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Edegar de Oliveira Rosa

Coordenador do Programa Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil

As-AA-16

Baixo Carbono
O setor sucroenergético tem uma participação significativa na oferta de energia no Brasil. Soma-se à sua relevância, a chancela de deter mundialmente a maior produção e exportação de açúcar. Além do álcool hidratado, álcool anidro e bioeletricidade, que já representam uma importante contribuição para uma matriz energética brasileira de fonte renovável, o setor está viabilizando o desenvolvimento de uma indústria de produtos inovadores que podem diminuir ainda mais a nossa dependência de produtos petroquímicos, como o bioplástico, o querosene de aviação, o biodiesel e o etanol de segunda geração – estima-se que já seja possível produzir 68 tipos diferentes de produtos oriundos da cana-de-açúcar. 
 
Apesar da contribuição para uma economia de baixa emissão de carbono, o desafio da sustentabilidade no setor sucroenergético está em como garantir a produção da matéria-prima minimizando os seus impactos ambientais. O setor já apresenta uma série de iniciativas que contribuem para a minimização desses impactos, destacando-se: 
• o zoneamento agroecológico da cana, que delimita a expansão do setor para áreas aptas à produção, excluindo áreas de vegetação natural. Uma política de desmatamento zero, acordada entre iniciativas pública e privada;
• o Bonsucro, mesa redonda global que desenvolveu um sistema de certificação para o setor e que tem a sua adoção liderada pelas empresas brasileiras – 43 usinas certificadas;
• os compromissos com a redução da queimada da cana para colheita, antecipando os prazos estabelecidos por lei.
 
Além de fortalecer as iniciativas acima, precisamos avançar mais rumo à sustentabilidade, incluindo questões trabalhistas (como jornada de trabalho, infraestrutura para os trabalhadores, segurança do trabalho); o uso de agroquímicos (como uso de fertilizantes e manipulação de agrotóxicos) e a adequação ao código florestal.
 
A produção de cana-de-açúcar está baseada em regiões já consolidadas onde o passivo ambiental frente ao novo código florestal é grande. A efetiva implementação do novo código é chave para a manutenção e ampliação de serviços ecossistêmicos nessas regiões. 
 
O setor, em função da concentração e tamanho, pode liderar o processo de restauração/compensação de áreas de vegetação natural, de forma a otimizar a conservação de serviços ecossistêmicos e a produção agrícola, promovendo o diálogo não só entre organizações do setor, mas ampliando a discussão para outros setores, bem como um planejamento e reordenamento da paisagem onde está inserido.

O setor tem a possibilidade de fortalecer ainda mais a indústria da restauração florestal (em 2013, existiam aproximadamente 55 viveiros de espécies nativas ligados às empresas do setor), provendo uma restauração mais barata e mais efetiva. Além de fomentar serviços ligados à restauração, é importante prover acesso ao banco de sementes de espécies nativas, importantes para a restauração do ecossistema local, existentes em propriedades de produtores de cana-de-açúcar.
 
Melhorar o sistema produtivo e a rentabilidade dos produtores fornecedores de cana- -de-açúcar também é fundamental. Eles precisam ter acesso às tecnologias de produção mais eficientes e melhorar a sua gestão socioambiental e econômica. A Orplana, organização que representa 33 associações de fornecedores, vem se engajando nesse tema e levando essa discussão para seus associados.

Neste ano, conseguimos o primeiro grupo de produtores no mundo com um sistema de gestão de qualidade socioambiental, reconhecido pelo sistema de certificação Bonsucro – a Assobari (Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Bariri). Ampliar essa experiência para outros produtores e associações é chave para melhorar a performance socioambiental do setor.
 
Por outro lado, o governo também tem seu papel. É fundamental o estabelecimento de políticas mais claras e de longo prazo que valorizem uma matriz energética renovável, incluindo biocombustíveis com os maiores potenciais de redução de emissões. Também é importante promover o desenvolvimento tecnológico para etanol de segunda geração e mecanismos para estimular as empresas a utilizarem o potencial de bagaço e palha para a produção de bioeletricidade, facilitando o acesso ao mercado dessa fonte.

Os desafios em relação à sustentabilidade e o desenvolvimento do setor vão se tornar ainda maiores em um contexto futuro de recuperação do setor com o retorno da expansão acelerada da área agrícola. Após alguns anos sofrendo com os preços internacionais e com uma política equivocada ambientalmente de subsidio à gasolina – limitando o consumo de etanol –, a perspectiva futura para o setor é de retomada de crescimento. Nesses momentos, a atenção às questões socioambientais deve ser redobrada.