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José Alexandre Melo Demattê

Professor de Geoprocessamento da Esalq-USP

Op-AA-24

A geotecnologia no planejamento e desenvolvimento da cana

Com a agricultura em larga escala e a necessidade da informação com rapidez e agilidade, o planejamento tornou-se ainda mais importante, pois pode definir o futuro de uma unidade de cana. Como apoio, surgiu uma série de equipamentos e técnicas: as Geotecnologias. Desde 1930, sabe-se que a fertilidade do solo variava numa mesma área, mas, como não havia, na época, tecnologia para aplicação de fertilizantes de maneira pontual, praticava-se o sistema em larga escala, como o conhecemos até hoje.

No início dos anos 80, americanos perceberam que as plantas variavam quanto ao vigor numa mesma área. Agora, com o GPS, seria possível instalar o equipamento num trator e realizar aplicações em taxa variável e avaliar a produtividade. A geotecnologia auxiliou no surgimento da Agricultura de Precisão. Em outra ponta, corria o sensoriamento remoto (SR).

Em 1972, ocorreu o grande impulso, com o satélite Landsat. A comercialização das imagens iniciou-se em 1990, época em que se começa a ampliar o uso de computadores no Brasil. Havia um indicativo de que a velocidade de processamento de dados seria 7 vezes maior. Em 2005, com o advento do Google Earth, as imagens se popularizaram.

Outra variável, os sistemas de informação geográficos (SIG), estava em processo. A previsão da aceleração da aquisição das informações se cumpria. Todos esses processos, entretanto, andavam em paralelo. A necessidade da visão espacial (geo) na área agrícola começava a ganhar força. Não se tratava apenas da avaliação de tabelas, mas dos dados tabulados no espaço, transformando a informação pontual em espacial, ganhando o caráter de estratégia (mapas temáticos).

Como a avaliação da informação na agricultura está ligada às variáveis da natureza, observou-se, então, a necessidade de se obter informações históricas das áreas, para se planejar as práticas agrícolas. Era o início do conceito de Bancos de Dados. Da história para a prática: a identificação de manchas dentro de um talhão com cana por SR é uma realidade.

O uso de imagens pode identificar tais variações, embora exija cautela, pois há muitas variáveis que interferem nos tons de tais imagens. Daí a importância do conhecimento campo versus imagem, acoplados a um banco de dados e avaliados por um SIG. As imagens de satélite podem, assim, ser utilizadas, tanto na avaliação do solo quanto da planta.

No quesito solo, as imagens auxiliam no mapeamento, dando base para a obtenção dos ambientes de produção. As pesquisas indicam que é possível relacionar a textura superficial do solo por SR. Como a informação é da camada superficial, integra-se ao sistema o chamado Mapea-mento Digital de Solos, cujo conceito agrega o relevo. Há pesquisas estudando o uso de radares portáteis e sensores gamaespectrométricos na definição da variação da profundidade do solo.

As imagens estão com resoluções cada vez melhores, novos satélites estão sendo lançados, incluindo os hiperespectrais. A estratégia do uso de imagens e sensores pode ser realizada via planta, como determinação do stress hídrico, alterações nutricionais, estimativa da produtividade e monitoramento. Entretanto existe uma questão prática importante. A quantidade de informações que vem sendo gerada é grande, havendo a necessidade dos SIG e pacotes estatísticos.

Há avanços nessas linhas, mas o sucesso está vinculado à integração da experiência de campo. Existem fortes indicativos entre nutrição e espectro da planta. A agricultura atingiu um limite que só pode ser sobreposto com o apoio das geotecnologias. São consideráveis, por exemplo, as vantagens do uso de imagens como apoio na escolha de áreas para implantação e expansão das usinas. 

Algumas pesquisas seguem a linha da quantificação do solo por sensores em laboratório. Quando instalados nos tratores, o objetivo é obter a informação da análise do solo em tempo real (tomando como padrão os dados obtidos em análise de laboratório) e aplicação do insumo de forma imediata. Trata-se de algo complexo e talvez um pouco distante, mas que vem sendo investigado.

Não há dúvida de que o custo é um fator que impede popularização dessas técnicas. Mas ele somente será reduzido se for ampliada sua utilização. Voltemos à história. A agricultura no setor canavieiro evoluiu graças a décadas de experimentação. Hoje, é largamente utilizada no campo a vinhaça (antes jogada fora), a torta de filtro e o gesso agrícola (que era dado de graça).

As exatas dosagens e o correto manejo desses produtos foram determinados graças à experimentação pelas unidades canavieiras. Mesma atitude espera-se do uso de geotecnologias? Como entender os resultados, calibrar e apreender e desenvolver seu uso? Seguindo a mesma linha, certamente será através de experimentos, tendo como objetivo averiguar o que é ou não possível e ajustar os padrões à realidade.

É preciso integrar a experimentação com os dados históricos, objetivando entender os resultados e dar um salto para o futuro. Nesse ponto, o Brasil tem o que há de mais importante, comparado a outros países: a matéria-prima básica, que são terra e clima. Pesquisadores da Europa e Austrália têm fortemente buscado parcerias com o Brasil para experimentação das geotecnologias. Observa-se que está em movimento o processo de convergência de todas as áreas das geotecnologias, que, integradas aos conhecimentos tradicionais de manejo, certamente nos levarão ao primeiro lugar na agricultura mundial.