maximizar o lucro, e não gerar emprego, renda e bem-estar social, como muitos apregoam. Esses benefícios são como súditos, que virão seguindo sua majestade, o lucro. 
Geração de lucro é o must! Aumento de eficiência e redução de custos de produção são deveres de casa. A prova final é passar com louvor na geração máxima de lucro. E, para tanto, aposte e invista mais nas pessoas e menos nas máquinas.