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Álvaro Sanguino

Gestor de P&D do Programa de Fitossanidade do CTC

Op-AA-05

Alertas sobre doenças na cultura da cana-de-açúcar

Na cultura da cana-de-açúcar no Brasil, existem numerosos exemplos de ocorrência de doenças, que provocaram grandes prejuízos e exigiram a rápida substituição de importantes variedades, que vinham sendo cultivadas. Como exemplos mais recentes, temos na década de 1980, a epidemia do carvão, que ocorreu na variedade NA56-79, e na década de 1990, o amarelinho, sobre a variedade SP71-6163.

Diversos fatores, como a propagação vegetativa, a dimensão da área ocupada por uma única variedade e o período relativamente longo que a lavoura permanece na área, favorecem a multiplicação e a disseminação dos patógenos. O controle das principais doenças da cana-de-açúcar deve ser feito sempre de forma preventiva, através do uso de variedades resistentes ou ainda com uma tolerável suscetibilidade a essas doenças.

As informações sobre a resistência ou a suscetibilidade de uma variedade, em relação às principais doenças, fazem parte do dossiê descritivo da variedade, que é fornecido pelo programa de melhoramento varietal, responsável pela liberação da variedade. Aliados ao uso das variedades, a formação de viveiros de mudas, o “roguing” e o uso da hidrotermoterapia também são práticas preventivas adotadas para evitar a propagação de doenças, pois será praticamente impossível, obter, numa única variedade, as características de resistência para todas as doenças.

Devemos lembrar, que doenças como o carvão, a ferrugem, o mosaico e a escaldadura só não representam, atualmente, perigo potencial para a cultura, porque a grande maioria das variedades utilizadas possuem boa resistência. A mudança deste cenário, com o aumento das áreas com variedades suscetíveis a uma ou mais destas enfermidades, ou o uso de mudas de baixa qualidade, poderão representar perdas futuras maiores que as vantagens obtidas com o uso dessas variedades ou mudas.

Para evitar que doenças exóticas, tais como a doença de Fiji e a ferrugem alaranjada, possam ter acesso aos nossos canaviais, deve-se respeitar um rigoroso processo de quarentena, na introdução de variedades estrangeiras. Além destes cuidados, o programa de melhoramento do CT doenças exóticas, nos países onde elas ocorrem.

As epidemias de determinadas doenças podem ser motivadas, muitas vezes, pelo desconhecimento do assunto, dificuldade econômica, esquecimento dos problemas anteriores causados pelas doenças ou por não se acreditar que tais problemas possam se repetir. Posto isso, podemos, sem dúvida, afirmar que novas epidemias de doenças já conhecidas ou desconhecidas no país só ocorrerão se negligenciarmos totalmente as técnicas fitossanitárias atualmente existentes.

Variedades suscetíveis, quando em pequenas áreas, podem passar anos ou mesmo nunca serem afetadas pelas doenças, mas, quando ocupam áreas significativas, aumentam a probabilidade dos patógenos encontrarem o local de infecção, multiplicarem rapidamente a sua população e, por conseguinte, atingirem novas plantas ou novas áreas.

Em momentos de crise econômica, é comum serem efetuados cortes, ou mesmo eliminação de metodologias agrícolas nas quais os benefícios são de difícil quantificação em curto prazo. Este é, sem dúvida, o caso da formação de viveiros de mudas, tratamento térmico e o roguing, onde são esquecidos importantes preceitos de controle de doenças e, principalmente, que o fator mais importante para a produtividade e longevidade do canavial está relacionado com a qualidade das mudas, pois, somente canaviais formados com touceiras vigorosas e sadias responderão satisfatoriamente às adubações e tratos culturais efetuados e resistirão mais às variações climáticas e operações de colheita.

O aumento da produção de propágulos (inóculo) dos patógenos nos canaviais, além de causar problemas nas variedades suscetíveis, representa perigo potencial para outras variedades, pois é maior a probabilidade de que organismos mutantes possam ter sucesso na infecção em variedades anteriormente resistentes e, com o aumento rápido deste inóculo, provocar epidemias sobre estas variedades.

O inevitável advento da colheita mecanizada da cana crua representará, sem dúvida, condição favorável de manutenção de inóculo das doenças foliares e de ambiente favorável para o desenvolvimento de pragas e doenças, que anteriormente não tinham importância econômica devido à queima do canavial. Esta condição fará com que as variedades tenham um estágio inicial das doenças foliares mais severo, pois, o fogo atua como eliminador dos patógenos.

Maiores danos podem ocorrer e serão comuns os agravamentos de problemas causados por doenças do tipo mancha parda, ferrugem, mancha ocular e estrias vermelhas. As doenças bacterianas sistêmicas, como o raquitismo da soqueira e a escaldadura, que são disseminadas durante os cortes, poderão ter seus efeitos aumentados rapidamente pelo corte mecânico, principalmente sobre variedades suscetíveis.

Deve-se lembrar que estas doenças são facilmente controláveis pelo uso de mudas sadias e práticas de desinfecção de instrumentos agrícolas, mas, uma vez instaladas numa lavoura, são de difícil eliminação ou demandam muito trabalho e investimento. Considerando os diversos fatores, pode-se concluir que somente a prevenção pode evitar os prejuízos causados pelas doenças da cana-de-açúcar. Medidas a serem adotadas, como a escolha correta das variedades, o conhecimento das principais doenças que ocorrem na região, um programa de multiplicação de material sadio, com a formação de viveiros de mudas com alta qualidade fitossanitária e a desinfecção de instrumentos agrícolas, podem evitar futuras epidemias com resultados imprevisíveis.