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Rodrigo Lopes Almeida

Diretor de Assuntos Corporativos da Monsanto

Op-AA-11

Os bons ventos nos canaviais

O auto desafio que se impôs ao governo Bush de, em 10 anos, substituir 20% da gasolina consumida atualmente, por combustíveis renováveis, é uma oportunidade de ouro para nós, brasileiros. Com 30 anos de experiência em um programa destinado à produção de etanol - Proálcool, e cerca de 300 usinas produtivas atuantes, o Brasil sai à frente entre um dos prováveis fornecedores do mercado norte-americano, ele próprio sem condições internas de responder ao desafio.

Apoiado em uma matriz produtiva madura, o Brasil tem o etanol como resposta imediata. Pode expandir sua capacidade de fornecimento e ainda torná-la sustentável, por meio de parcerias estratégicas. Dispomos, atualmente, de uma produção estimada, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 469,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, plantadas em 6,2 milhões de hectares, com o que lideramos a produção mundial, em um ranking de 200 produtores. Não por acaso, o Brasil foi chamado recentemente pelo The Wall Street Journal como “a Arábia Saudita do Álcool”.

Da produção anual de cana-de-açúcar, 50% têm ido para a produção de etanol, que hoje atinge cerca de 4 bilhões de galões/ano. Para o mercado externo, temos destinado um percentual de 10% do etanol produzido. Percentual, no entanto, que pode ser elevado no curto prazo, se pensarmos que a indústria automobilística brasileira já se preparou para o uso alternativo de gasolina/etanol/gás (tecnologia flex), em nossos veículos.

Fora isso, nossos diplomatas já se movimentam para discutir a padronização global do etanol, com o que o produto se tornaria uma commodity, competindo diretamente com o petróleo. Fala-se de uma primeira reunião, nos Estados Unidos, antes mesmo da vinda de George W. Bush ao Brasil, a partir de 8 de março, quando incluirá o assunto, em sua agenda com o presidente Lula.

Temos ainda a declaração do subsecretário de Estado americano para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, de 11 de fevereiro, de que juntos “Brasil e Estados Unidos podem estimular a produção de etanol na América Central, no Caribe e na América do Sul. Se há um mercado global para gás e para petróleo, por que não um mercado global para o etanol? Se a demanda aumentar no mundo, é bom para o Brasil e é bom para os EUA. Isso vai estimular a produção em nossos países e trará benefícios ambientais globalmente”. Um incentivo e tanto às nossas pretensões, em relação ao etanol.

Não podemos nos esquecer de que, não bastasse a supremacia no etanol, também somos grandes produtores de grãos oleaginosos, como a soja, o girassol e a mamona. O uso do óleo vegetal pela transesterificação – que resulta 80% de biodiesel – já se comprovou eficiente. O Brasil estuda, agora, o uso desses óleos como biocombustíveis diretos, um trabalho em que a Embrapa vem se dedicando com afinco. Os Estados Unidos fundamentam, hoje, sua produção de etanol, no milho.

Assim, a nossa diferenciação, como fornecedor internacional de biocombustíveis, provenientes de grãos de oleaginosas, também se manteria. Há mais de 50 anos, a Monsanto vem acompanhando de perto a evolução da agricultura brasileira, fornecendo avançadas ferramentas em sementes, herbicidas e tecnologia para os agricultores.

No atual momento, em que o país se destaca como modelo de matriz energética renovável, também investimos em soluções de biotecnologia e em produtos convencionais, voltados para uma agricultura sustentável, que pratica o plantio direto, reduz aplicações de agroquímicos e na busca de uma maior produção por área plantada, contribuindo para a preservação de áreas nativas.

O importante é que, no afã de buscar o aumento de produção, tanto no caso da cana-de-açúcar, como no de oleaginosas, não nos descuidemos do meio ambiente, ampliando fronteiras agrícolas, de forma desordenada, ou utilizando técnicas de manejo exauridas. Seria uma trágica ironia, se essa demanda mundial por energia limpa viesse contribuir para desequilibrar ainda mais a nossa matriz florestal. Temos que produzir maiores volumes, sim, mas via tecnologias de ponta, que resultem em maior produtividade e, ao mesmo tempo, menor agressão ao meio ambiente.

A recente divulgação de relatório da ONU sobre aquecimento global, com certeza, terá o efeito positivo de levar os governos e as sociedades a se preocuparem mais com a saúde do planeta. A recém lançada Política de Desenvolvimento da Biotecnologia demonstra a importância que o governo brasileiro está dando ao desenvolvimento de plantas resistentes a pragas e a condições adversas de clima.

Com o crescente uso da biotecnologia na agricultura, as lavouras brasileiras passarão a se proteger biologicamente, diminuindo o uso de agroquímicos e assim contribuindo para proteger a saúde dos agricultores e o meio ambiente. Especialmente no caso das plantações brasileiras de cana-de-açúcar, temos analisado a possibilidade de parcerias para intercâmbio de tecnologias com empresas e instituições públicas de pesquisa, visando garantir aos agricultores do setor sucroalcooleiro, a busca de melhores soluções para os canaviais.

Acreditamos que, neste momento, em que se descortinam tantas oportunidades para o Brasil, em relação ao mercado mundial de energia limpa, proveniente de recursos renováveis, o importante é permanecermos atentos ao foco Brasil. Um país só se torna desenvolvido de verdade se, além dos recursos econômico-financeiros que possa acumular, puder preservar o seu patrimônio do meio ambiente e garantir saúde, educação e bem-estar aos seus cidadãos. Que os bons ventos dos biocombustíveis fortaleçam-nos nesta direção.