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Silvio Cézar Pereira Rangel

Presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (FIEMT) e Presidente do Sindicato de Bioenergia de MT

OpAA75

Bioenergia: o combustível do futuro
A produção de bioenergia é um caminho certo e seguro para a retomada do crescimento industrial e, consequentemente, do desenvolvimento econômico do Brasil. Com uma demanda mundial crescente por uma economia de baixo carbono, o País tem a chance de ser protagonista nesse cenário. Nossa bioenergia, produzida em todas as formas – seja biocombustíveis, bioeletricidade, biogás –, pode ser um relevante produto brasileiro no mercado internacional.
 
O mundo vive uma junção de crises energética e climática, gerando uma corrida tecnológica para a consolidação e viabilidade econômica de novas fontes de energia, em especial, as renováveis. Sendo assim, a perspectiva para o setor bioenergético é muito positiva, com o aumento significativo na demanda por fontes de energia alternativas, com baixa pegada de carbono e menor impacto ambiental. A janela de oportunidade está aberta à nossa frente. Essa é uma agenda, sobretudo, de tecnologia, inovação, desenvolvimento econômico e social. 
 
Com um potencial energético verde como nenhum outro lugar do mundo, o Brasil tem um enorme diferencial competitivo, principalmente se compararmos os aspectos de capacidade tecnológica para o aumento de produtividade.  A Agência Internacional de Energia (AIE) considera a matriz energética brasileira uma das mais limpas do mundo e aponta o País como um dos mais capazes de contribuir para a redução do impacto da geração de gases do efeito estufa.

Conforme dados do balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), quase 48,4% da energia produzida no País tem como origem fontes renováveis, como hídrica, eólica, solar, biogás e derivada de cana-de-açúcar, e ainda temos o promissor hidrogênio verde.  Enquanto isso, a média mundial da matriz energética de fontes renováveis é de 13,8%. Para o País ampliar sua participação no mercado de bioenergia, o setor precisa investir em pesquisa e desenvolvimento, buscando soluções para aumentar a eficiência e a sustentabilidade da produção. E isso passa, é claro, por uma política de incentivo do Governo Federal, que já declarou que essa é uma pauta cara e prioritária.  

Etanol - a realidade da transição energética: Como representante do setor e conhecedor dos processos, oportunidades e desafios, posso afirmar que o etanol tem um dos papéis mais importantes na transição energética para a mobilidade urbana, já que pode reduzir em até 70% das emissões de gases de efeito estufa, em relação ao combustível fóssil. Já temos uma indústria forte e consolidada. Somos o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, responsáveis por pouco mais de 50% da produção mundial, enquanto, no Brasil, produzimos cerca de 27% desse biocombustível. Na última safra, foram produzidos mais de 27 bilhões de litros de etanol no Brasil. 

Atualmente, 20% do consumo do setor de transporte brasileiro é de combustíveis renováveis, e a tendência é de crescimento. Vale destacar algumas políticas públicas para incentivo para uso do etanol, como o Programa Nacional do Álcool – Proálcool, criado em 1975, e que contribuiu para impulsionar a produção de bioenergia no País, nas últimas décadas. Esse foi o maior avanço tecnológico da história da indústria automobilística brasileira e nasceu por causa da crise mundial do petróleo. A evolução do programa possibilitou o nascimento de uma tecnologia genuinamente brasileira, o carro flex, que hoje já está em mais de 80% da frota de veículos leves do Brasil.

Nos tempos atuais, também por conta do petróleo, mas em razão dos efeitos nocivos com a emissão de gás carbônico, foi criado um novo mecanismo para a produção de etanol, a Política Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio. Muitos dos resultados positivos dos anos recentes se deram em razão desse programa. 

Lançado em 2018, o RenovaBio é um programa inovador, que reúne incentivos à produção de biocombustíveis e, por consequência, à redução de emissões de gases de efeito estufa, com a mensuração de dados que possibilitam o cálculo aditável dessas informações.

Com a implementação do Crédito de descarbonização de Biocombustíveis (CBIOs), o RenovaBio passou a conter um instrumento financeiro utilizado para medir e creditar as emissões de gases de efeito estufa evitadas pela utilização de biocombustíveis. Instrumento esse que possibilitou investimentos na expansão da produção de etanol orientada em uma transição energética mais eficiente, reforçando o papel dos biocombustíveis na matriz de combustíveis.

A partir da RenovaCalc, a calculadora do Programa RenovaBio, o setor tem investido em novas tecnologias e em aumento de produtividade para ampliar sua eficiência, garantindo uma produção renovável, revertendo políticas públicas em um melhor meio ambiente para o Brasil e para o mundo.

Em um momento em que o mundo discute a regulamentação do Mercado de Carbono global, o RenovaBio é um exemplo de iniciativa inovadora e funcional, com monitoramento, reporte e verificação, além de gerar benefícios e retornos para as reduções de emissões. Basta ao Brasil assumir que o mercado de bioenergia é fundamental, para além da geração de emprego, rendas, investimentos e disponibilidade de biocombustíveis, para a descarbonização da produção brasileira e mundial.

Mercado em crescimento: Somos o maior produtor do mundo de etanol a partir da cana-de-açúcar. E, agora, se soma a esse pujante mercado o etanol que tem como matéria-prima o milho. A produção desse biocombustível vem crescendo com a criação de novas indústrias, especialmente no Centro-Oeste, e a expectativa é de que a safra 2022/23 chegue a 4,5 bilhões de litros. Em Mato Grosso, quase 80% da produção de etanol é de milho. Nosso estado é a prova de que podemos aumentar a nossa produção de bioenergia preservando nosso território, mantendo sua biodiversidade.

Temos uma característica diferenciada pela produção de etanol de milho de “segunda safra”, plantio no mesmo terreno onde a soja foi plantada, sem aumento de novas áreas agrícolas. 

Com essa nova indústria, também temos incrementado a produção de carne bovina, pois, com o resíduo, é produzido o DDG (Grão de Milho Seco por Destilação, em português), composto proteico usado como ração animal e que tem contribuído para aumentar os confinamentos de gado, reduzindo a idade de abate: mais carne produzida sem aumento de área para a pecuária.  

E Mato Grosso já está desenvolvendo novas tecnologias para o incremento da geração de bioenergia no Brasil. Investimento relevante está na produção de biogás e biometano a partir da vinhaça gerada nas indústrias de etanol. O primeiro componente gera energia elétrica, e o segundo substitui o diesel nos automóveis, contribuindo ainda mais para a descarbonização. 

Nos tempos atuais, o crescimento econômico deve estar atrelado a uma agenda de sustentabilidade ambiental. Por isso o Brasil tem chance de ser protagonista nessa nova agenda econômica mundial. 

Para a indústria, não se trata apenas de vender uma imagem boa para o resto do mundo. Essa não é apenas uma agenda ambiental, essa é uma agenda de inovação. Trata-se, especialmente, de desenvolvimento econômico e, consequentemente, social. Mais dinheiro, mais emprego, melhor renda para a população. Todos saem ganhando, setor produtivo, tanto agropecuária quanto industrial, população, nação e o mundo.