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Luciano Medeiros Prado

Superintendente de Agronegócios do Banco Votorantim

Op-AA-23

Novas perspectivas para o setor sucroalcooleiro

O processo de internacionalização provoca importantes mudanças no mercado de biocombustíveis, dando muito mais força e velocidade ao movimento de consolidação e verticalização. O aumento da fatia do capital estrangeiro, que já supera os 20% da moagem, com participação relevante em 4 dos 7 maiores players, é inevitável e tem provocado uma reação inicial favorável por parte do mercado financeiro.

Além disso, o recente anúncio da joint venture da Cosan constitui um marco histórico, materializando um desejo antigo do setor: o ingresso vigoroso de uma gigante petroleira. Mas, afinal, o que move essas grandes multinacionais? Certamente, uma combinação de fatores, dentre os quais destacamos:

Oportunidade: ativos altamente atraentes, com possibilidades de retorno, claro potencial de crescimento e consolidação – dada a elevada fragmentação;

Acesso ao mercado: somos o país mais bem posicionado para atender à demanda mundial;

Vocação: temos experiência, recursos naturais disponíveis e capacidade de expandir rapidamente a produção;

Fundamentos macroeconômicos: somos, indiscutivelmente, o preferido do investidor estrangeiro.

Além de contribuir para o amadurecimento do setor sucroenergético, podemos pensar nos seguintes efeitos da internacionalização:

Capacidade de competir: elevação do grau de sofisticação na gestão de risco, inteligência de mercado, escala e competitividade, além de acesso a mercados;

Infraestrutura: Acesso a tecnologia e investimento em infraestrutura com incentivo à biotecnologia;
Sinergias: criação de valor através da integração;

Transformação do Etanol em commodity: para amenizar solavancos nos preços e possibilitar a celebração de contratos (financiáveis) de longo prazo. Porém questões como ausência de um mercado internacional estabelecido, protecionismo, certificação, oferta contínua em grande escala por vários países, ciclicalidade e estrutura logística persistem como preocupações, que exigirão empenho máximo e maior coordenação do setor.

Que mudanças visualizamos na percepção de risco do setor a partir do que foi descrito, do ponto de vista do mercado financeiro? A maioria dos agentes financeiros opera com regras parecidas para concessão de crédito ao setor, que levam em conta aspectos quantitativos e qualitativos e são baseadas nos seguintes pilares:

Conceito: experiência em negócios, relacionamento, gestão e governança;

Desempenho Operacional: agrícola e industrial, e

Desempenho Financeiro: capacidade de pagamento, bancabilidade, acesso a capital e estratégia financeira. Ajustados pela complexidade, imprevisibilidade de resultados e heterogeneidade do segmento.

Feita a consideração, acreditamos que a internacionalização pode afetar positivamente as seguintes métricas creditícias:

Melhora na classificação de rating: geralmente, as operações de M&A (do inglês Fusões & Aquisições) são acompanhadas por medidas de saneamento financeiro: aporte de dinheiro novo e/ou pagamento das dívidas mais onerosas de curto prazo. Essa mudança na estrutura de capital tem conferido maior musculatura e fôlego financeiro às usinas. Em alguns casos, essa melhora é também fruto de um plano de capitalização envolvendo desmobilização de ativos; em outros, pelo fato de o novo controlador ter sua atividade preponderante fora do setor sucro, propiciando os benefícios da diversificação do risco.

Gestão: commodity é custo. Portanto competência em gestão é vital. Mesmo reconhecendo diversos avanços na profissionalização de diversos grupos brasileiros, a crise colocou a questão em evidência, exigindo uma gestão mais dinâmica, própria de organizações empresariais em oposição às administrações familiares.

Maior disciplina financeira:  A crise de 2008 não foi indolor para o setor, marcado por uma depuração sob a forma de algumas recuperações judiciais. Austeridade financeira e planejamento com contenção dos excessos poderão evitar o ciclo vicioso observado na crise. Nesse sentido, a possibilidade de acesso a capital das múltis pode significar um diferencial.

Só saberemos os principais resultados da internacionalização no futuro. No entanto, apesar das sequelas da crise, dos riscos da atividade e dos desafios pendentes, temos uma expectativa positiva para o setor devido à manutenção dos seus fundamentos. Com a volta da rentabilidade, melhores condições do mercado de capitais e pelo efeito positivo de várias reestruturações – operacionais, societárias e financeiras –, vislumbramos a normalização do crédito ao setor, agora não mais unicamente brasileiro, mas mundial.